17² • TRÊS IRMÃS

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• TRÊS IRMÃS •

















Foi bem fácil perceber que eu devia ter deixado Jacqueline se afogar ou virar comida de sereia.

A começar pela reação que ela teve assim que Kara nos puxou para cima: me dar um soco.

Foi desajeitado e provavelmente a fez quebrar um dedo ou dois, a julgar por seu gritinho de dor, mas isso não impediu a dor ridícula que subiu pelo meu maxilar, alguns pontos ardendo infernalmente pela contribuição de seus anéis.

Kara, é claro, teve a reação mais óbvia.

Ela deu um belo gancho de direita bem no nariz perfeitinho da filha de Afrodite.

— Ficou louca? — Kara rosnou, assistindo a loira chorar, as mãos pressionando o nariz sangrando, sem um pingo de arrependimento no rosto delicado. — Você tenta se matar, ela te salva e é assim que agradece, sua desvairada?

Pálida, com bolsas roxas sob os olhos azuis e tremendo pela hipotermia, ela lança um olhar sem vida para a filha de Ares.

— Agradecer? — sua voz está rouca e machucada, como se tivesse gritado por horas. — Ela é um monstro.

Recuo, assustada, pelas palavras duras da loira. Kara junta as sobrancelhas, confusa, e olha para mim.

Engulo em seco, fechando os olhos por um momento para afastar a névoa escura que nubla meus olhos antes de puxar meu apito do pescoço.

— Ela precisa se aquecer. Leve-a para a cabine do capitão, deve ter rum lá em algum lugar, vai ajudar. Descerei num instante para aquecer a água para um banho.

O olhar de Kara me diz que ela está louca para perguntar mais, mas decide obedecer. Agarrando a filha de Afrodite pelo ombro, ela a ajuda a se levantar e então a leva para baixo do convés.

Percy não está no timão e também não vejo Annabeth amarrada no mastro principal. Supondo que estão juntos — e torcendo para não me arrepender de confiar nisso —, eu vou direto para a balaustrada atrás do timão. De noite, a água salvada do Mar de Monstros perde o brilho esverdeado e toma uma cor quase doentia de preto. Parece um mar de pesadelos.

O zumbido suave da canção sussurrante das sereias me faz olhar de novo para o nevoeiro onde elas se escondem. Daqui, elas não conseguem assumir forma nenhuma, e duvido que conseguissem, de qualquer maneira. As cabeças humanas que vivem mudando foram substituídas por uma cara feia de peixe, cobertas por plumagem preta. Grandes urubus feios e enlameados. Eu sinto seus olhos negros em mim. Gelados, com medo.

— Foi uma cantiga interessante.

Eu me viro sem pensar.

É um erro, é claro. O fantasma diante de mim é feita de sombras e luz do luar. Seu vestido de corte grego se espalha ao seu redor, se misturando com a noite conforme ela se aproxima de mim.

— Não tenha medo — continua, seu tom de voz doce deixando minha mente alerta, e estica os dedos para tocar meu cabelo tão loiro quanto o dela. Ao contrário do que eu esperava, eles não atravessam. — Não estou aqui para machuca-la, Letitia. Eu só quero saber onde aprendeu a canção que cantou para cancelar a influência das sereias.

— Eu não sei — respondo com sinceridade, evitando seus olhos incandescentes. — Eu nem sabia que a conhecia.

— Hm — ela me avalia e então se afasta, esticando os dedos para brincar com as sombras. — Cante para mim.

Eu não quero cantar e acho que isso fica bem óbvio na minha linguagem corporal, porque a mulher se aproxima até estarmos respirando o ar uma da outra.

did i mention • clarisse la rueHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin