Capítulo 5

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Capítulo 5
Acordei bem tarde, a minha cabeça doía e o meu corpo estava frágil. Tomei um comprimido, e vesti uma roupa prática. Peguei no meu telemóvel e tinha uma mensagem do Harry:

“ Espero que tenhas dormido bem, Harry xxx”

Espera aí, dormido bem? Harry? Oh meu deus o que é que eu fiz na noite passada? A única coisa que me lembro é de estar no bar à espera de alguém sentada, e comecei a … beber! Boa!
Pus as mãos à cabeça numa tentativa de me recordar do que aconteceu na noite anterior, nunca tinha chegado ao ponto de beber tanto de me esquecer o que fiz, a única coisa que me vem constantemente à mente é de sentir umas mãos na minha cintura e de muita gente a dançar e música alta e álcool …
O nome Harry não me era indiferente, passei a tarde a olhar para a mensagem tentando- me recordar quem ele era. Será que tinha feito algo com ele?! Puxei e puxei pela cabeça até que de repente uns grandes olhos verdes surgem na minha mente.

"Não pode ser…"

Deixei cair o telemóvel ao chão , os meus olhos estavam arregalados e as minhas mãos tremiam. Era o rapaz do cabelo encaracolado , como é que eu estive com ele e não me lembro? Tinha agora a necessidade de saber o que aconteceu na noite anterior, tinha que saber o que fiz. Coloquei a vergonha de lado e marquei o numero dele.

“ Estou, Harry?”

“Vejo que alguém já acordou!” riu-se.

Ao ouvir aquela rouca, foi como uma magia em mim e lembra-me agora perfeitamente dele, e ainda pior, lembrava-me de estar a milímetros dos lábios dele. Será que nos beijamos?!

“Está ai Lia?”

“Oh meu deus, nós beijamo-nos?!” não consegui conter as minhas palavras, foi mais forte que eu.

“ Estivemos lá quase, mas não. Não me digas que não te lembras! Sabia que estavas alcoolicamente alegre, mas não tanto para não te lembrares!” 

“ Por favor Harry diz-me, fiz alguma porcaria ontem?” supliquei.

“Calma, não, não aconteceu nem fizeste nada… mas tu não te lembras nem um bocado de mim?”  A sua voz parecia ter mudado de tom, estava mais fria e mais triste.

“ Sim vagamente, acordei de manhã com aquela mensagem e fiquei assustada… “

“ Mas devias ficar mesmo. “

“ Desculpa?” tinha percebido perfeitamente, apenas não me queria acreditar.

“ Ouve, eu sei que deves de ter bastantes perguntas para fazer, mas eu já te agradeci por isso já temos tudo falado um ao outro.”

" Tu deves estar a brincar, à pouco parecias simpático e agora estás aí armado em parvalhão. Desculpa mas tenho o direito de te fazer as perguntas que eu quiser porque se não fosse eu tinhas levado com um tiro na porcaria da cabeça.”

“ Olha-me essa autoridade!” ameaçou-me
.
“ Medo, se quiseres calar-me e baixar a minha “autoridade” fá-lo pessoalmente” provoquei-o.

“ Para quem ontem se controlava tanto com o desejo de me querer comer, hoje está com a crista bem alta.”

“ Esta conversa por telefone para mim acabou “ finalizei.

Disse isto e desliguei-lhe o telefone na cara. Ele só pode estar a brincar se pensa que me deixo intimidar e que sou uma menina inocente, engana-se redondamente. Como é que ele pode ser tão rude? Mas se ele pensa que me meteu medo, está enganado.
Deveria ficar indiferente àquela atitude dele, mas algo se passou naquela noite, eu devo ter sentido algo que me impede de ficar indiferente a este lado rude e estupido.
Tentei esquecer-me daquele mau bocado, e já eram quase horas de jantar e eu liguei para o restaurante tailandês para pedir alguma coisa que o apetite de sair de casa não era muito.
Sentei-me no sofá a ver televisão, passando bruscamente os canais à procura de alguma coisa de jeito mas como sempre nada, só porcaria na televisão, nada que me cative. Acabei como de costume por desligar a televisão e atirar o comando para o outro lado do sofá. Fui para a janela apreciar a cidade que parecia nunca parar, sempre movimento na estrada, sempre os bares cheios, sempre luzes ligadas em todo o lado.
Fui interrompida pelo soar da minha campainha, finalmente o jantar, a minha barriga já estava a dar horas, dirigi-me para a porta, abrindo-a sempre pensando que me ia deparar como rapaz das entregas mas em vez disse deparei-me com o rapaz do cabelo encaracolado que fez uma força estrondosa fazendo a porta abrir até atrás. Notava pelos seus músculos e pelo seu rosto tenso que ele estava irritado, que estava enervado.

"Sim?" perguntei de forma seca e sarcástica.

Ele deu um sorriso fraco e falso e olhou brutamente para os meus olhos, o que me fez estremecer. Aqueles grandes olhos verdes pareciam agora que estavam a perfurar a minha mente.

 "Deixamos uma conversa pendente lembras-te?! " repostou com um tom de voz bruto.

" E era preciso quase me deitares a porta abaixo? Lembro, estás à vontade para entrar, senta-te se quiseres. "

Bruscamente, ele encostou-me contra a parede segurando os meus pulsos, provavelmente esta minha atitude tinha sido a gota de água na sua raiva. Harry fazia uma força incrível sobre mim, e a sua respiração era rápida, o seu peito encontrava-se contra o meu subindo e descendo velozmente. Seria aquilo uma tentativa de me assustar? Se foi não conseguiu porque a minha reacção foi deixar esvoaçar um sorriso, o que ainda o enfureceu mais e o fez pressionar contra os meus pulsos com mais força. Não podia continuar assim sob o controlo dele, se ele queria ir pela força, que seja. Coloquei rapidamente a minha perna em torno da sua, fazendo com que ele de desequilibra-se e assim deixando-me com a liberdade que precisa para me ‘soltar’ dele.
Olhei rapidamente para os meus pulsos que se encontravam agora vermelhos e doíam-me, uma coisa que eu não controlo é a raiva, e ao ver os meus pulsos neste estado, trouxe-me raiva ao de cima.
Em questão de segundos já ele estava recomposto, o meu olhar agora é de fúria contra o dele. Deu um passo em frente, pensando que eu iria recuar, mas permaneci no mesmo sítio. Ele estava com a sua testa encostada à minha, com o pé bateu contra a porta fazendo-a fechar e depois colocou a sua mão em volta da minha cintura, mas eu rapidamente retirei virando-me ao contrário segurando o seu braço e puxando-o o que lhe causou dor e consegui-me aperceber disso devido ao ligeiro gemido que ele soltou. Encostei-o agora a parede, com o meu antebraço no seu pescoço.

" Desiste. Tão depressa te salvo a vida como te a tiro." falei confiante.

Ele não respondeu, apenas deixou escapar um sorriso e com o seu pé rapidamente fez o mesmo que lhe tinha feito há pouco, só que desta vez ele estendeu os braços fazendo-me cair sobre ele. Estava agora nos braços dele, os nossos olhares eram intensos e a nossa respiração era inconstante. Coloquei a minha mão na sua face, passando a ponta dos meus dedos pelo seu rosto fino, e a outra em volta do seu pescoço, puxando-me para ele.
As nossas testas estavam agora juntas, sentia o seu peito no meu. O seu nariz tocou delicadamente na minha bochecha, os nossos olhares não se desviavam, subi agora a minha mão para o seu cabelo encaracolado, brincando com os seus caracóis perfeitos. O seus lábios iam agora tocar nos meus, já conseguia quase sentir o seu toque, até que fomos interrompidos pela campainha.

"Ah… eu vou abrir." informei. Fiquei embaraçada com aquele momento, e por mais que custasse admitir, estava a gostar dele. Agora sim era o meu jantar, agradeci e paguei ao rapaz das entregas, fechei a porta e vi o Harry virado para a janela olhando para a cidade. Enquanto pousava a comida em cima da mesa ele falou:

" Tens uma vista incrível daqui." Aproximei-me também da janela, e agora encontrávamo-nos os dois a olhar pela mesma.

" É, venho para aqui muitas vezes admirar a cidade." Isto é estranho e ridículo ao mesmo tempo. Em minutos, quase que nos matávamos, quase que nos beijamos e agora estamos aqui, simplesmente a olhar para a cidade como se nada se tivesse passado. Os meus pensamentos foram interrompidos com a sua voz rouca a questionar-me:

"Tu não tens medo?" 

"Medo de quê?"Não nos encarávamos, continuávamos fixamente a olhar pela janela.Houve curto silêncio entre as minhas palavras e as suas.

"Do que se está a passar agora na tua vida. Tu meteste-te no meio de uma luta entre duas pessoas, se elas estavam a lutar é porque algo se passou, ou estão metidas em algo e tu interrompeste isso o que te coloca a ti em perigo também… tu não tens sequer receio?" Tentei ingerir lentamente aquelas palavras, que faziam todo o sentido, e respondi:
"Devia?"
 
"No teu lugar eu tinha, acabas-te de te meter com criaturas perigosas que te podem fazer mal" declarou.

"Como se fosse a primeira vez."
Virei costas e debrucei-me no sofá, muitas memórias vieram ao de cima, coisa que fiz e que agora me arrependo bastante e quanto menos quero que elas venham à minha mente, elas aparecem. Um momento de silencio aterrador formou-se naquela sala, nenhum de nós prenunciava sequer uma palavra. Mas eu tinha tanto que lhe perguntar e pelo que vejo ele a mim.

"Porque é que … porque é que estavas a lutar com aquele homem?"
Ele saiu da sua posição e veio debruçar-me à minha beira no sofá, olhando agora para mim, com uma expressão de riso na face.

"E para que é que queres tanto saber isso?"

"Para ter noção na “perigosidade” em que estou metida". respondi.

"Negócios, não dos legais obviamente." algo na sua voz me dizia que estava a mentir, como se tivesse a inventar uma desculpa., mas fiz de conta que acreditei.

" Que tipo de negócios?"  questionei logo de seguida.

Ele colocou a sua mão no meu cabelo e respondeu:

"Daqueles que meninas não deveriam estar envolvidas."

"Hmm, já entendi que tu não me vais dizer." falei aborrecida.
" Pois não, vês como és inteligente." Aquela sua atitude estava-me a começar a irritar.

"Tenho que me ir embora. Não me procures, eu próprio apareço quando achar que devo." informou-me, como se eu quisesse saber. "Por mim não vale a pena apareceres." A sua mão inclinou o meu queixo para cima, fazendo-me olha-lo nos olhos.
"Podes querer que irei aparecer, muitas vezes!"

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