5 - Gerard

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 Era só o que me faltava.

Tudo o que eu precisava era chegar em casa, tomar uma boa dose de algo alcoólico e ir dormir. Esquecer aquele terrível acontecimento e ponto final. Ignorar os jornais e revistas no dia seguinte, fingir que eu não larguei minha esposa sozinha no altar e, depois, ainda tentar conversar com Evellyn no domingo. Algumas horas seriam o suficiente para ela ficar mais calma e eu conseguir me sentir melhor. Mas não.

Eu tinha que ter me esquecido da mais nova enrascada em que eu havia me metido. Deparar-me com o amigo de Mikey em meu apartamento era a última coisa que eu queria naquele instante.

A minha cabeça estava cheia, por um fio, e eu não ia conseguir lidar com o fato de que Frank precisava de minha ajuda. E de que ele era, particularmente, bastante esquisito para uma pessoa normal. Era muita ironia da vida eu ter que lidar com aquele tipo de coisa agora. Argh.

Ou azar. É, deve ser azar mesmo.

Eu gostaria de dizer que ele era apenas uma criaturinha esquisita e sem graça. Gostaria muito. E que Frank não me chamava atenção em nada e que seu jeito mais peculiar de portar-se era realmente algo lastimoso. Mas não era.

Frank era alguns centímetros menor do que eu, provavelmente batia um pouco mais acima de meu ombro, e vestia-se daquele jeito assustador: calças jeans rasgadas no joelho, um tanto quanto justas demais para ele e que, ao mesmo tempo, pareciam que iriam cair a qualquer instante; a blusa também era curta demais, de uma banda que eu escutava na minha pré-adolescência, e revelava mais do que deveria revelar, expondo parte de sua pele amorenada e da cintura com as carnes ligeiramente fartas repletas de algumas tatuagens que não conseguia identificar; os tênis estavam sujando o piso límpido do meu apartamento, mas isso não era o pior: eles eram completamente rabiscados por nomes aleatórios e completamente desconhecidos por mim; para completar, ele ainda usava alargadores e eu estava me perguntando o que diabos levava uma pessoa a fazer aquele rombo na orelha, quando percebi que Frank também tinha piercings. Duas argolas, uma no lábio inferior e a outra no nariz. E eu comecei a me perguntar, imediatamente, porque diabos Mikey andava com gente assim.

E as tatuagens. Eu não poderia me esquecer delas. Eu não consegui distinguir muito bem os desenhos em seu abdômen, mas eu havia conseguido fitar o escorpião em seu pescoço no exato instante em que Frank havia se aproximado daquela forma um tanto quanto intimidadora.

O braço esquerdo era praticamente fechado de desenhos, pelo que pude perceber. Particularmente, eu não me atentei muito a descobrir o que era cada um deles, mas era uma junção interessante e aleatórios que se encaixavam muito bem com a figura dele, embora eu ainda não conseguisse entender o que levava uma pessoa a desenhar-se por completo. O outro braço ainda era livre de rabiscos, mas eu pude constatar que havia uma pequena âncora, próxima ao interior do antebraço, com as siglas NJ a acompanhando. Lembrei-me que Michael me disse que o amigo era de NJ e todo o conjunto de Frank fez bastante sentido. New Jersey era mesmo um estado repleto de gente esquisita e não me admirava que Frank houvesse saído de lá.

E seus dedos... Eu não pude deixar de notar, enquanto Frank falava ou pegava a case no chão, em como eles se moviam e em como também eram igualmente desenhados. Tentei, por alguns segundos, identificar as letras, mas parecia que Frank era hiperativo demais para sossegar com aquelas mãos.

Aquele garoto parecia uma folha de rascunho. Uma página em branco completamente rabiscada, que alguém havia amassado e jogado por aí. No caso, havia jogado em meu apartamento.

Frank também era ainda mais excêntrico, pois suas sobrancelhas eram engraçadas. Não feias e bizarras, mas elas simplesmente eram bem desenhadas, ligeiramente arqueadas e lhe davam um divertido, ainda mais quando estava sério ou nervoso, como naquele instante. Aquelas sobrancelhas também realçavam seus olhos de um tom quase desconhecido por mim. Acho que eram amendoados, pelo que me pareceu, e eu apenas não me foquei muito neles, pois minha mente registrava, desesperadamente, que Frank usava algum maldito delineador para realçá-los. A esquisitice não podia ser pior.

Burn Bright || Frerard versionWhere stories live. Discover now