A história de como eu fui totalmente apanhado por um triângulo - Literalmente.

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Dipper tinha acabado de ser expulso de casa.

Estava sentado, nas pedras de granito do passeio, enquanto era constantemente molhado, tanto pela chuva, como por carros que pisavam a poça d'água à sua frente – Mas eu não me queria mover. Estava completamente arrasado e a vontade não me permitira sair dali.

Só tivera tempo de colocar todos os seus sagrados livros, algumas mudas de roupa, coisas de higiene matinal e o meu notebook, antes de ser corrido para a rua. Deram-me, apenas, cinco míseros minutos para se pôr a andar dali para fora.

E, com apenas dezasseis anos, eu estava sem nada. Tinha perdido tudo, por entre os seus dedos. Wow, parabéns Dipper Pines! – Deves ser o sem-casa mais novo das redondezas, seu grandessíssimo idiota.

Decidira que fora uma boa ocasião para revelar a minha sexualidade aos pais, durante um jantar. A minha intenção era revelar que não conseguia, de maneira nenhuma, sentir atração por garotas, mas a realidade é que fui completamente despejado. Apesar de ter gostado de Wendy, a minha melhor amiga em gravity Falls, eu entendi que se estava a forçar a isso, para negar o que realmente sentia.

O pai passou-se, por completo. Derrubou a mesa de jantar, aos berros comigo. Ameaçou bater-me, dizendo que "Esta casa, jamais, alimentará e sustentará pessoas assim!!".

Já a minha mãe, começou a chorar. A chorar e chorar mais, gritando "Onde foi que eu errei?!".

E a Mabel, tinha ficado imóvel com a situação. Fora ela que me influenciara a contar, mas, com certeza, jamais esperaria uma reacção assim. 

O meu pai gritou algo como "Em cinco minutos, nunca mais te quero colocar a vista em cima!!". Mabel chorou muito; Chorou comigo, no quarto, ajudando-me a reunir tudo, antes que fosse espancado, ou assim.

Nunca a vi pedir tantas desculpas, na vida. Ela deve pensar que eu a odeio.

Sorri um pouco, lembrando-me de ela ter marcado uma hora para nos encontrar-mos, todos os dias, até isto estar resolvido, na loja de doces que ela tanto gostava, da cidade. Eu jamais a odiaria.

Mas o sorriso apagou-se, quando um outro carro me molhou. A minha mochila era impermeável, então ignorei a preocupação que surgiu, de momento.

Era oficial – Dipper Pines tornara-se um sem-abrigo.

Senti a vontade de chorar; "Mas homens não choram, Dipper" – Disse para mim mesmo.

Ah, mas quem queria saber, naquele momento, de ser homem ou não – Já nada disso importava agora. Eu precisava de uma casa e, ao mesmo tempo, de cuidados básicos para sobreviver.

Imagino como seria, naquele momento, se não tivesse dito nada aos seus pais – Estaria agora deitado na sua cama quente, lendo algum livro enquanto falava, entre risos, com a sua colega de quarto e irmã gémea.

Fechei os olhos, imaginando uma banheira quente, tomando um duche confortável, enquanto lia o diário, como fazia de vez em quando – Sim, eu lia, muitas vezes, tomando duche ou assim. Mas acho que todos os viciados em leitura já o fizeram.

Lembrara-me, então, que o meu notebook estava na mala. Pensei em ir para algum café free-wifi e contar-lhe mais ou menos da história, para ver se me deixavam ficar lá sem consumir nada, enquanto procurava algum local que abrigasse pessoas na sua condição.

Passou-se mil e uma ideias na minha mente, mas nenhuma me agradara ao ponto de arriscar. E a prova viva disso é que continuei ali, sentado, no meio de pedras de granito molhadas, a ficar, cada vez, mais encharcado. 

Claro. Deixei-me ficar ali –  No passeio, no meio de uma avenida movimentada, a ser constantemente ensopado por carros e uma chuva irritante.

E então, surgiu o triângulo ao fundo do túnel.

Uma mão, estendida e aberta, apareceu diante dos meus olhos, enquanto estava cabisbaixo. Senti a presença de alguém. Abri ligeiramente a boca de espanto, surpreso, levantando o olhar, para a pessoa em questão.

Era um rapaz. Ele sorria para mim, com um sorriso de canto. Usava luvas pretas, uma camisa que variava entre os tons de amarelo e preto, com um laço preto ao pescoço. Curiosamente, usava uma cartola demasiado estranha que não conseguia entender se flutuava ou não; Mas isso pouco importava.

Os seus olhos eram de um amarelo, brilhante, com as pupilas semelhantes às de um gato – rasgadas –. O seu cabelo era loiro por cima e preto por baixo, rebelde, que por algum motivo, gostara do estilo dele.

A outra mão estava atrás das costas, segurando uma bengala preta.

Mas, como disse, isso pouco importava; Porque ele tinha a mão estendida para mim.

" – Venha, Dipper Pines." – Disse, com uma voz grossa, calma e rouca. – "Você trabalhará para mim".


My little, sweet and loyal EmployeeOnde as histórias ganham vida. Descobre agora