Trust no one, é confiar numa ruiva relaxada e num cara que parece um texugo.

2.3K 196 202
                                    



Wendy esfregava as mãos, mexendo freneticamente o pé direito no chão, batendo com o calcanhar no mesmo, rapidamente, sentada na cama do seu quarto, que dividia com Pacífica. Soos, ao seu lado, coçava a nuca de cinco em cinco segundos e nenhum deles parecia motivado a começar a explicar as coisas.

Sentei-me, afundando-me na cadeira almofadada, dourada e preta, à frente de Wendy e Soos, enquanto mexia nos meus cabelos, retirando o meu boné. Coloquei-o nas minhas mãos, enquanto analisava cada canto do mesmo, como se ele se torna-se bastante interessante no momento, só para evitar contacto visual.

Então, após uns minutos de silêncio, Wendy decidiu dar o primeiro passo para quebrar o silêncio – Um longo suspiro, seguido de algo que murmurou e eu não entendi, mas não repetiu, então calculei que não fosse importante.

" – Eu...". – Comecei. Soos olhou rapidamente para mim, já que estava distraído a olhar para a janela grande do quarto de Wendy, com vista para o jardim. Carlie Brownie, a gémea de cabelo curto, anti-social, que lia livros à refeição a ouvir música nos seus Headphones enormes e verdes estava a cuidar de pequenas plantas. Para meu grande espanto, ela libertara um sorriso mísero – Que, para mim, já era um milagre.

Wendy não me olhou. Continuou a olhar para o chão.

" – Tu... Nunca mais disseste nada, Dipper". – Sussurrou a voz triste da ruiva. – "...Abandonaste-nos".

Com certeza, um tiro no peito teria doído menos que aquela afirmação.

" – W-Wendy...". – Não consegui dizer mais nada por dois motivos; 1) Não sabia o que dizer e 2) Ela interrompeu-me.

" – Espera-mos por ti no verão seguinte... E no outro. E no outro seguinte". – Continuou a ruiva, sem olhar para mim. Ela mexia lentamente os pés, nas suas botas pretas e sujas de lama seca, como se estivesse a fazer passos de dança em câmara lenta de uma música que o Soos tinha viciado, há muitos verões atrás e que ela odiava. – "O que... Aconteceu?".

Assim que ela terminou, olhou-me nos olhos. Os seus olhos verdes, com leves tons de azul fintaram-me, com preocupação, tristeza e, acima de tudo, desilusão.

Desilusão de ter sido abandonada. Trocada.

" – Ouçam...". – Comecei, jogando-me para trás, na cadeira e libertando um longo suspiro pelos lábios. Olhei para o teto, sem saber como dizer aquilo sem magoar. Uns segundos depois percebi que era impossível, então apenas disse o que me vinha ao cérebro. – "O meu pai... É o filho do irmão mais novo do Stahn e do Ford".

Soos não dizia nada. Parecia que ele não tinha coragem para falar o que a Wendy tinha dito, mas era a mais pura verdade – Ele estava tão magoado como ela.

" – Eles... Tiveram um desentendimento". – Continuei, fechando os olhos. Tapei-os com a palma da minha mão direita, com vontade de cravas as unhas da minha têmpora. – "A partir desse desentendimento, tudo o que tinha a haver com Gravity Falls, lá em casa, morreu. Essa palavra tornou-se... Proibida, por assim dizer. E isso incluiu o contacto com vocês...". – Terminei, num sussurro. Depois, ajeitei-me rapidamente na cadeira, olhando para os dois. – "Perdoem-me. Perdoem-me a mim e a Mabel, por não ter-mos dito nada, mas... Tinha-mos medo. O meu pai... Enlouqueceu, uns tempos depois, quando descobriu que a minha mãe tinha um amante. Tornou-se um homem que tinha ataques de fúria e...".

Não precisei de terminar para sentir algumas lágrimas a quererem descer dos meus olhos. Soos, no impulso, abraçou-me com força. Senti o meu corpo ser esmagado contra uma massa de gordura fofa, também conhecida como Soos.

My little, sweet and loyal EmployeeOnde as histórias ganham vida. Descobre agora