Uma lição do 8º ano

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Millie abriu a porta e fez um gesto indicando que o amigo entrasse

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Millie abriu a porta e fez um gesto indicando que o amigo entrasse.

— Te espero aqui fora — ela disse.

Michael assentiu, entrou na enfermaria e fechou a porta.

O lugar era bem pequeno, aproximadamente o tamanho de um quarto. As paredes eram feitas de vidro e meias-paredes brancas as ornamentavam. No meio da sala, havia uma mesinha branca hospitalar e, à sua frente, um espelho de corpo inteiro. Por fim, nos cantos, havia várias estantes contendo produtos medicinais.

Michael foi até uma das estantes, abriu e procurou por alguma coisa bem grande e afiada para que ele pudesse cortar o braço do cadáver fora. Acabou encontrando uma serra cirúrgica específica para amputação. Pegou e se dire­cionou ao defunto.

Foi serrando, com um pouco de dificuldade, o braço do cadáver. Estava meio chatinho, afinal os ossos e as cartilagens eram bem resistentes. Um sinal bom, porque o órgão era de boa qualidade. Depois de um tempo, conseguiu arrancar o braço por completo.

Pegou sua caixinha de instrumentos cirúrgicos e tirou a agulha e a linha. Encaixou o braço do cadáver em seu ombro e se pôs a costurá-lo, unindo-o àquela região.

O braço escapulia de vez em quando, mas, logo quando ele passou a primeira "demão" de linha, o órgão ficou quieto. Michael fez questão de enfiar bem a agulha e de passar várias "camadas" de linha, para garantir que seu novo braço ficaria bem firme e que não descosturaria mais.

Após finalizar, Michael fez uns movimentos com o braço, acostumando-se ao novo órgão. Estava excelente, muito melhor que o anterior. Bem, agora era hora de consertar o probleminha sangrento da barriga e do pescoço.

Michael despiu seu casaco, desabotoou a camisa cinza e deixou de lado. Se sentou na borda da mesa e se observou num espelho de corpo inteiro que estava à sua frente.

Era esquisito olhar para si mesmo. Ele via sangue, mas não sentia dor. Ele via as regiões roxas e as costuras do corpo, mas não sentia a sensibilidade delas. Ele via a si mesmo, mas não conseguia se ver ao mesmo tempo. Não era exatamente ele.

Quer dizer, era ele. Mas não ele ele. Era ele sem ser ele, mas sendo ele ao mesmo tempo. Ah, era confuso. Nem mesmo Michael entendia quem ele realmente era. Então ele simplesmente preferiu esquecer aquela filosofia toda e voltar a fazer seu trabalho.

Primeiro o pescoço, que era mais fácil. Michael foi até o cadáver com seu bisturi e cortou um pedaço bem fino da pele dele.

Depois, se aproximou do espelho para ver melhor sua ferida no pescoço. Michael colocou o pedaço de pele sobre seu ferimento e, com a agulha, o uniu com sua pele. Finalizou o trabalho e ficou perfeito.

Bem, hora da parte complicada: sua barriga. Trouxe o espelho para perto da mesinha e se sentou na borda dela. Ficou observando por um tempo os dois cortes profundos que estavam em sua carne.

Pegou uma gaze e passou na região, limpando o sangue. Aí pegou seu bisturi e observou mais uma vez sua barriga. Enfim, enfiou a pontinha do bisturi no início do abdome e foi enfiando mais fundo, cortando lentamente até o pé da barriga.

Quando terminou o corte, deixou o instrumento de lado. Um. Dois. Três. Pôs as mãos nos lado na incisão e abriu a barriga. Tomou cuidado para que seus órgãos não pulassem para fora.

Estava tudo uma bagunça lá dentro. O estômago estava no lugar do pâncreas, o pâncreas estava no lugar do fígado, o fígado estava disperso no meio e o intestino era uma corda que estava amarrando tudo.

Larvas e minhocas consumiam o que ainda havia de "saudável" de sua carne, enquanto se remexiam num som gelatinoso e gosmento.

No meio daquele caos todo, Michael percebeu que as duas facadas profundas que ele havia levado estavam localizadas no fígado. Passou a gaze no órgão molhado de sangue e se pôs a costurá-lo. Colocou a mão sobre a bar­riga para evitar que os outros órgãos caíssem e começou a passar agulha e linha na incisão.

Costurava de maneira desajeitada, provavelmente estava ficando uma bagunça. Mas o objetivo não era ficar bonitinho. Era evitar uma hemorragia interna. Não queria que seu corpo ficasse todo roxo. Estética, lembra?

Enfiou um monte de gaze nos órgãos para absorver o sangue e deixou lá mesmo. Pronto, fígado "em ordem". Hora de fechar seu corpo.

Uniu as duas partes cortadas da barriga para costu­rá-las. Passou a agulha, amarrando bem a linha com a car­ne, e costurou da região pélvica até o início do abdome. Passou gaze na barriga suja de sangue. Por fim, pegou um rolo de esparadrapo e colou uma linha de fita em cima da costura para garantir melhor sustentação.

Pronto. Finalmente havia acabado. Michael abotoou a camisa e vestiu seu casaco. Porém, enquanto se vestia, seus olhos acabaram encontrando seu pulso.

Observou melancolicamente aquela região. Era ali que estava sua marca de mordida. Do dia em que foi in­fectado por um zumbi. Aquela maldita mordida o fazia se lembrar de tantas coisas...

Suspirou. Escondeu o pulso com a manga do casaco e deixou aquilo de lado.

Quando foi guardar a serra de amputação na estante, reparou que lá havia gaze, spray antisséptico e outras coisi­nhas bastante úteis. Pegou tudo e guardou em sua mochila.

Enquanto pegava aqueles materiais, sua mão acabou esbarrando num frasquinho. Era um pote bem pequenini­nho contendo um líquido dentro. Michael o pegou e leu o que estava escrito no rótulo: Amazepam injetável. Perfeito! Aquilo seria extremamente útil no caso de Michael ficar meio... enfim...

Procurou mais frascos iguais àquele na estante, mas aparentemente aquele era o único. Então precisava guardar para usar na hora certa, só quando fosse realmente necessário.

Guardou tudo em seus devidos lugares e arrastou o cadáver para um canto da sala. Saiu da enfermaria e fechou a porta. Millie estava sentada no chão apoiando a cabeça na meia-parede. Quando ela o viu, se levantou:

— E aí? Deu tudo certo? — perguntou.

— Acho que sim. Eu só vou precisar de uma camisa nova. Essa daqui tá... — olhou para a roupa, manchada de sangue meio seco — Tá do jeito que tá.

Millie pegou sua coleção de cartões de acesso e lhe entregou os que abriam boutiques.

— Eu vou estar em alguma loja de ferragens enquanto isso — ela avisou.

— Te encontro lá — sorriu.

Os dois se despediram e cada um foi para seu canto.

Após o ApocalipseOnde histórias criam vida. Descubra agora