A Cigana da Meia-Noite

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A carruagem velhinha, mas toda colorida, vinha rangendo, trazendo aquele povo alegre. Pararam na praça e começaram a cantoria.

Uma moedinha, senhora, por favor?

Com suas roupas chamativas, dançavam o homem e a mulher, num romance invejável. As pessoas que passavam acabavam parando para aplaudir. Que lindo! Majestoso!

Bárbara foi uma das pessoas que comprou algumas bugigangas, tais como colares, amuletos, pulseiras, um pacotinho que chamaram de "kit mágico" e até pagou por uma leitura de mãos. Riu quando ouviu que conheceria o homem de sua vida. Agradeceu e foi embora, depois de uma selfie, é claro.

Chegando em casa, colocou as bugigangas sobre um vaso de terra e foi ler as instruções do kit mágico. Segundo aquilo, colocar as coisas sobre a terra é para energizá-las e assim poder usar em algum momento mágico ou necessário para sua defesa. Hum, interessante! Então os ciganos usavam coisas muito parecidas com as de bruxaria, que já havia estudado um pouco há algum tempo atrás.

Nas instruções do kit mágico, que acompanhava uma vela, uma fitinha rosa e umas moedinhas, dizia que seria encontrado o amor com a magia feita. Tinha um porém: somente poderia fazer em dia de lua cheia.

Bem, então teria que se apressar! O dia seguinte era dia de lua cheia e não queria perder essa chance. Afinal, só poderia ser um sinal!

Animada, pegou o celular e chamou uma de suas amigas, uma que também adora o assunto "magia".

- O quê? Mas você comprou coisa de cigano? Ai, Bárbara... mas pra que isso?

Meio sem entender o que acontecia, a moça deu continuidade na conversa:

- É, Amèli, eu comprei uns colarzinhos de pedra, mais uma coisinhas e esse kit para trazer amor! O que fiz de errado?

Já num tom mais bruto, a outra não perdeu tempo:

- Nunca misture magia de bruxa com magia de cigana! Ciganos são pessoas sujas e sem caráter!

Chateada por ouvir aquilo, e ao mesmo tempo sem saber como rebater, Bárbara apenas aceitou o conselho. Desligou o telefone e guardou o kit mágico que comprou dos ciganos.

Ciganos são pessoas sujas e sem caráter!

...

Chegando a noitinha, guardou os colares, amuletos e pulseiras que estavam na terra e deitou-se para dormir. Depois de uma batalha para fechar os olhos, finalmente dormiu.

Uma cortina de fumaça lilás subiu no quarto, junto de um perfume de ervas que ela bem conhecia. Era sua guardiã astral, uma senhora que se identificava apenas como A Bruxa.

"Bárbara, vá para a praça amanhã a noite... Dance à fogueira à meia-noite...."

O sonho, que também era uma visão, parecia ter sido curto, no entanto, a moça acordou somente com o despertador. Sete horas da manhã, hora de trabalhar.

Intrigada com a visão, ligou novamente para Amèli.

- Meu, se eu te contar você não vai acreditar: minha guardiã veio no meu sonho e me mandou ir na praça, e quando ela falou, eu consegui tipo visualizar a tal praça: era a mesma que eu vi os ciganos ontem!

A amiga, já bufando, procurou as piores palavras para desanimar Bárbara:

- Se liga, mulher! Não foi visão, foi só sonho. Você quer tanto fazer essa porcaria de feitiço cigano que até sonhou. Você sabe que a gente manipula nossos sonhos quando queremos muito uma coisa, não sabe?

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