Capítulo 12

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— Hora de ir !— meu pai avisa.

Eu não sabia exatamente o que eles estavam planejando, pois, não queria dar ao desfrute de escutar seus planos, que para eles são maravilhosos e para mim... péssimos. Eu sei que por mais que eu dissesse inúmeras vezes que não é aquilo que eu desejo, é completamente inútil.

Sento o banco do carro com a expressão de tristeza em minha face, e não conseguia falar absolutamente nada. Eles terminavam de organizar as coisas no porta malas, e eu fico em silêncio, olhando o meu celular.

Lembro-me então do número que ele havia me ligado a alguns dias atrás. Talvez, posso entrar em contato através desse número. Ligo imediatamente, mas, como tudo sempre estava dando errado para mim, o número não completa a chamada. Provavelmente nem existia mais, era de se esperar pois ele tem suas tramoias através de contatos.

Olho para a frente, e meus pais sentam nos seus respectivos bancos. Minha mãe pega a sua bolsa de mão, procurando alguma coisa, apressada. Eu apenas observo os dois a minha frente, e continuo em silêncio.

Nunca imaginei que eles pudessem ser tão intolerantes como estão sendo agora. Eu sempre fui muito cobrada desde pequena, para me dedicar a música ao máximo e, eu fiz isso com excelência, por que eu realmente gostava do que fazia. Faz dias que não toco piano, não sinto vontade, não me vem inspiração. Estou vivendo em modo automático.

— Você pegou os passaportes ?— minha mãe pergunta ao meu pai.

Nesse momento, o meu coração erra as batidas, meu corpo ficou gelado e os meus olhos que estavam fixos no celular, se direcionam para eles a minha frente. Como assim passaporte ? Eu achava que iríamos para outra cidade, que fosse na Itália.

— Do que vocês estão falando ? — pergunto contendo o nervosismo.

— O passaporte filha. Iremos para Nova York. Lá tem uma faculdade de música incrível . — minha mãe fala animada.

— Mas... — eu tento falar.

— Já está mais do que na hora de sairmos da Itália.— meu pai acrescenta.

Eu iria cruzar o oceano, e depois disso ficará ainda mais difícil de rever Vittorio , na verdade, quase impossível, pois, se aqui já não consigo ver ele , estando nos Estados unidos, Vittorio iria se transformar em apenas um amor impossível, que viveria no passado e em minha mente.

— Vocês não estão querendo saber a minha opinião, sobre o que eu quero!— eu reclamo rispidamente.

— Nos lhe criamos e educamos para ser uma grande musicista, e é isso que irá acontecer.

— Mas... eu posso fazer isso aqui mesmo, mãe!— falo mais alto.

Ela se vira no banco do carro para que conseguisse me olhar no banco de trás.

— Aqui ? Dessa maneira que você está se comportando? Pode fazer isso aqui? Claro que não. — ela responde com objetividade.

As lágrimas vem no meu rosto, eu apenas deixo elas rolarem. Eu sei que se fosse a poucos meses atrás, eu estaria radiante por essa mudança, mas, agora não, agora era diferente!

Eu percebo que, quanto mais tento falar algo, deixar clara a minha opinião, mais se tornavam incomunicáveis. Minha mãe já está com os passaportes nas mãos, inclusive o meu. Olho ela e sinto meu coração doer, a medida que se aproxima do aeroporto.

Eu estou perdida em meus próprios pensamentos, e dirijo o olhar para a janela carro, mas, necessariamente, além da janela de Vidro. Encosto a cabeça no banco, e fecho os olhos brevemente .

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