[POV Alexandre]
QUANDO GIOVANNA SUMIU do meu campo de visão, encarei Karen por um longo espaço de tempo. Consegui enxergar lembranças em seus olhos brilhantes, dos momentos que vivemos juntos, os almoços aos domingos com a sua família, nos enxerguei deitados sob um carpete recém lavado enquanto bebíamos uma cerveja gelada, ouvia também suas palavras de desdém direcionadas a mim durante esses anos, em como eu era incapaz, entediante... Medíocre!
— O que quer, Karen?
— Oi, Nero. — Sua voz saiu como um sussurro aos meus ouvidos. — Quanto tempo... Você parece bem.
— Eu me sinto bem. — Disse um pouco ríspido, talvez sem paciência para suas insinuações. — Vamos, Karen, fala logo o que quer comigo?
— Estou com saudades. — Ela tentou encostar em meu braço e eu me afastei. — Esse tempo longe me fez perceber o quanto eu ainda te amo.
— Você me traiu... Como isso quer dizer amar alguém?
— Você precisa entender que eu me sentia sozinha, Nero.
— Então, eu que te devo desculpas? — Soltei um riso anasalado.
— Não é isso, eu só quero ficar bem com você.
— Olha, Karen... O único motivo pelo qual eu fiquei, foi porque eu percebi que Giovanna mudou completamente, no único instante em que ficamos separados. — Bufei quando notei seu semblante de culpa. — Você ficou nos cercando a festa inteira, claro que sua intenção foi desestabilizar um de nós e pelo visto você conseguiu.
— Eu não fiz absolutamente nada. Não tenho culpa que sua nova diversão não aguenta ouvir algumas verdades.
— Cala a boca e se afasta de nós, ouviu bem? Se afaste de Giovanna.
— Acho que agora vai ser um pouco difícil. Recebi uma proposta de emprego para trabalhar em São Paulo, podemos nos trombar algumas vezes.
— E eu terei o prazer de trocar de calçada, se isso acontecer.
— Não faz assim, foram anos de casamento. Vai dizer que você não sente mais nada por mim? — Ela deu alguns passos se aproximando de mim, desta vez eu não recuei. — Nós éramos bons juntos, não éramos?
Nesse milésimo, a olhava com indiferença. Cheguei a pensar que depois de alguns meses, se a olhasse novamente eu sentiria raiva, mas a verdade é que minha pele estava ardendo em um enojar peculiar. Tinha me esquecido de como ela era manipuladora quando queria.
— Eu amo a Giovanna, pretendo me casar com ela. Então, fique longe!
Quando me afastei, dando as costas para aquela mulher, tive a sensação de que um peso foi arrancado do meu peito, me deixando finalmente leve. Agora, eu tinha a certeza de que havia estourado a linha que nos conectava às coisas já vividas, mas mortas e sem cor.
Segundos seguintes, senti suas mãos me puxando com firmeza.
— Nero... — Karen foi célere em tentar me beijar assim que me virei. Segurei seus braços e seus lábios tocaram meu queixo assim que desviei de seu ato.
— Porra, não faça mais isso. Acabou! — A soltei e caminhei para a saída com passos firmes e precisos, sem olhar para trás.
Aproveitei a vista da cidade a pé e pude espairecer um pouco enquanto andava pelas vias de Florença, respirando o ar fresco. A noite estava agradável, passei em um bar de esquina para comprar uma bebida forte, fazendo o percurso até a casa da minha irmã, onde Giovanna devia estar me esperando.
Parei na ponte que já havia me revelado um visual romântico e fiquei ali por um bom tempo, passeando pelas lojas, entrando e saindo dos comércios em busca de uma combinação lídima entre o infinito e a pureza que transmitia o que eu sentia por Antonelli.
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Agridoce | GN
ParanormalApós sair de um relacionamento de doze anos, Alexandre Nero, vê a chance de um novo recomeço em outro estado, após ser contratado como chefe de cozinha no restaurante bem prestigiado em São Paulo, o Negrini. Em busca de autodescoberta, Nero encontra...
