III

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Eu sabia que você era um problema

Fui para casa. Sim, eu estava com medo dela me encontrar e querer chamar para algum tipo de conversa, mesmo sabendo que não temos mais nada para conversar, pois ela já se explicou e se despediu naquele dia na lanchonete, quando não me disse absolutamente nada. Eu não precisava ficar com medo dela me enviar alguma mensagem, pois ela sequer tem meu novo número e, como ela mesma disse, não quer perdão ou algo do tipo, mas lembro que Nair havia dito que sentiria minha falta. Não, melhor, ela sentiria saudades.

— Ei, estrangeira. – Minha colega de quarto chama, com seu jeito apático de sempre. — O pessoal de direito vai para uma festa e queriam que você fosse também. – Ela fala em inglês para que eu possa entender.

O nome dela é Amanda de alguma coisa – sobrenomes brasileiros são estranhos –, uma morena alta, com cabelos curtos e extremamente cacheados, algo que me encantou muito. Ela é minha veterana em direito e conhece muita gente da faculdade. Eles normalmente estão assim como agora, em festas e encontros universitários, que também era comum no meu país. Mas eu nunca fui lá, não irei aqui também.
Nego com um sorriso e ela dá de ombros.

— É para enturmar os intercambistas, você vai perder a oportunidade? – Olho para o meu celular, onde mandava uma mensagem explicando a Miguel o motivo da saída repentina e me desculpando por tê-lo deixado na mão.

— Tenho quanto tempo para me arrumar? – Amanda sorri e dá de ombros, então me levanto rapidamente indo para o banheiro que fica no quarto.

Não sei como são as outras casas de estudantes aqui no país, me disseram que não são todas as escolas que proporcionam esse tipo de lugar e que normalmente são chamadas de residência, que são até difíceis de conseguir entrar, mas permanecer dentro é uma jornada pior. Não me senti mal estando aqui, morando quase somente com a Amanda.

Na verdade, é como se fosse realmente uma casa, com vários quartos, cozinha e lavanderia compartilhada entre todos os moradores. Costumo comer fora, com Miguel, então quase não vejo os demais no café da manhã e almoço. Durante a tarde, passamos o tempo na biblioteca, fazendo absolutamente nada ou lendo alguns livros de literatura que estão disponíveis por lá. A noite eu não como, é um costume que acabei tendo quando passei a me dedicar mais ao meu trabalho em Port Hardy, quando decidi que pediria as contas.

— Nós vamos de carro com uns amigos meus, ok? – Diz quando me vê saindo do banheiro e eu concordo em um aceno, me vestindo em frente ao espelho.

Eu não tenho nenhum problema em trocar de roupa na frente dela, já que a mesma se mantém – sempre – com os olhos voltados para o celular, e eu me visto ainda com a toalha. Coloco um vestido simples que ganhei quando entrei na casa – Amanda achava que não cabia mais no tubinho que estava em seu guarda-roupa, mas jura de pés juntos que fica perfeito em meu corpo – ele é azul escuro, estilo tubo com alcinha e uma fenda na coxa. Sim, o vestido vai até abaixo da minha coxa, antes do meu joelho, por isso me recusava a usá-lo. Coloco também um saltinho fino, preto, com algumas tiras que amarram em meu tornozelo. No cabelo, faço um rabo de cavalo alto, deixando os cachos caírem como cascatas onduladas.

— Estou pronta, Amanda. – Tento chamar sua atenção, falando em português, e ela me encara completamente em choque.

— Garota, você está um arraso! – Diz, se aproximando. Ela segura minha mão e me faz girar para que possa ver. — Calma, falta um negócio. – Vai até sua cama, pegando a necessaire, tirando de lá um batom vinho que costuma usar. — Vai ficar perfeito. – Ela passa o batom no dedo indicador e volta para mim, esfregando-o em meus lábios. — Ótima. Se eu fosse lésbica, sairia com você com certeza.

A Princesa do MorroWhere stories live. Discover now