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        O Perigo já trata de me esperar na frente de um galpãozão, me aproximo dele e o gato já segura a minha mão, entramos juntos, ele todo marrudão, posturadão, e eu aqui, tentando manter a postura de séria, mas o máximo que eu consigo é parecer um ratinho assistado.

          Tudo começou e eu aqui abraçada no braço do Leonardo, ele todo posturadão e eu aqui parecendo uma criança assustada, o TT tá do meu outro lado, também todo marrudão, o BR do outro lado do galpão com a Érica, preciso nem falar né?!

            Um cara lá qualquer batendo boca com o cara lá que tava fazendo o auê, o Perigo, o TT e o BR apenas observando tudo calados, o cara que está batendo boca parece ser o chefão, eu sei lá, não conheço nenhum deles, eu não sei nada de nada, e muito menos estou entendendo merrecas do que eles estão discutindo, são tantas gírias e tantos palavrões, fica difícil entender alguma coisa assim.

TT: você não está entendendo nada né?- pergunta baixinho e eu confirmo com a cabeça.

Perigo: não tem que entender- fala sério e eu olho para ele.

TT: cavalo do caralho- fala olhando para o Perigo.

Perigo: eu só não quero envolver ela em tudo isso- fala e me olha- é o melhor para a segurança dela.

TT: o melhor para a segurança dela era ter ficado em casa- fala e eu já respiro fundo.

       Olho tudo à minha volta e vejo uma mulher me encarando atenta, ela está vestindo uma calça de couro, um body preto com um belo de decote, uma jaqueta de couro e um coturno nos pés, o cabelo bem preso em um rabo de cavalo, uma maquiagem bem feita.

         Ela tem uma postura de quem está no comando, de rainha, chefe de tudo, e provavelmente seja mesmo, o que não pode ser uma coisa boa para mim, já que todos os outros estão prestando atenção na discussão, e ela está prestando atenção em mim, aí meu papai do céu, é hoje que eu vou morrer.

Perigo: não encara- fala baixo me olhando.

Eu: ela está me assustando- falo e ele nega com a cabeça.

Perigo: ela é de boa, só quer te conhecer- fala e olha para a moça e depois volta a atenção para a discussão.

- Perigo, tu tem a voz- fala e ele segura firme a minha mão.

Perigo: não tem o que falar, se ele é o crime, ele sabe muito bem das regras da facção, ele não bateu só na mulher dele não, ele enforcou a minha mulher, quis partir para cima da minha mulher- fala e geral me olha.

- Mulher? Até um dia desses você estava solteiro- outro homem fala e o Perigo da de ombros.

Perigo: a minha vida pessoal não é da conta de ninguém aqui- fala sério.

- Perigo, que sentença você daria?- pergunta e o Perigo dá um passo à frente.

Perigo: por mim ele tinha que levar um surraz mas uma surra bem dada, depois receber uma visita dos papa cu e logo depois fazer ele cavar a própria cova- fala e o cara que eu acho ser o chefe confirma com a cabeça.

- Eu não poderia escolher sentença melhor- fala e pega dois bastões de madeira de dentro de um latão cheio de água, ele vai na direção da Érica entrega um para ela, logo ele vem até mim e me estende o outro- pega- fala me olhando sério.

Perigo: pega logo essa porra Carolina- fala e eu nego com a cabeça.

Eu: eu não posso fazer isso- falo e os dois respiram fundo.

- Eu não vou te obrigar, dessa vez, Perigo- fala e estende o bastão para ele que pega.

          O Perigo vai até o cara no meio da roda em que estávamos, estica o pescoço para os lados se alongando, ele segura o bastão com mais firmeza e já desce a madeirada no cara, ele foi com tanta força, com tanta vontade, que eu até cheguei a me assustar.

TT: calmo, não se assusta, continua na postura, não demonstra fraqueza, depois vocês dois conversam e resolvem isso- fala baixinho sem me olhar.

            Eu respiro fundo e fico observando tudo atenta, logo a Érica vem também e o Perigo até se afasta para deixar, e ali eu vi ela descontar toda a raiva dela, vi ela se vingar daquele que a causou tanto mal durante todo esse tempo.

            O Leonardo me olha atento e vem na minha direção, ele devolve o bastão para o lugar dele e vem ficar do meu lado, ele fica olhando toda a cena calado, apenas prestando atenção em tudo, quando a Érica de cansou de bater no cara, uns dois caras foram terminar o o problema dela.

- Já podem acionar os papa cu- fala alto e os caras param de bater.

Perigo: vamos lá para fora- fala pegando a minha mão.

         Saímos do tal galpão e ficamos parados na parte de fora, nós cinco, eu, o Perigo, o BR, a Érica e o TT, os outros que estavam lá dentro também estão aqui fora, se reuniram em alguns grupos para conversar.

         O homem que eu acho ser o chefe e a moça que estava me encarando saem do galpão, eles olham em volta e quando nos acham os dois vem andando na nossa direção, o Perigo me puxa mais para ele, passando o braço pela minha cintura. Eu estou parada na sua frente, de costas para ele, apenas conversando com a Érica para ter certeza que ela está bem.

- Leonardo- fala fazendo um toque com o homem atrás de mim.

Perigo: a sua bença padrinho?- pede a benção e eu olho para eles dois confusa- bença madrinha- pede cumprimentando a moça com um beijo no rosto.

- Então essa que é a famosa Carolina?- pergunta me cumprimentando com um aperto de mãos- a Rosa me falou bastante de você- fala e eu forço um sorriso.

Perigo: branca, esse é o Lobão, meu padrinho, e essa é a rainha- fala e ela me cumprimenta com um beijo no rosto.

Eu: padrinhos?- pergunto confusa.

Rainha: batismo- fala e eu olho para o Leonardo confusa, não sabia que ele é batizado- você é ainda mais linda do que a Rosa nos falou, mas tem que criar pose de patroa, não abaixar a cabeça, tirar essa cara de ratinha assustada, arrumar a postura- fala e eu confirmo com a cabeça.

Lobão: eu e a Bianca queremos marcar um almoço lá em casa para conhecer melhor você, sábado está bom para você?- pergunta e eu olho para o Leonardo que dá risada.

Perigo: perfeito, vamos chegar lá umas onze da tarde- fala e eles confirmam com a cabeça.

         Eles começam a conversar e eu aqui só pensando, na onde é que eu estou me metendo, mas já que estamos na chuva é para nos molharmos, e é isso que eu vou fazer, não tenho outra saída mesmo.

           Não demora muito e eu chamo o Leonardo para ir embora, afinal, querendo ou não amanhã eu trabalho, e sendo assim, eu vou ter que

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