Minha Doce Porcelana

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Na manhã seguinte, Harry aguardava a chegava de Elena na entrada da escola, pois, depois que a deixara na noite anterior, não pôde parar de pensar em como ela estava, se havia dormido bem e em como estaria se sentindo depois da cena tensa que seu pai fizera. Ele olha para a esquerda e depois para a direita, sempre a procura daquela que se tornara o centro de sua vida, mas não a encontrando em lugar nenhum.

O ônibus de um amarelo extravagante, utilizado para trazer alguns alunos à escola, estaciona próximo à calçada, abrindo suas portas e permitindo que os alunos começam a saltar rapidamente de dentro dele. A última passageira, porém, era bastante familiar aos olhos mestiço, era Elena, que descia de forma lenta e precisa, prestando total atenção em cada passo que dava.

Harry franzi a testa assim que a ela se coloca de pé na calçada, porque nunca pegava a condução escolar, já que morava aos arredores. Por que faria isso agora? Ela percorre o ambiente com o olhar e assim que o avista, lhe dá um sorriso fraco e um leve aceno com a mão.

Ele se aproxima lentamente. Elena pensa em encurtar a distância entre eles, ansiosa por sentir o calor do seu abraço, mas, ao tentar firmar a perna direita para um mísero passo, a sente vacilar e rapidamente joga o peso de seu corpo para a outra perna. Ela estava mancando e, ao perceber isso, Harry corre em sua direção.

― Elena...

― Não foi nada, vamos para a aula – interrompe ela, sem se atrever a olhar para o seu rosto.

Elena começa a andar com dificuldade, passo após passo, e, numa tentativa de ajudá-la, Harry segura seu ombro com uma mão, enquanto lhe rodeava a cintura com outra, fazendo-a gemer baixo.

― Aí não, Harry, por favor – pede de cabeça baixa.

― O que aconteceu com você? – pergunta com evidente preocupação.

― Não foi nada.

― Não minta para mim, por favor, o que aconteceu?

― Meu pai, ele... – Engole o nó que se formava em sua garganta. – Me acordou no meio da noite para me repreender por tê-lo levado para casa.

― Ele bateu em você? – pergunta incrédulo, sentindo uma revolta dominar-lhe o peito.

Elena permanece muda, não querendo mais tocar naquele assunto. Entretanto, Harry não parecia disposto a simplesmente se esquecer. Ela estava de legging naquela manhã, pois fora a única roupa que conseguira colocar sem sentir tanta dor, e, aproveitando-se disso, o mestiço agacha-se ao lado da perna ferida e tenta levar a barra de sua calça, da forma mais delicada possível.

E antes que o tecido atingisse a altura dos joelhos, Harry pôde ver, horrorizado, o vergão avermelhado na panturrilha de Elena. Sua veia estava saltada e arroxeada, a marca perfeita de um espancamento. Aquilo certamente estava doendo muito.

― Como ele fez isso? – pergunta cauteloso, sem tirar o olhar daquela contusão.

― Cinta... – Suspira, envergonhada. – A fivela da cinta.

Harry se levanta num salto, sentindo a raiva consumi-lo por completo. Como aquele homem arrogante tinha coragem de fazer isso com a própria filha? Como ele tivera coragem de deixá-la naquele estado? Ele levanta o rosto da garota com o polegar, e seu próprio rosto se contorce em angústia, ao ver seus olhos inchados pelo choro e olheiras profundas o rodearem, indicando claramente que ela não dormira direito.

― Aquele desgraçado, eu vou matá-lo! – explode de repente, virando-se para sair.

Elena estende as mãos em sua direção, apressadamente, mas tudo o que conseguira agarrar foram apenas os dois últimos dedos de sua mão, fazendo-o paralisar no mesmo instante. Harry poderia escapar de seu aperto com facilidade, todavia, ele sentia a menina tão frágil e machucada naquele momento, que qualquer esforço que fizesse parecia poder quebrá-la como se fosse uma porcelana rara.

Leah 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora