36 - Inveja

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Armando falava sobre Mikaely.

Como Mikaely era incrível. Como ela era inteligente. Como era linda.

Mesmo a contragosto, João Pedro concordava mentalmente com aquilo. Às vezes, nas tantas conversas que seu primo citava a garota, tinha vontade de soltar um simples: "Ela beija bem." Obviamente, não falava nada daquilo. Seu último desejo era arranjar briga com Armando, principalmente depois de voltarem ao normal. Ou, bem, quase normal.

Quando Armando citava Mikaely, na verdade, estava em busca de uma válvula de escape para não conversar sobre Ismael e o que ele fizera. Rikelmy seguia o mesmo rumo, mudando o assunto sempre que possível. João não os julgava tanto por aquilo, pois compreendia o desconforto e peso que citar Ismael trazia. Contudo, tampouco podiam ignorar para sempre o que aquele garoto fizera. Ismael tinha sido colega deles. Dormiam sob o mesmo teto!

O assassino sempre esteve mais perto do que pôde imaginar.

Às vezes, no silêncio e escuro da noite, João se questionava como o garoto tinha planejado tudo aquilo. Ismael tivera alguma ajuda? Algum funcionário esteve ao seu lado? Ou simplesmente foi capaz de esconder os corpos e apagar muitas das imagens de segurança? Mas como Ismael entrava na sala de câmeras?

João passou o olhar entre seus amigos, que conversavam um com o outro.

Rikelmy ou Armando seriam capazes de ajudar Ismael a matar alguém?

Soltou um fraco suspiro, por pouco não balançando a cabeça negativamente.

Rike e seu primo ficaram abalados com a notícia de que Ismael era o assassino. Passaram tantas horas em silêncio que mal pareciam processar a informação. Ou talvez fosse negação. Porém, independente da alternativa, já devia ser claro para João que seus amigos estavam tão amedrontados e receosos com aquela situação quanto ele mesmo.

— João?

João Pedro piscou, retornando à realidade. Então encarou Rikelmy, que franzia o cenho em sua direção.

— Oi?

— Tá acordado aí?

— Tô sim... — João abriu um sorriso sem graça. — O que foi?

— Não ouviu o que o Armando disse?

— Hm... não. O quê?

— Eu escutei boatos de que vai ter uma festa daqui a dois dias — seu primo respondeu. — Alguma confraternização de fim do bimestre, algo assim. Aí perguntei se vocês pensam em ir.

João Pedro deu de ombros.

— Não sei, cara. Vai depender muito da minha disposição.

Sem pensar muito, tirou o celular do bolso e recostou-se no colchão da cama. De maneira quase automática, abriu a galeria e procurou por um arquivo específico; um que vinha revendo mais vezes do que deveria.

— Nossa, mas vocês dois estão em uma animação contagiante — Armando comentou, a voz carregada de sarcasmo. — Vou procurar pela Mika. Talvez ela me dê uma resposta mais animadora para essa festa. Vocês dois estão um saco hoje.

João apenas suspirou em resposta, seu dedo apertando no play do vídeo selecionado enquanto escutava seu primo descer da própria cama e ir à saída.

— Vejo vocês no jantar.

Rikelmy grunhiu em resposta. Por sua vez, João ficou em silêncio, analisando o vídeo dele e de Mikaely conversando na biblioteca. Uma realidade distante. Tão distante que parecia uma memória desbotada pelo tempo. Sem assassinatos, sem perdas. Voltaria exatamente para aquele momento, que antes não lhe parecia que teria tanta importância.

Desejou ter a sorte de ser seu primo e poder ter outra chance de ficar com Mika.

O (amor) Assassino Está Entre NósWhere stories live. Discover now