CAPÍTULO V - PARTE II

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Duas Semanas depois

Hera coçou o nariz tentando não se sentir enjoada com a quantidade de perfumes no ambiente. As festas dadas pelos aristocratas não se diferenciavam de qualquer outra que já participou: exaustiva e inútil. Sua mãe e seu pai caminhavam de braços dados em sua frente, tranquilos, alheios ao seu mau humor.

Matheus e Igor estavam logo atrás dela, acenando para quem os cumprimentava, enquanto Hera ignorava algumas vozes distantes que chamavam seu nome. Caminharam lentamente pelo tapete vermelho na entrada do salão de mais uma família aristocrata.

Hera resistia à vontade de espirrar conforme passava pelos convidados. Lycans tinham o olfato apurado, ela não entendia como conseguiam usar perfumes.

Depois de passarem pelo tapete, adentraram o salão de tortura daquela noite. Ele não era diferente de qualquer outro que já conheceu: brilhoso, cheio de lustres, decoração de madeira entalhada nas mesas e cadeiras, com castiçais dourados e velas.

A mesa da Família Real era sempre a maior, e sempre ficava na frente do salão, de onde conseguiam ver tudo e todos, eles passaram pelo salão de jantar e seguiram para o salão de festa, aberto, sem mesas e cadeiras. Como no salão de jantar, o salão de festas também tinha uma área reservada a sua família.

Eles se sentaram em seus lugares e esperaram os convidados virem um por um cumprimentá-los, dessa forma Hera entrou no modo automático: cumprimentar e falar com cada convidado da festa.

— Hera — Dimitrios, filho de um aristocrata do Conselho, segurou sua mão direita e depositou um beijo nela, um gesto íntimo demais e até vulgar. Hera franziu o cenho enquanto continha a raiva. — Linda, como sempre. — Ele sorriu e Hera somente piscou em direção ao lobo, os lábios finos apertados numa linha. — Mais linda do que na última vez que nos vimos. Preciso dizer que se seu companheiro demorar muito para aparecer, eu vou roubar você.

Hera retirou a mão do aperto dele bruscamente e inspirou fundo, gesto que andava fazendo com frequência ultimamente. Sua mãe, ao seu lado, ouviu o comentário e se intrometeu.

— Sendo assim, Dimitrios, terá que entrar na fila, Hera tem muitos pretendentes — ela disse, orgulhosa.

— Não tenho medo de pretendentes — Dimitrios a encarou encantado e Hera conteve outro suspiro porque sua mãe certamente notaria.

— Infelizmente — Hera interrompeu, chamando a atenção de ambos. — Nenhum dos meus pretendentes me chamou a atenção, e nem sei se vão chamar, nem agora e nem num futuro próximo, então sugiro que encontre outra pretendente — finalizou com um sorriso rápido. Hera notou o rosto de Anna se avermelhar, já Dimitrios, sorria. Ela arriscaria dizer que o lobo parecia ainda mais interessado depois da sua resposta.

— Hera... Hera... eu adoro um desafio — murmurou dando lugar para o próximo na fila. Hera só queria agredi-lo por não ter entendido a recusa dela, ela não sabia como ser mais clara que aquilo.

Quando o lobo sumiu de vista, sua mãe se inclinou em direção ao seu ouvido.

— Se for para falar asneiras, mantenha a boca fechada, Hera — disse e voltou para o seu lugar, direcionando um sorriso amistoso para o próximo convidado.

Hera cruzou os calcanhares embaixo do vestido longo que usava e esperou, esperou pelo fim daquela fatídica festa. Procurou por Doberv entre os convidados, mas não a viu ou a qualquer um da sua família peculiar, isso lhe entristeceu, se sentia mais à vontade com eles do que com a própria família, uma lástima.

Os anfitriões anunciaram o início do evento agora que todos estavam presentes, em determinado momento os machos seriam direcionados para um salão com atividades, assim como as fêmeas iriam para outro, com atividades próprias para elas. Quando o momento chegou, Hera se sentia mais animada porque, normalmente, sua mãe se distraía ao extremo com as outras aristocratas, e esse era o momento exato para ela se distanciar e perambular pelo lugar.

Em algum momento Hera avistou Doberv do outro lado do salão, então sutilmente se afastou de Anna, que conversava animadamente sobre qual fosse o assunto. Hera foi até sua mais nova e única amiga. Apesar de no começo tê-la estranhado, agora, Hera via Doberv como uma pessoa da sua confiança.

— Achei que não viria — Hera comentou ao se aproximar. Doberv, distraída com alguém no meio do salão de festa, se assustou quando a abordou.

— E não vinha, só vim para conferir uma coisa — disse sem tirar os olhos do centro do salão, onde alguns lobos se arriscavam em dançar. Hera seguiu seu olhar e avistou a mais nova amante de Doberv.

— Está vigiando ela? — Hera perguntou curiosa e Doberv deu de ombros.

— O que eu posso fazer, não conseguimos fugir das armadilhas do coração, não é mesmo? — suspirou e Hera sentiu tristeza em seu tom, assim como em seu olhar. — Esqueça o que falei, às vezes esqueço que você nunca se apaixonou ou sequer se envolveu com alguém, mas um dia você vai saber como é, só espero que o seu desfecho seja melhor que o meu.

Doberv nunca ficava com uma amante por mais de uma semana, segundo ela, não gostava de se apegar. Se apegar, na sociedade em que viviam, era "pedir para sofrer".

Antes que Hera pudesse responder, uma jovem de cachos loiros e vestido verde escuro se aproximou, ela cumprimentou Doberv e fez uma reverência para Hera. Se surpreendeu por nunca tê-la visto, já que em tais eventos todos os convidados cumprimentavam sua família e ela.

Doberv fez as apresentações e mudou o tema da conversa, agora discutiam sobre as próximas festas da temporada e em quando se veriam novamente, já que pelo que Hera pôde ouvir, Rayssa, teria se mudado para a residência ao lado da de Doberv.

Hera avaliou bem a loba, ela não parecia o tipo de fêmea que frequentaria os chás na casa de Doberv, pelo contrário, ela parecia muito as damas que sua mãe insistia para que Hera fosse e conhecesse. Não só a aparência dela, mas seu jeito recatado e educado lhe fez crer que Rayssa não fazia parte do grupo de Doberv, o grupo que agora ela também fazia parte.

No meio da conversa sobre as próximas festas, Doberv se ausentou para ir de encontro a sua atual amante, deixando Rayssa e Hera sozinhas. A loba continuou no assunto dos bailes, mas como Hera não se interessava no assunto a conversa não fluiu.

— Você não gosta dessas coisas, não é? — Rayssa perguntou insegura e Hera sorriu dando de ombros, não respondeu para evitar falar demais, já que não a conhecia. Hera evitava socializar nos eventos porque as damas e aristocratas amavam espalhar fofocas e ela não queria incentivar falando o que não devia. — Do que gosta de conversar?

Hera bebericou o copo de vinho que tomava enquanto ganhava tempo para responder. A única coisa que passava em sua cabeça era como os olhos verdes dela combinavam com o vestido, e em como os lábios cheios e rosados de Rayssa eram atraentes, qual gosto eles deveriam ter? Hera desviou o olhar se perguntando de onde tinha vindo aquela curiosidade, nunca se pegou pensando naquilo.

— Você comentou que se mudou recentemente, vocês já entraram para a alcateia do meu pai? — Hera perguntou, reparando em como os olhos dela mudaram de tonalidade de repente.

— Sim, agora fazemos parte da Alcateia Suprema, minha família vai ser apresentada na próxima lua cheia. — Ela sorriu empolgada.

— Entendi — Hera devolveu o sorriso.

HERA - SPIN OFF DA SÉRIE ONE WOLFOnde histórias criam vida. Descubra agora