Me Perder

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"É, não deve 'tar fácil pra você
Que foi capaz de me perder."
Aqui Tem Alguém - Ana Castela

"Aqui Tem Alguém - Ana Castela

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Roberta Prado, POV

Estava ficando com um estudante de jornalismo, um colega de classe da Mariana, isso foi no final do ano passado, ficávamos de maneira casual, funcionava para os dois lados e tudo bem. Até que Mari me contou que ele estava quase namorando uma garota da classe, obviamente pedi que parássemos de ficar, qual seria a lógica de estarmos ficando casualmente se ele claramente estava entrando em um relacionamento? Algumas coisas dele ficaram em minha casa, escova de dente, perfume, blusas, coisas que sinceramente, gostaria de ter colocado fogo, mas apenas guardei em uma caixa e quando ia pedir para Mari levar para ele, ela me contou que ele simplesmente trancou a faculdade, o que dificultou muito o contato, então, não podia fazer nada com a caixa. Até que ele terminou, e tentou contato comigo novamente, apenas pedi que ele buscasse as coisas em minha casa e é isso que ele veio fazer, não vi Gui pela manhã, então, imagino que ele tenha saído, o que facilitará minha vida, já que ele odeia o dito cujo.

– Roberta.

– Oi. Entra. - Dou espaço para que ele pegue as coisas em cima do sofá, fico em pé para que não tenha chances de ele querer enrolar conversa.

– Como você está? - Felipe pergunta, no fundo, já estava esperando.

– Bem.

– Como está a faculdade?

– Que papo furado, Felipe. - Começo a me estressar. – Se Mariana não tivesse descoberto, quando você iria me contar?

– Não iria. - Ótimo! Rio com a falta de senso do homem que está na minha frente. – Olha só, para mim, não estava em nível de namoro ainda.

– Claro, porque a Mariana não te viu na sala com a caixa que estava a aliança de vocês.

– Não foi bem assim...

– Foi exatamente assim. Aliás, seus grandes amigos, Thiago e Paulo, me contaram depois que você estava ficando com ela desde que estava comigo, e que você desistiu de pedir ela em namoro quando me conheceu, estranho não acha?

– Não tínhamos nada sério. - Se explica, claro, óbvio que seria essa desculpa. – Você está me cobrando do que exatamente?

– Que sorte, né? Mas pra quem dizia que estava só comigo, pouco mentiroso da sua parte.

– Você quer falar sobre o que? Você ficou com o Paulo poucos dias depois. - Óbvio que ele iria jogar isso na minha cara. – Isso é coisa de gente baixa.

– Ah sim, o seu melhor amigo? Porque que eu saiba, eu não tinha vínculo algum com ele.

– Irei fingir que não ouvi isso, Roberta.

– Você é bom nisso, fingir.

– Me perdoa, tá? Eu gostava de você e... Estava confuso, passava mais tempo com ela e acho que acabei me apegando mais.

– Se gostava de mim e fez isso, imagina se odiasse.

– Beta.

– Roberta, pra você. - Ouço a porta do quarto abrindo, porra.

– Você acha que pode ficar ditando o jeito que eu a chamo? - Felipe pergunta seriamente para ele.

– E você acha que tem moral de vir aqui e chamar ela de baixa em sua própria casa? - Ele cruza os braços, e eu só torço para que isso acabe logo e sem ninguém se estranhando na minha nossa sala.

– São coisas sobre nós dois, está se intrometendo por que?

– Felipe, vai embora. - Peço, com calma.

– Ouviu ela.

– Caraca, Roberta, eu só queria conversar. - Felipe pede.

– Poderia ter feito isso alguns meses atrás.

– Ela vai ter que pedir de novo ou...? - Não precisa de mais nada, Felipe sai pela porta e eu a fecho, me sentindo muito mais aliviada.

– Você não disse que estava em casa.

– Você não perguntou. - Guilherme se dirige à cozinha, parece estar um pouco irritado, eu o sigo.

– Está bravo comigo?

– Nunca, Roberta. - Gui pega dois ovos na geladeira e a frigideira que está no escorredor.

– Guilherme. - O assisto quebrar os ovos e fazer uma lambança na cozinha, quando vi, a gema e a clara estava com casca e tudo, seguro suas mãos e olho em seus olhos.

– Você merece muito mais que isso, sabia? - Guilherme se desvencilha das minhas mãos e lava na pia.

– Sei, Gui.

– Babaca. - Ouço ele xingar baixinho enquanto se apoia na pia de casa.

– Você não se ouve não é, Guilherme? - Ele me encara. – Você passou meses atrás de uma garota que te deu um pé na bunda, que ficou com outro na sua frente, ficou insistindo em outra que nem se quer gostava de sair contigo. Poxa, eu sei como você é, você é um menino sério, você quer uma família, você fala tanto do Augusto mas é exatamente igual a ele, Gui. Eu sei o que eu quero, o que eu mereço, mas eu só não achei, tá legal? Igual a você.

– Desculpa.

– Não precisa. Eu entendo que isso é cuidado, mas eu vi você passar por tudo isso e sofrer calado, Gui, e não poder falar nada. O que estou querendo falar é para você se preocupar consigo mesmo.

– Entendido. - Guilherme parece reprimir o que está sentindo, novamente. Apenas viro as costas e ando até o meu quarto, deixando apenas uma fresta da porta aberta, para que ele entenda que quando quiser conversar, estarei lá.

Passei o resto da tarde estudando, ouvindo o barulho da televisão da sala, não consegui identificar se Guilherme estava vendo alguma série ou jogando algum jogo, decidi sair para beber água e não é nenhum dos dois, ele só está dormindo, feito anjo.

– Oi. - Tomo um susto ao olhar para trás. – Viu uma assombração?

– Bem pior que isso, você. - Brinco e ele dá risada.

– Só queria esclarecer algumas coisas. - Guilherme começa. – Sabe por que me preocupo quando estamos pouco nos vendo? Ou quando você parece se afastar? Quando se envolve com caras que pouco sabem seu valor?

– Hum.

– Porque você se tornou minha prioridade, Roberta. Estar bem com você é estar bem comigo mesmo. - Guilherme não espera nenhuma resposta, apenas me dá um beijo na testa, indo em direção ao seu quarto, me deixando processar essas palavras sozinha.

Entre Livros e CompassosOnde histórias criam vida. Descubra agora