Lua Cheia

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Elena passa por Lyssa sem se deixar apanhar, não querendo ficar mais nem um minuto ali, correndo o risco de ser ferida. Ela corria de maneira estranha, manquejando com a perna direita, enquanto sua mão apertava a coxa ferida como se pudesse fazê-la parar de doer.

― O que você pensa que está fazendo com a minha filha? – grita Lyssa furiosa, ao se aproximar do marido.

― Ela não é mais minha filha! – declara Carlos, caminhando em direção à casa.

― Mas é a minha!

Carlos entra na residência sem responder. Lyssa olha ao redor, envergonhada, já sentindo a tristeza apertar-lhe a garganta e sair por seus olhos em forma de lágrimas, visto que todos os vizinhos pareciam espiá-los de suas janelas, chocados com os tiros que ouviram. Um barulho abafado a fez voltar sua atenção ao marido, que jogava os pertences de Elena da sacada, onde outrora era o seu quarto.

― O que está fazendo, Carlos? – pergunta com voz chorosa.

― Expulsando aquela menina da minha casa! – Joga os cobertores e o travesseiro pela sacada, deixando-os cair sobre a grama fria. – Não quero rastro daquela traidora aqui!

― Pare, por favor, são as coisas de Elena! – implora Lyssa, chorando e correndo para apanhar os pertences do chão.

Roupas começam a voar sacada afora, de forma violenta e furiosa, fazendo a mulher chorar ainda mais e apertar os tecidos contra o seu peito. Lyssa nunca se arrependera de se casar com Carlos, pois, apesar de ter sido forçada, aquela união havia lhe dado Elena, a sua filha, sua eterna princesinha, que estava sendo arrancada de sua vida sem a sua permissão.

Um pouco longe dali, a desgarrada da família Noolan corria sem trégua, porque apesar da dor latejante, a adrenalina em seu corpo lhe dava forças para continuar. Assim que avista a entrada da floresta, Elena se dirige a ela, pois uma única pessoa preenchia seus pensamentos naquele instante e ela precisava encontrá-lo: Harry.

Horas e mais horas de caminhada se passam, e com elas, as energias de Elena. Ela não sabia que horas eram ou para que direção estava seguindo, suas pernas doíam imensamente e, depois de uma pequena parada para recuperar o fôlego, seu corpo amoleceu e foi ao chão.

Elena estava cansada e com medo, pois, se não estivesse na direção certa para a reserva, provavelmente algum animal selvagem sentiria o cheiro de seu sangue e a atacaria. Sua pobre mente logo para de processar as informações ao seu redor, desligando-se devido ao cansaço e deixando-a inconsciente por algumas horas, ali mesmo, na terra fria da floresta, despertando somente a noite.

― Essa não, já é noite! – surpreende-se ela. – Como vou achá-lo agora? Não enxergo um palmo à frente de meu nariz...

Elena força a vista, tentando saber de onde tinha vindo e para onde deveria seguir, mas tudo que conseguia ver era o negro da noite. A floresta era assustadora ao anoitecer, seu corpo tremia com o frio que caíra bruscamente sobre a região e seus ouvidos captavam ruídos estranhos ao seu redor, aumentando o seu pavor.

Feixes de luz despontam em meio às árvores, finalmente a ajudando enxergar algo além de escuridão. Elena eleva seus olhos ao céu e fica deslumbrada com a enorme esfera branca que lá cintilava, linda, perfeita e imponente. As nuvens eram poucas e, por isso, sua luz abriria sua visão em meio à densa floresta.

Um ar quente sopra em direção à sua perna ferida e em seguida em seus cabelos, fazendo seu contato visual com a lua cessar. As árvores não estavam a balançar, então por que sentia o vento em seus cabelos? E numa temperatura tão quente?

A humana se vira lentamente, arregalando os olhos com o enorme focinho a centímetros de seu próprio nariz.

― Lobisomem – sussurra apavorada.

Leah 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora