33 - Azul-marinho

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João Pedro não estava animado para a atividade avaliativa que teria à tarde. E piorou mais quando caiu de dupla com Raquel. Parecia que o Universo, ou mesmo Deus, estava contra ele de todas as formas.

Nos primeiros minutos de caminhada na trilha da floresta, João esperou por alguma tentativa de conversa da garota. Tinha receio de que Mikaely contara sobre o beijo do dia anterior, o que levaria Raquel a mil questionamentos. Contudo, tudo o que a garota fez foi permanecer calada e com o olhar perdido entre os troncos das árvores. Parecia aérea e preocupada.

Pararam então onde a professora Lorena estava. Ela se voltou para os alunos e começou a explicar como funcionaria a prova. Como Raquel parecia distraída demais para João poder depender dela, decidiu prestar atenção.

Era uma prova até simples. Cada dupla de alunos receberia uma lista de nomes de plantas que haviam sido estudadas e que muitas tinham na floresta. Então as procurariam. Assim que encontrassem elas, usariam os potes que receberam para plantá-las; em seguida, teriam que identificá-las no pote com as canetas permanentes. As duplas que conseguissem fazer tudo aquilo sem se equivocar e no tempo determinado, ganhariam dez. Contudo, o problema começou quando João pegou a lista e percebeu que as quatro plantas que havia recebido com Raquel eram bastante parecidas.

Seguiu as trilhas com sua dupla, cada um atento ao que poderia encontrar na terra. O silêncio os acompanhou de perto, deixando o clima em uma corda que bombeava entre agradável e estranho. Em um dos longos minutos dele, percebeu Raquel franzindo o cenho para uma das raízes das árvores. João também olhou para lá, mas não encontrou nenhuma planta que pudesse chamar a atenção da garota.

— O que foi? Achou algo útil?

Raquel balançou a cabeça negativamente e se agachou em frente a árvore.

— Não. Só achei estranho esse troço assim. — Apontou com a ponta de sua espátula de escavar para um pequeno ponto azul-marinho que se destacava em um pedaço de terra.

João também se agachou, franzindo o cenho.

— Estranho mesmo. Escava aí. Talvez seja uma pétala enterrada.

A garota o encarou por um momento, hesitando. Então deu de ombros, decidindo seguir a sugestão.

Com a espátula em mãos, Raquel começou a tirar a terra daquele espaço e lançou ela para o lado. Cada vez mais a cor azul-marinho se destacava, até que João Pedro percebeu se tratar de um tecido e não uma pétala.

Quanto mais Raquel tirava a terra e deixava à mostra a roupa que começava a ser desenterrada, mais o coração de João palpitava acelerado. Não aguentando a lentidão da garota, usou a própria espátula para ajudá-la. Com o processo sendo mais rápido, não demorou para o moletom azul-escuro ficar totalmente à mostra. Um tanto trêmulo, João pegou ele e balançou levemente para retirar pedaços de terra úmida. Na ação, algumas partes do moletom ficaram mais visíveis.

Sangue. Manchas de sangue. Sangue que pareciam que fora esguichado de algum lugar; de alguém.

A mente de João Pedro foi tomada por uma informação atrás da outra. Ismael indo para o luau com um moletom igual aquele — luau esse que antecedeu a notícia da morte de Clara. Ismael voltando dele sem o moletom, apenas trajando sua blusa com estampa de banda. Ismael reclamando havia algumas semanas de "roubos" na lavanderia do dormitório, ao qual Armando afirmava que ali o garoto perdeu o moletom azul-marinho.

Ismael.

Ismael era um assassino?

João Pedro franziu o cenho com força e encarou sua dupla.

Raquel estava pálida e com os lábios abertos. Pareciam juntar peças que João Pedro não sabia, pois ela apenas sussurrou:

— Maely.

Maely foi dupla de Ismael no dia anterior. E João não lembrava de vê-la em nenhum dos dois horários no refeitório, nem em alguma aula.

Raquel engoliu em seco, parecendo prestes a surtar. João não se sentia tão distante daquilo também.

Ismael era um assassino. E dormia no mesmo quarto que João e seus amigos.

O (amor) Assassino Está Entre NósWhere stories live. Discover now