Um Professor do Além

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Stephen era um cara gente boa. Chegou a trabalhar até os 40 e poucos anos, casou, teve uma menina. Aprendeu muito com a família e com os amigos. Acreditava que tudo poderia ser estudado, analisado, padronizado. Até mesmo o amor. Ele escreveu algumas teses sobre isso. Foram boas, mas nenhuma conclusiva. E aí, certo dia no bar, após contar uma piada sobre o sobrenatural, ele aceitou uma aposta dos amigos da universidade: Quem morresse primeiro voltaria para ajudar o amigo a escrever uma boa tese.

É claro que era brincadeira, porque Stephen era ateu.

Só que a vida é uma coisa engraçada. Você fala e ela vai lá e faz.

Ele saiu do bar, rindo, nem tinha bebido álcool. Entrou no carro, virou a esquina. Esperou o sinal ficar verde e seguiu. Um caminhão apareceu, desgovernado, e bateu nele. O bom é que ele não sentiu dor.

Desorientado, Stephen retomou a consciência.

No começo foi difícil para entender que estava de olhos abertos, de tão escuro que estava o local. Irritado, chamou a esposa.

- Helen?! Acabou a luz? Estou no hospital?

Ninguém o respondeu.

Levantou e foi tateando. Bem, tateando o ar... Stephen não achava nada, nem o chão! "É um sonho", pensou. "E que sonho inconveniente". Fechou os olhos e apenas permitiu sua mente vagar. Aos poucos ele sentiu seu corpo encher-se de ânimo. "Ah, deve estar amanhecendo!".

Abriu os olhos. Escuridão. "O que está acontecendo!?"

Stephen gritou o mais alto que pode, esperando que acordasse sendo estapeado por alguém. Aconteceu muito mais do que isso. Uma luz tênue passou como uma onda suave, clareando todo o ambiente ao seu redor. Ele estava do lado de fora do carro amassado. Seu corpo estava ali, dilacerado.

Por alguns segundos Stephen ficou chocado. Que brincadeira de mal gosto! Teria sido o Jack ou o Hernando? Um bombeiro passou correndo, com ferramentas para abrir o carro. Stephen tentou tocar-lhe o braço, para perguntar algo... e atravessou!

Tentou tocar mais uma ou duas vezes. Estava... estava...oh! Impressionado!

- Eu morri!?

Calma. Stephen não ficou desesperado. Não, não senhor.

Ele afastou-se e ficou a analisar sua casca de carne e osso sendo removida. Como sentiu falta de um bom estudo sobre anatomia. Estava então na forma de um espírito! E onde esse espírito estava antes? Seria dentro do coração? Ou em alguma partezinha do cérebro?

Cruzou os braços, chateado.

- Bem que poderia ter alguém por aqui.

Cof! Cof!

Espantado, virou-se ao som daquela tosse cavernosa. Era um rapazinho, de seus 16 anos, franzino.

- Billy!? - Stephen não sabia se abria os braços para um abraço ou se ficava só observando o rapaz se aproximar.

- Olha só, com apenas 40 anos, hein?

Era ele mesmo. O coitado tinha morrido em casa, por causa de uma maldita tuberculose. Tinha sido um dos melhores amigos de Stephen no colégio.

- Eu observei você a vida toda. Adorei a sua carreira. Estava indo muito bem.

Sorrindo, e ainda mais impressionado com aquilo tudo, Stephen não pode se conter:

- Então eu morri mesmo? E você está aqui por quê?

Billy deu um tapinha nas costas do amigo.

- Vem comigo.

Pacientemente, Billy caminhou pela avenida ao lado do amigo cheio de perguntas. Primeiro falaram sobre o que Stephen havia acertado em vida. Sobre seus estudos e como colaborou para a evolução de muitos alunos da universidade. Falaram sobre algumas teses de mestrado e doutorado. Até esgotar o papo e finalmente conseguir aproximarem-se novamente, como amigos.

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