O Julgamento das Amazonas

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Nossa general estava louca com todos aqueles acontecimentos. Perdemos a batalha nas Praias do Arco, perdemos toda a plantação de trigo, nossa Majestade estava doente e delirando em seus aposentos, a muralha caiu... e agora...

- MOVAM-SE! - ela gritava, procurando por uma luz no fim do túnel - Eu quero cada espada afiada! Cada uma de vocês MARCHANDO! MATANDO! QUERO OS INVASORES SECANDO AO SOL!

Era minha primeira vez na guerra. Não sabia ainda se ter facilidade com a lança foi algo bom ou ruim. Fiquei atrás das guardas de espada. Meu coração disparava a cada berro das comandantes. Quando vi a maior guerreira, abençoada com o nome de nossa deusa Diana, passar por nós... eu perdi o fôlego. Ela estava incrível com sua armadura leve, feita de couro de Dragão Negro. Seu machado duplo, feito de dentes, do mesmo dragão, era do meu tamanho! Minha Deusa!

Eu queria ser como ela! Não sei se me faço entender, mas sentir essa inspiração, num momento caótico como ter sua terra invadida... não sei se você entende o quanto é importante.

Eu sabia, bem como minhas irmãs de armas, que aquela guerreira era nossa heroína! Uma saraivada de flechas surpresa! Justo quando começávamos a batalhar de verdade! Pensei que fossemos morrer daquele jeito! Minhas pernas tremeram e eu quase caí, só que ainda não era a hora! Nossa protetora, Sirèn, surgiu do lago e puxou todas as flechas para si. Como seu corpo é pura água, as flechas foram lançadas à terra. Aumentando a munição de nossas arqueiras.

Não podíamos falhar.

Era nossa última chance. Diana já estava longe, girando seu machado, emprestando sua coragem para as outras lutarem com paixão! Subi em minha égua e segui aquela marcha, mas com toda velocidade! Ah! O vento me acariciava a face, me trazendo o cheiro da morte... ... Da morte de nossos inimigos!

- MATEM TODOS!

Uma de nossas comandantes perdeu um braço. Rapidamente uma irmã cedeu o cavalo e desceu para a luta corpo a corpo. Ergui minha lança, decidida a impressionar, assim como Diana. Sempre fiquei imaginando como seria matar alguém. Quando se trata de vida ou morte, você não pensa muito. Não existe esse romance todo.

Cravei a lança no coração dele, sem dó. Puxei-a de volta. Atravessei outro soldado, de costas. Alguém vinha importunar minha égua! Tirei a espada curta da cintura e decepei-lhe a mão. Girei a lança, troquei de braço, matei-o na hora. Nunca tenha dó, pois os desgraçados podem voltar no dia seguinte!

Segui Diana, não tão de perto, claro. Quando ela gira aquele machado não se deve estar ao seu lado. Voltei a atacar aqueles que me pareciam ao meu nível de iniciante. Atropelei, empurrei, atravessei alguns corpos e até decepei uma cabeça. A armadura deles era da pior qualidade.

Que ótimo!

Fizemos uma chacina. Ouvi novamente nossa general vociferar:

- REVISTEM OS CAÍDOS! ENFIEM A LÂMINA NO CORAÇÃO E NÃO HAVERÁ ENGANOS!

O som das lâminas atravessando cada um deles, o som do sangue esguichando...

Eu aprendi a apreciar rapidamente. Sei que não contei metade do que vivi, desculpe... é que tudo acontece muito intensamente. Muito rápido. Lembro-me perfeitamente de ter levantado muito antes de nossos galos cantarem, e agora o céu já nos presenteava um pôr do sol avermelhado.

Vi alguém esquentar uma espada até ficar incandescente, e depois cicatrizar aquelas que foram dilaceradas. Poucas gritaram. As que um dia tiveram filho sequer abriram a boca. São muito mais fortes do que eu. Somos muito mais fortes que aquele monte de homem tentando invadir nossa ilha sagrada.

A guerra não tinha acabado.

Era apenas um período de descanso. Só a Deusa sabe quantos navios, quantos intrusos, ainda teríamos que matar. Você não sabe o que eles querem? Eu te digo: eles querem nossos tesouros. Querem rasgar nosso nome da história. Acham um absurdo vivermos aqui, sem depender de nenhum deles. Acham um absurdo viajarmos para termos nossos filhos e então deixar os meninos para adoção e trazer as meninas para cá. Mal sabem que nossa maior ligação é com o falso deus deles. Entramos em suas igrejas, como freiras, e logo conseguimos sexo com algum padre, que se fará de santo em alguma missa depois. Ou mesmo com seus nobres guerreiros, que fazem questão de beijar a mão de suas esposas e dizerem que as amam.

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