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Gabriel

Há quatro anos me mudei para o Japão para fazer faculdade de engenharia. Mas esse não foi o meu maior motivo. A vontade de ficar o mais longe possível do Rio de Janeiro era o meu amor platônico pela namorada do meu irmão, Lia.

A vi pela primeira vez no ensino médio. Eu estava no último ano e Lia estava no primeiro. Tinha acabado de chegar à cidade. Seus pais eram dois religiosos fervorosos e que não permitiam que sua filha tivesse amizade com garotos. Foi uma luta para me aproximar dela por conta da marcação cerrada dos dois.

Posso afirmar que me apaixonei no momento em que coloquei os olhos em Lia. Ela era a típica garota solitária, sentava-se sempre na última mesa do refeitório. Muito estudiosa e sempre a primeira a ir embora.

Eu tinha dezoito anos mais já sabia o que queria para minha vida e Lia era uma dessas certezas.

Lembro que ao conhecer seus pais, eu estava mais nervoso do que quando fiz minha inscrição para a faculdade no Japão.

Eu esperava que com o tempo ela percebesse meus sentimentos, mas sempre me viu como um bom amigo. Mas eu era paciente e esperei.
Esse foi o meu primeiro erro. Quando Lia viu meu irmão mais velho Eduardo, foi como se ela tivesse conhecido seu príncipe encantado. Meu irmão sempre foi bom com as garotas, e já estando na faculdade, era um verdadeiro presente para as garotas.

Meu segundo erro foi não falar para Eduardo que eu estava apaixonado por Lia. Vi os dois se envolver, me deixando de lado e um enorme sentimento me dominou, o ciúme.

E por causa desse sentimento que eu cometi o terceiro erro. Os dois estavam namorando sem o consentimento dos pais dela, e no ímpeto, liguei para eles e contei tudo. Eu estava apaixonado e cego, não passou pela minha cabeça que Lia deixaria de falar comigo e que Eduardo iria me dar uma surra.

Nossos pais tinham morrido quando éramos ainda crianças e por conta disso, sempre fomos muito unidos, até Lia entrar nas nossas vidas.
Mesmo depois da confusão, nunca contei a verdade sobre meus sentimentos por Lia e quando a carta de boas vindas do Japão chegou, não pensei duas vezes, eu aceitei. Parti levando meu amor por Lia trancado a sete chaves no meu coração.

Não falo com os dois desde então. Fiz faculdade e criei laços com o povo oriental. Eduardo já cuidava das empresas da família e estava namorando Lia, não havia motivos para voltar ao Brasil após terminar a faculdade e receber o diploma de engenheiro.

Eu sempre fui informado pelos advogados da empresa como tudo estava indo e trocava alguns emails com Eduardo. Era o máximo de contato que tínhamos. Ele não mencionava nossa briga e eu não perguntava sobre sua vida.

Tudo estava indo como eu queria, até receber o email de Eduardo comunicando que ele e Lia iriam se casar. Isso foi no início do ano e receber a notícia foi como arrancar meu coração e dar para os leões. Mesmo quatro anos depois, eu ainda a amava. Lia tinha sido meu primeiro amor e pelo jeito seria o último. Envolvi-me com outras garotas, mas nenhuma delas tinha o jeito e o sorriso tímido de olhar quando eu contava algo engraçado.

Afundei-me ainda mais no trabalho e usei isso como desculpa para não comparecer ao casamento. Eu não iria suportar ver Lia subir ao altar com um cara que não seria eu.

Eu queria acreditar que esse amor um dia iria se dissipar, e talvez quando isso acontecesse, eu pudesse voltar para casa.

Estava saindo do banho, com uma toalha branca enrolada na cintura e outra secando os cabelos quando meu telefone tocou. Achei que fosse Mel, uma modelo brasileira que conheci em um evento em que participei como consultor. Estávamos saindo, mas nada de compromisso, apenas duas pessoas usando seu tempo livre para se divertir.

A sua esperaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora