18. LIGAÇÕES

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Anatomy - Kenzie
"É apenas anatomia, você é apenas metade de mim
Mas ainda assim, você não me conhece de verdade
Você tem sido minha peça perdida, então por que você não está sentindo minha falta?
Acho que eu significava menos do que eu pensava
Odeio que você seja metade de mim."

Alerta de gatilho: menção a crise de ansiedade.
Caso se sinta afetado de alguma forma, pare a leitura ou pule o quanto for necessário.

Any

Quando meu telefone tocou, Josh e eu estávamos rindo em uma conversa sobre nossas comidas preferidas.

O loiro percebeu a mudança do meu semblante ao encarar a tela do celular. Seu sorriso também desapareceu.

— O quê foi? — perguntou apreensivo.

— É minha mãe. — Engoli em seco. — Se importa se eu sair para atendê-la?

Ele balançou a cabeça e então, atravessei a porta do quarto e a fechei. Respirei fundo antes de clicar no botão verde.

— Oi, mãe. O que quer dessa vez?

— Any, por favor — Priscila enunciou em um tom que eu já conhecia muito bem. — Eu não vou mais te impedir, mas... por favor, vamos conversar como 2 adultas. Como mãe e filha.

— Eu não acho que tenhamos muito o que conversar — admiti. — Eu não vou voltar e... se não vai me impedir, ótimo. Era o que deveria ter feito desde o princípio.

— Você não se sente mal em deixar sua própria mãe sozinha? Simplesmente sair, largar tudo para trás só por conta de um sonho idiota?

— Um sonho idiota? É o meu sonho, mãe!

— Tá bom, tá bom... mas você tinha todas as oportunidades nas suas mãos. Não sabe quantas pessoas morreriam para ter o que você tinha? A melhor bolsa, nas melhores condições e na melhor faculdade possível.

Eu sabia o que ela estava prestes a fazer. Como ainda não havia conseguido fazer com que eu voltasse para casa, Priscila usaria da manipulação e dissimulação para me convencer. Odiava admitir, mas aquela não era a primeira vez que isso acontecia.

Desde a minha infância, sempre fui acostumada a seguir suas ordens e nunca questioná-las. Aquela era de fato a primeira vez que tomara as minhas próprias decisões e não voltara atrás delas. E nada me faria mudar de ideia.

— Quando vai entender que eu não ligo para nada disso!? — vociferei. — Tudo o que eu queria era ter você, Priscila, me apoiando nessa decisão. No fundo, você sempre soube que eu nunca iria ser advogada! Por que não aceita isso de uma vez por todas e assume um papel de apoio pela primeira vez em sua vida!?

As verdades que saíram da minha boca pareciam mais machucar a mim do que a ela. Por isso, senti minha garganta dar um nó e meus olhos se encherem d'água.

Mesmo tendo certeza de minhas decisões, o fato de que Priscila era a minha mãe ainda me destruía. Eu a amava, com toda certeza, mas não podia aceitar todas aquelas besteiras por tanto tempo.

— Parece que não vai adiantar mesmo falar com você, certo?

— Não, mãe, não vai. — Tentei engolir as lágrimas, mas suas próximas palavras fizeram-as voltarem com veemência.

— Eu só queria ter a minha filha de volta, Any... mas parece que ela se perdeu — Priscila falou em um tom de decepção, e desligou.

Automaticamente, deslizei por toda a parede e me encolhi no chão gelado. Por alguns segundos, esqueci de tudo à minha volta e só foquei em tentar me acalmar. Minha respiração estava começando a se descontrolar e meu corpo tremia um pouco.

Room 369 | BeauanyOnde histórias criam vida. Descubra agora