50 - Sophia

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Luke saiu me deixando em meio às lágrimas. Meus pulsos doíam graças as correntes e minhas costas estavam ardendo, fora a dor de cabeça frequente. Eu também estava tentando com todas as forças não vomitar.

Eu o via ficar cada vez mais contrariado cada vez que eu abria a boca pra falar, mas que se foda... eu estou calada a muito tempo. Ele nunca sequer tentou pensar em uma solução para que eu ficasse ao seu lado sem que fosse trancafiada e escondida.

Senti minha consciência oscilar novamente, provavelmente devido a pancada quando voei da moto. Apaguei por um tempo indeterminado, talvez alguns minutos ou horas, acordei com alguém dando tapinhas em meu rosto. Pisquei várias vezes para focar a visão.

- Gustavo? - Senti um alívio imenso ao vê-lo, mas o medo logo tomou conta de mim. - Não, merda... vai embora.

- Nossa, é assim que recebe seu herói? - Perguntou ele se fingindo de ofendido.

- Não tem tempo pra isso, caralho. - respondo mais nervosa. - Luke vai matar você.

Gustavo sorriu e me mostrou um corta vergalhão que havia trazido, deu a volta em minha cadeira e cortou as correntes. Soltei um gemido de alívio e esfreguei os pulsos.

- Por te soltar ele talvez me dê uns socos, mas nunca vai me matar... - Disse me ajudando a levantar. - a não ser que você continue gemendo assim perto de mim e eu seja obrigado a fazer você gemer por um motivo melhor... aí sim ele me mata.

Revirei os olhos sem responder, acostumada com o frequente assédio de Gustavo. Ele pegou em minha mão e me levou para fora do porão, ao subir as escadas senti que ia desmaiar de novo e fui envolvida por seus braços.

- Eu espero que isso seja reação da pancada que você levou na cabeça e não o que eu estou pensando... - Comentou me ajudando a chegar até a porta dos fundos da casa. Havia um carro ali, Gustavo me ajudou a entrar e quando se sentou ao meu lado foi puxado bruscamente para fora por Luke, que o agarrou pela camisa e bateu suas costas contra o carro.

- Me dê um bom motivo pra não quebrar sua cara.

- Não, Luke... - Falei tentando sair pela porta que estava aberta, Luke a fechou com um chute.

- Cala a boca, Sophia. - mandou dando outra sacudida em Gustavo, que levantou as mãos em sinal de rendimento.

- Soltei sua namorada de um porão. Um louco havia prendido ela lá. - disse Gustavo. Tentei empurrar a porta novamente mas Luke a segurou com o pé, então me virei pra sair pelo outro lado.

- Se gosta desse idiota é melhor não tentar sair desse carro, Sophia. - ameaçou Luke. Na mesma hora soltei a maçaneta, meu coração batendo loucamente.

- Me dá a chave... - Rosnou para Gustavo.

- Luke, pensa bem no que vai fazer, cara.... - tentou Gustavo, cautelosamente. - Você é inteligente, será que ainda não percebeu...?

- ANDA, CARALHO!

Gustavo tirou a chave do bolso e entregou para ele. Luke recebeu a chave e empurrou Gustavo para longe do carro, o fazendo cair de costas no chão.

- Caralho, seu cabeludo maluco. - reclamou Gustavo. - Você tem muita sorte de ser você ou te daria um murro.

Luke sorriu e entrou no carro.

- Gostaria de te ver tentar. - Respondeu dando partida no carro. Apertei o banco com as mãos quando Luke terminou de escancarar o portão com o carro e acelerou loucamente. Ele andou desgovernadamente por ruas que eu não conhecia, acelerando cada vez mais, o carro saltava toda vez que ele passava por um quebra-molas ou buraco.

- Luke, você vai bater. - falei em voz alta, tentando me fazer ouvir em meio ao som do acelerador e do vento. Nossos cabelos esvoaçavam e os dedos de Luke estavam brancos de tanto pressionar o volante.

- VOCÊ NÃO QUERIA DAR UMA VOLTA? - Gritou ele. Tentei tocar seu braço mas ele empurrou.

- VOCÊ PIROU DE VEZ, PORRA? - Gritei.

- POR QUE VOCÊ QUER FUGIR DE MIM, CARALHO?

- AINDA PERGUNTA, SEU IDIOTA? - tentei tocar seu braço novamente mas fui empurrada um segunda vez. Eu não conseguia mais enxergar o que passava ao nosso lado devido a velocidade, tudo se tornou um borrão. Num momento de pura loucura abri a porta mas Luke passou por um quebra-molas no mesmo momento e fui sugada para fora. A dor era dilacerante mas não soltei a porta do carro, senti minhas pernas queimarem ao ser arrastada pelo asfalto e logo em seguida fui arremessada para frente quando Luke freiou bruscamente.

Vi o céu escuro da noite e segundos depois o rosto de Luke, branco como papel e olhos arregalados. Se ajoelhou ao meu lado e seus braços envolveram meu corpo me puxando para cima de suas pernas. Minha visão ficou negra por uns segundos devido a dor e voltaram a focar em seu rosto apavorado.

- Não desmaia, por favor... - falou com a voz tremendo. Sua mão segurou a minha e percebi que estava ensanguentada. Merda... meu sangue.

- Idiota... - falei entre lágrimas. - Você é tão idiota.

- Sim. - Concordou ele. - Eu sou completamente idiota. Fique acordada pra continuar me chamando de idiota, ok?

- E louco. - falei, minha visão voltando a desfocar. - Você é louco.

Luke me suspendeu em seu colo e me pôs no banco de trás do carro, doeu tanto que senti minha consciência indo embora pela milésima vez no dia.

- Sou louco por você, Sophia... e um completo idiota. - O ouvi dizer antes de tudo se apagar.

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