Capítulo 10

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Acordei, fui ao banheiro, e estava varado de fome, quando muito tempo depois, abriram a porta.

Vi logo que não era ele, mas também não era o negro. Esse era mais baixo, parrudinho, quase gordo, branco como o leite.

- Onde está o outro que cuida de mim?

- Ocupado, coma, não quero conversa.

Sua voz era grossa, desagradável. Quando acabei, ele pegou a latinha, segurou meu rosto pelo queixo, e ficou olhando meu nariz inchado.

- Se comporte ou pode piorar muito isso aí - ele disse ameaçadoramente e saiu.

Ele tinha um hálito horrível. Fiquei esperando a próxima refeição, e mais uma vez foi o branquelo que levou, esperou eu comer, recolheu os talheres, fiquei aquela tarde toda sozinho, e comecei a me preocupar com o Beija Flor.

Teria acontecido alguma coisa? Estava louco por um banho, mas estava com medo de alguém entrar e fazer alguma coisa comigo. Andava no quarto, de um lado para o outro, até que bateram na porta.

- Senta aí, seu porra, está me incomodando.

Sentei na cama, e nem sei dizer quanto tempo passou até que o branquelo entrou e me deu outro marmitex. E assim aquele dia passou, acordei com ele mexendo em meus cabelos.

- Está com fome? - ele perguntou e pude ver seus olhos vermelhos.

- A farra ontem foi boa - disse encarando seus olhos inchados.

- Acho que nunca peguei um fogo igual - ele disse sentando em minha cama, enquanto me levantei e fui ao banheiro. - Acho que só quando enterrei o Lipe - ele continuou.

- Quem? - perguntei urinando e olhando para ele.

- Meu irmão, foi baleado tem uns quatro anos isso.

- Deve ser difícil, - disse - mas qual o motivo do fogo de ontem?

- Você. Acabei bêbado e sem decidir se tenho ou não direito de me meter na tua vida.

- Você é louco - disse completamente surpreso, lavando meu rosto.

- Vai devagar, minha cabeça está oca, doendo, minha boca amarga - ele disse deitando na cama.

- Você só pode ser louco - disse chegando perto, pegando o suco com o pão, e sentando na beirada da cama. - Se dá ao direito de me sequestrar, de tirar conclusões sobre a minha vida, sem nunca ter vivido um único minuto dela, e não sabe se tem o direito de se meter!

- Toma teu café - ele disse pegando uns papeis dentro do bolso do casaco.

- O que é isso? - perguntei curioso.

Vi que ele esperava que eu comesse.

- Como não consigo resolver, vou deixar para você decidir se quer saber o que tenho aqui - ele disse mostrando os tais papeis.

- O que é isso? Vai tentar me dizer que sou adotado, por acaso?

- Sem chance, meu príncipe, com a fortuna que te espera, você é igual filho de cachorro ou cavalo premiado, teu pedigree foi checado de vários modos. Quando tiver acesso ao cofre da casa, com certeza vai encontrar teu teste de DNA.

Dei uma latida, rindo, e terminei o suco.

- Espero que continue de bom humor, quer saber?

O Refém (livro gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora