DEZ ::: 03 de Julho de 2003

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Lacey petrificou quando sentiu aquele toque masculino no seu braço, subindo até sua garganta e a apertando sem muita força, apenas como uma ameaça.

Quis gritar, mas nenhum som saiu.

Quis fugir, mas nenhum músculo se moveu.

Quis reagir, mas o medo a consumiu como labaredas e o susto roubou os seus sentidos.

Agora, de novo acordada, a jovem suspirou aliviada ao abrir os olhos e perceber que ainda estava no seu quarto. Achou que tivera sido mais um dos seus pesadelo, mas essas certezas logo caíram por terra quando ela ergueu o rosto, olhou para um dos cantos do quarto e viu uma silhueta masculina sentado displicente a metros da sua cama.

Lacey piscou os olhos diversas vezes na tentativa de apagar aquela visão, desejando que fosse uma alucinação ou mais um pesadelo, mas o homem alto trajando umas jeans azuis escuras, uma t-shirt branca e uma camisa axadrezada aberta, de mangas curtas em cinzento, continuava ali.

Ele parecia perturbado. O seu rosto estava ocultado pelas mãos, que seguravam a cabeça pendida para a frente. Os pés batiam freneticamente no chão, fazendo seus joelhos abanarem na mesma intensidade.

Assim que percebeu a movimentação na cama ele parou e ergueu a cabeça de imediato, encarando a jovem de um modo assustador e doentio. Seus olhos, de um tom verde escuro, estavam arregalados e sem qualquer brilho. Ele tinha um ar totalmente abatido, o tom de pele moreno parecia demasiado pálido e uma ruga de incerteza ocupava o centro da sua testa, entre seus olhos.

Ele olhou fixamente nos olhos de Lacey e, bruscamente, se ergueu da poltrona caminhando na direção dela. Lacey se encolheu de medo contra a cabeceira da cama, temendo o que aquele homem fosse fazer com ela.

Ele aparentava ser pouco mais velho do que ela, mas suas feições carregadas envelheciam-no drasticamente. Agora mais de perto ela podia perceber que seus olhos estavam vermelhos e ela não sabia dizer se era sono, choro ou drogas.

— Por favor, não me faça mal! Eu sou muito jovem pra morrer. — Ela suplicou com a voz rouca do desuso.

O homem parou de andar no mesmo instante que aquela frase terminou de ser proferida e desviou o rosto para o lado, apertando com força os punhos, como se repugnasse aquela ideia.

— Matar. — Ressoou sua voz grave num tom de escárnio. Se denotava um sotaque diferente em seu inglês quase perfeito, mas ela não conseguia decifrar. — Eu não sou um assassino, garota! — Ressaltou com raiva na voz, a olhando fugaz e faiscante, o que fez Lacey se encolher ainda mais.

— Então que você quer de mim? — Indagou num fio de voz fraco e baixo, quase inaudível.

— Você não acha que é óbvio? — Questionou com um sorriso sem humor no canto dos lábios, erguendo as mãos e olhando o quarto com cobiça, não propriamente se referendo ao cômodo, mas ao interior do mesmo, todo decorado com requinte e com os tecidos mais delicados de enchoval, cortinas, tapeçarias, o aparelho de som e o televisor de última tecnologia, e todas as jóias e roupas caras espalhadas pelo mesmo.

— Leve tudo! Leve tudo o que quiser. — Ela se apressou a dizer, na esperança que assim ela conseguisse se livrar dele mais rápido.

— Não. Não tenho como levar tudo e vender. É de você que eu preciso. — O homem se negou, apontando com o dedo trêmulo para ela.

A adolescente demorou um tempo para perceber o que aquilo significava. Primeiro pensou que ele queria o seu corpo e temeu. Mas se fosse isso ele já o teria feito antes. Era sobre dinheiro. Lembrou então da sensação de vigilância sobre si há algumas semanas e percebeu o que ele queria.

Stockholm [PT/BR]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora