𝟓𝟑: 𝐌𝐚𝐫𝐤𝐞𝐝 𝐁𝐲 𝐅𝐚𝐭𝐞

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Kastiel Kaltain

Abri os olhos.

A escuridão foi aos poucos cedendo, permitindo que minha visão retomasse alguma clareza, ainda que turva pelos segundos que se arrastavam.

O ar ao meu redor era pesado, impregnado de poeira e umidade, o cheiro acre da sujeira misturava-se ao abafado ambiente, imediatamente despertando meu estado de alerta, mesmo que meu corpo gritasse em dor, cada articulação rígida, como se estivesse preso naquela mesma posição por uma eternidade.

Nadine.

O nome dela foi a primeira coisa que me atingiu assim que meus olhos se abriram. Minha mente latejava, uma dor surda que se espalhava pelo crânio, em sincronia com o peso esmagador que parecia afundar meu corpo. Ainda assim, ela dominava cada pensamento, cada célula exausta.

— O quê? Como assim vão enterrar ela viva? — uma voz masculina cortou o silêncio, seguida por uma risada distante.

Mantive-me imóvel, absorvendo cada palavra dita, ainda que sem uma resposta imediata. Provavelmente era uma conversa ao telefone.

Meus olhos, semicerrados, começaram a analisar o ambiente ao meu redor. Eu estava em um galpão isolado. Deduzi isso pelas janelas altas, pequenas, que permitiam vislumbrar o balanço das árvores lá fora, agitadas pelo vento.

— Me surpreende ela estar viva, a mulher é dura na queda — a voz soou novamente, agora mais próxima.

Meus olhos estavam abertos, atentos a cada detalhe, captando a conversa distante de um dos homens, que permanecia longe o suficiente para não perceber que eu já estava desperto. Meu corpo, mesmo dilacerado pela dor, parecia operar em um estado de alerta automático.

Os passos se aproximavam, acompanhados pela voz do mesmo homem, mais alta e clara agora. Fechei os olhos, fingindo ainda estar inconsciente, aguardando. O som dos passos ressoava no chão próximo a mim, acompanhados por uma risada abafada, enquanto ele seguia em sua conversa ao telefone, distraído, recebendo informações que eu precisava desesperadamente entender.

— Kastiel? Ainda como uma pedra, mas pode apostar que, quando ele acordar, eles vão precisar inventar uma boa história para convencê-lo — disse ele, com um suspiro arrogante.

Estou acordado, filho da puta.

Os passos pararam, o som de couro contra concreto, e o silêncio seguinte foi interrompido apenas pela respiração despreocupada do homem.

Abri os olhos lentamente. Ele estava de costas para mim, encostado à beira da cama de hospital, o telefone preso entre o ombro e o ouvido, sem suspeitar de nada.

Minha atenção desviou para o meu braço. A agulha do soro ainda estava presa à veia, o líquido gotejando no tubo. Sem hesitar, com movimentos lentos e calculados, arranquei a agulha. O desconforto era irrelevante. Enrolei o tubo de silicone nos punhos e me levantei, movendo-me com a cautela de um predador. O homem estava aos meus pés, distraído com a conversa.

Em um movimento rápido e bruto, envolvi o tubo em torno de seu pescoço, puxando com força. Ele reagiu instintivamente, tentando se livrar do aperto, mas era tarde demais. Seu corpo entrou em choque, os pés arranhando o chão em desespero, o telefone escorregando de suas mãos trêmulas.

Apertei com mais força, sentindo sua cabeça tombar contra meu peito. Seus olhos esbugalhados buscavam o ar que não viria. Inclinei-me, levando a boca próxima ao seu ouvido, a voz baixa, quase um rosnado.

— Vou perguntar uma única vez — murmurei, apertando — Onde está a minha mulher?

O homem se contorceu, murmúrios desesperados saindo de sua garganta. Seu desespero pela busca de ar o levou a agarrar o silicone, tentando se livrar, mas eu não afrouxei o aperto. Estava cego, consumido pela raiva.

𝐃𝐄𝐀𝐑 𝐋𝐔𝐂𝐈𝐅𝐄𝐑Onde histórias criam vida. Descubra agora