Epílogo

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5 anos depois

A luz invadiu o quarto repentinamente quando as grandes cortinas escuras foram puxadas, era o primeiro dia da primavera e mesmo que ainda restasse um pouco de neve para derreter, as árvores de todo o palácio presentearam seus botões para quem quisesse parar e admirar, era lindo, um gama de cores e formas vivas.
Logo, o som dos pés de um pequeno cortou o silêncio, correndo até o quarto dos pais, eufórico, era seu aniversário afinal. Vendo o casal ainda de olhos fechados, mesmo com a claridade, segurou a risada tapando a boca com as mãos e se espremeu para subir na cama, por baixo dos cobertores. Engatinhou até estar entre os dois e esperou, pacientemente, Nowak Victor de Clermont, o primeiro príncipe finalmente poderia receber a recompensa que fora prometida, e ganharia permissão para aprender a caçar.
Chacoalhou os pés fazendo o cobertor balançar, pressionado pela ansiedade e gritou de súbito quando o braço o puxou e girou seu corpo até que estivesse em uma das pontas da cama.

— Não faça barulho, Vito.— disse seu pai segurando forte contra o peito, ainda estava sonolento e a voz rouca.— Mamãe está cansada, vamos deixá-la dormir um pouco mais, sim?— disse sinalizando para que falasse baixo e se levantou com cuidado, fechou as cortinas devagar e carregou o filho até a porta do outro lado do quarto.

— Por que sempre deixa a mamãe dormir mais?— questionou um pouco decepcionado, queria passar mais tempo com os dois.

— Porque a mamãe passa o dia todo cuidando de muitas coisas, além de cuidar da sua irmã. Se tivermos a chance de tornar algo mais fácil para ela, devemos fazer, sabe por quê ?— disse colocando o menino numa cadeira e indo até o berço olhar a pequena recém chegada. Nowak já havia ouvido muito essas palavras, e em certo ponto sabia que o pai estava certo, no dia anterior sua mãe mal teve tempo para tomar chá, entre visitas de algumas mulheres e a preparação para o banquete de aniversário do imperador. Mas ainda teve tempo para se sentar no tapete e brincar com ele, até cochilar encostada numa almofada.

— Porque um homem deve cuidar de sua família primeiro.— ditou como uma frase ensaiada.— Mas papai, é meu aniversário.— murmurou baixinho, James o encarou encantado, como poderia parecer tanto com ela? Os cabelos escuros encaracolados, a pele clara, o nariz esculpido e uma teimosia inigualável. Entretanto, os olhos vieram do avô, azuis acinzentados como o mar revolto.

— Eu sei, não se preocupe, hoje nós quatro vamos passar o dia inteiro juntos.— tranquilizou o menino fazendo com que logo estivesse saltitando. Desviou os olhos para Gaya, ainda dormia segurando teimosamente um cervo de brinquedo feito em tecido. Ela era mais calma, mas igualmente teimosa e tinha suas próprias opiniões, como Naiáde.

— Bom dia meninos.— ouvi-a dizer parada da soleira da porta e sorriu de imediato vendo-a amarrar o robe de seda. As manhãs nunca mais foram frias desde que a conheceu, sequer uma vez.

— Mamãe, mamãe.— gritou Nowak apressado, correndo e se jogando nos braços de Naiáde.

— Minha nossa, você cresceu muito desde ontem, assim não vou conseguir segurar meu bebê.— brincou enterrando o rosto no pescoço do filho, ambos rindo em coro.— Hoje é um dia especial não é?— provocou.

— Não pode quebrar sua promessa mamãe, ou seu cabelo vai cair.— declarou, Naiáde arregalou os olhos em surpresa, fingindo estar com medo.

— É agora? Não posso ficar careca, todo mundo vai dizer que sou feia.— lamentou fazendo James rir, ao mesmo tempo que a pequena abriu os olhos e resmungou para que o pai a resgatasse do berço.

— Não, não chora. Eu nunca vou te achar feia mamãe. Eu prometo.— se apressou para consolar, acarinhando o rosto de Naiáde com ternura.

— Você é o amor da minha vida.— começou a mulher com os olhos marejados, se recompôs e com uma feição séria, voltou a falar.— E então, se bem me lembro, como presente de aniversário você queria uma permissão especial. Me ajudem a lembrar devidamente, a mamãe já está velha.

A FILHA DO GENERAL Onde histórias criam vida. Descubra agora