SETE ::: 16 de Setembro de 2001

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Carol abriu os olhos lentamente e piscou algumas vezes na tentativa de focalizar a visão. A sua cabeça pesava tanto que fazia parecer que trazia uma pedra em cima dela. A loira soltou um gemido de dor e, sem conseguir mais segurar o peso, pendeu a cabeça para trás sob o colchão. Assim que o fez uma forte onda de náusea rompeu no seu estômago. Por alguns segundos ela comprimiu os olhos e respirou fundo para aplacar o enjoo e não vomitar e quando conseguiu estabilizar, ela ergueu vagarosamente a cabeça e a inclinou um pouco para o lado.

Sua visão agora estava estabilizada, tanto da embaciez como da adaptação à penumbra que se fazia no local, o que a permitiu olhar mais atentamente à sua volta. Notou ser uma espécie de arrecadação subterrânea, cheia de enormes caixas de madeira amontoadas em todos os cantos das paredes de cimento.

A sua garganta ardia e arranhava por estar seca, e os lábios estavam enrugados e gretados devido à desidratação. Para completar com tudo, sua boca tinha um sabor esquisito e amargo, típico de quem acabou de acordar e não lavou a boca na noite anterior.

Tentou puxar pela mente do que tinha acontecido na noite passada, mas só conseguia lembrar de ter saído para uma festa com Kennan e pouco mais que isso.

Onde ela estava? Como tinha ido parar ali? Será que ela estava no porão da casa onde tinha ido festar? Muitas perguntas surgiram na mente de Bloom e nenhuma delas tinha resposta.

Aclarando a garganta, Caroline tentou pedir ajuda, mas os sons que emitia não eram o suficiente pra ela mesma se fazer escutar. Tentou molhar os lábios, mas a sua boca não produzia saliva o suficiente para o fazer.

Agora mais desperta, a mente de Car começava a desenvolver pensamentos. Ainda eram pensamentos simples, pois as fortes dores de cabeça não lhe permitiam a muito mais, mas era mais lembranças do que quando acordou.

Foi então que se recordou um pouco mais adiante da festa. Lembrou das músicas que tocavam, de Kennan ter desaparecido e de ela ter ido procurar por ele. Aos poucos sua mente ia ficando mais desperta e ela lembrou de o ter ouvido com outra. Depois disso ela entrou no banheiro pra chorar e... aí, aí nessa memória, faltava alguma parte que ela não conseguia lembrar muito bem. Apenas borrões indecifráveis.

A cabeça tornou a pesar e a rodar, os seus olhos secos pediam para serem fechados e aos poucos tudo foi se tornando cada vez mais distante.

Carol voltou a deitar a cabeça sob o colchão e tentou pensar se recuperar, mas seu corpo fraco não o permitiu e ela tornou a desmaiar.

Pouco tempo depois, um homem alto e forte entrou na arrecadação sem dificuldades, olhando diretamente para o corpo desacordado da loira com uma expressão indecifrável, porém hesitante. Com um balde de água em mãos ele se aproximou em passadas largas e firmes e despejou o conteúdo do balde no rosto dela.

Caroline acordou sobressaltada com o choque térmico do líquido frio contra o seu corpo quente e iniciou uma respiração descompassada e sôfrega. Olhou em volta totalmente desperta, tentando perceber o que se passava ali, mas ao cruzar olhares com aquele homem, não muito mais velho que ela, Bloom lembrou de tudo.

Seu rosto voltou a girar, olhando em volta para tentar encontrar uma saída, mas a única saída que havia estava bloqueada por ele. Poderia tentar correr e passar por ele, mas ela sabia o quanto o seu corpo estava debilitado e como sua cabeça ainda rodava, sem contar com a força assustadora que ele parecia ter.

Amedrontada ela se encolheu e o encarou confusa e suplicante.

— O-o que vo-cê quer de mim? — Carol gaguejava pelo frio e por medo. — Eu não tenho dinheiro. A minha família não pode pagar nenhum resgate... — A adolescente tagarelava nervosa e a cada palavra que ela dizia ela percebia o nível de raiva dele crescer pelo trincar do maxilar e o apertar das mãos em punhos.

— Eu quero vingança! — O homem trovejou entre dentes, chutando uma caixa ali perto e a desfazendo por completo.

Caroline arregalou os olhos e encolheu seu corpo mais ainda contra a parede, mas a sua sobrevivência dependia que ela entendesse a situação e talvez encontrasse um meio de o acalmar.

— Porque quer se vingar de mim? E-eu não conheço você. Me perdoe se eu alguma vez fiz algum mal... — Caroline tentou se explicar, na tentativa de provar àquele homem que ele tinha pego a garota errada.

— CALA A BOCA! Aqui só eu tenho o direito de falar, mas se você quer tanto saber o porquê de estar aqui, Caroline Bloom, a resposta está no seu namorado. — Ele contou colérico, iniciando uma caminhada inquieta pelo local, apontando o dedo para ela e a fazendo se sentir ainda mais amedrontada.

— O que quer que Kennan tenha feito, por favor, me deixa ir embora. As coisas entre mim e ele estão terminadas...— Ela tentou argumentar, odiando ainda mais Hunter por além de a ter traído a ter colocado naquela situação.

— Eu já falei pra você ficar calada! — Ele vozeou, se aproximando dela em passos determinados e rápido e esbofeteando o rosto da jovem sem qualquer piedade.

Caroline caiu sobre a cama velha e decrépita em que se encontrava sentada e sentiu em sua boca o sabor metálico do sangue.

Lágrimas brotaram grossas e pesadamente dos seus olhos e os soluços começaram a se engasgando na sua garganta.

Encontrando forças de dentro de si, a loira limpou o rosto e encarou o homem. A penumbra da arrecadação não lhe permitia ver nitidamente as feições dele, mas percebia uma ou outra expressão. Sabia que ele estava fora de controlo, pois respirava intensamente como se tivesse feito uma corrida, a boca se curvava pra baixo e os olhos estavam levemente estreitos e vermelhos.

Ele também a encarou e seus olhos se arregalaram, como se tivesse se arrependido do que tinha feito, mas não o demonstrou em palavras. Soltando um urro gutural, o homem esmurrou uma das caixas de madeira, a desfazendo em lascas e abrindo um enorme buraco nela.

Mais depressa do que quando entrou, ele saiu da arrecadação fechando com certa violência a porta de correr em ferro e a trancando pelo lado de fora.

Carol suspirou de alívio assim que o viu partir e limpou as lágrimas que banhavam o seu rosto e ao fazê-lo sentiu uma dor em seus lábios. Levou os dedos aos mesmos, sentindo o corte e a ardência latejar na superfície.

Se deitando no colchão desgastado, bolorento, empoeirado e agora molhado, a loira chorou copiosamente. Se perguntava qual a razão para aquilo lhe estar acontecendo e desejou pra tudo não passasse de um pesadelo.

Por longos minutos ela chorou e suplicou para acordar daquele maldito sonho, mas quanto mais o tempo passava, mais ela percebia que aquilo era bem real.

Quando tornou a abrir os olhos, ela estava mais calma e pronta para bolar um plano para sair dali.

Seus olhos correram novamente com os olhos pelo local. Além da porta principal Carol percebeu uma pequena janela de vidro, com uma película translúcida, do outro lado da arrecadação, bem no cimo da parede. Aquela poderia ser também sua alternativa de fuga, mas por hora ela precisava recobrar as forças, pois seu corpo ainda pesava e doía e ela não estava totalmente recuperada de tudo.

Pensando num plano, Caroline acabou por adormecer de exaustão, mas nem mesmo nos sonhos ela conseguiu fugir daquele pesadelo. 

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N/A: Voltamos aos relatos do que aconteceu com as três meninas principais.

O foco nas reuniões tem sido a Jackie porque foi o caso mais recente, mas todas as três têm a mesma importância na história, apenas de maneiras diferentes.

Espero que tenham gostado. Não deixem de votar, pois é importante para mim.

Nos vemos no próximo capítulo!

Stockholm [PT/BR]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora