DOZE ::: 24 de Maio de 2008

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Jackie tentou se debater quando aquele homem a agarrou, tapando sua boca com uma das mãos e a puxando para dentro do carro com a outra, mas era-lhe completamente inútil. A exímia força do fotógrafo era imbatível contra a fragilidade feminina de Jackie. Com facilidade, o fotógrafo a atirou para dentro do porta malas e retornou ao lugar do condutor, dando partida a alta velocidade para bem longe dali.

Jackie gritava por socorro no porta malas, pontapeando o interior do carro, todavia a certa altura todo aquele esforço estava custando o seu ar. O oxigênio se tornava rarefeito e se Jackie não se acalmasse poderia muito bem sufocar e morrer ali dentro.

Começou por controlar a respiração, racionando todo o oxigênio que pudesse. Não sabia quantas horas ficaria ali presa e isso a assustava. Apurou os ouvidos pra tentar reconhecer o caminho, mas tudo o que ouvia eram os pneus raspando no asfalto. Asfalto esse incerto, pois Jackie sacolejava bastante dentro do porta malas.

A certa altura perdera a noção do tempo, poréms sabia que já se passara bastante desde que fora trancada dentro do carro.

Incerta de que seria brevemente libertada, Jackie fechou os olhos, cansada, e permitiu-se a adormecer e não percebeu quando o carro começou a diminuir consideravelmente a velocidade, nem quando finalmente parou.

O fotógrafo saiu do carro e abriu o porta malas, olhando preocupado para a adolescente inanimada e verificou a respiração dela. Suspirou de alívio quando percebeu que ela apenas dormia e acariciou os seus cabelos castanho claros com carinho. Envolveu os seus braços em torno do pequeno corpo da jovem e a carregou para dentro de casa.

Não sabia quanto tempo tinha dormido. Jackie abriu os olhos lentamente tentando enxergar o local onde estava, mas a verdade é que ela parecia continuar de olhos fechados. A escuridão assombrava o local e o embalava num berço de terror.

Jackie tateou o local onde se encontrava e sentiu uma colchonete fina e húmida estirada no meio do chão. Gatinhou pelo local tentando encontrar uma saída no meio daquela lugubridade. Aos poucos os olhos foram se adaptando à escuridão e Jackie começou a enxergar melhor o lugar onde se encontrava. Era um cômodo pequeno, mas bastante alto.

Não havia sinais de janelas, apenas uma porta, e existia uma bancada de mandeira do lado contrário de onde Jackie estava, com vários materiais fotográficos espalhados. Um pouco acima, estendia-se uma corda que ligava a parede até o outro extremo do quarto, onde várias fotos estavam penduradas. Jackie se ergueu e tentou ver o teor das fotos, mas estava demasiado escuro e nem com a sua vista adaptada ela conseguia enxergar. Largou as fotos num lugar qualquer e caminhou até a porta, apalpando a mesma em busca da maçaneta e colou a sua orelha na madeira, tentando ouvir algum som vindo do outro lado, mas apenas silêncio.

A porta estava trancada do lado de fora e não tinha puxador ou fechadura. Talvez fosse fechada a cadeados ou a outra coisa qualquer e isso a deixou num maior estado de desespero pois mesmo que quisesse fugir ela não tinha escapatória, teria de esperar que alguém lhe abrisse a porta. E se a pessoa que viesse fosse quem ela esperava, ela preferia se manter ali trancada para sempre, até definhar.

Jackie quis gritar, quis esmurrar a porta, quis sufocar de medo, mas estava sem reação. Como se nada daquilo fosse real.

E tudo o que escutava era silêncio. Nenhum zumbido, nenhum murmúrio, nenhum gotejar, apenas silêncio.

Se deixou escorregar até o chão e tornou a gatinhar em direção ao colchonete. Abraçou o seu próprio corpo trémulo e fitou o nada contando mentalmente os segundos.

1, 2, 16, 38, 110, 180, 260, 504, 1000...1001, 1002, 1003.

Então ela ouviu.... Ouviu passos em declive, como se descessem uma escada. Ouviu a porta a ser destrancada. Uma, duas, sete vezes. Respirou profundamente ouvindo o seu coração bater alto, forte e lento. O som da sua bílis subir e descer. O ranger surdo dos seus dentes. O som de um interruptor sendo ligado. Uma luz vermelha se acendeu no cômodo, ferindo um pouco a vista de Jackie, o que a fez comprimir os olhos e elevar uma das mãos aos mesmos. E de novo ela ouviu. Ouviu a porta ser finalmente aberta, passos caminharam até si, uma saca plástica sendo carregada, o som das calças a roçarem, o som do movimento.

— Que bom que você acordou. — E então ela ouviu o mais belo som de todo o mundo. Uma melodia em forma de voz. E do nada ela não mais sentiu medo. — Trouxe comida. — Jackie afastou a mão da face e abriu os olhos, lacrimejando pelo ardor que a luz lhe provocara, e então o viu e de novo aquele olhar perturbado a fez temer.

— Quem é você? O que quer de mim? Porque me sequestrou? Eu não tenho dinheiro. Ninguém da minha família tem, não vão puder pagar um resgate. — Sua voz saiu levemente rouca por ter estado sem falar há algum tempo e principalmente por ter estado a dormir minutos atrás.

— Dinheiro? — Ele interrogou formando uma ruga confusa no meio da testa. E depois sorriu, formando outras rugas nas pontas dos olhos, denotando a aparência envelhecida dele. Não devia ter muito mais de 30 anos. — Eu não quero seu dinheiro. Eu quero você, Jackie. — O modo como ele tinha dito seu nome fez seu coração apertar e seu estômago embrulhar.

— O que... você vai fazer comigo? — As palavras sairiam sussurradas e Jackie engoliu em seco arregalando os olhos amedrontada, sentindo lágrimas de medo se formarem.

— Eu esperei você por tanto tempo e finalmente você está aqui. — Ele esticou o braço tentando alcançar o rosto dela, mas não a tocou.

— Esperou por mim? Como assim? — A jovem estava confusa e amedrontada, mas ele apenas exibia um sorriso misterioso.

— Coma. Conversaremos depois. — O fotógrafo desviou o rumo das perguntas abrindo a saca que trouxera, exibindo vários recipientes de comida e uma garrafa grande de água.

Depositou tudo aos pés da jovem e de seguida ergueu do chão e caminhou até a saída.

Jackie percebeu que ele iria embora e deixá-la ali trancada e que aquela podia ser a última oportunidade para ela fugir. Nu átimo se levantou e correu atrás dele na tentativa de fugir ou simplesmente de impedi-lo de partir, mas foi tarde demais. Ele fechou a porta antes de ela conseguir alcançá-lo, fazendo com que o corpo dela chocasse contra a porta.

Jackie grunhiu entre gemidos e soluços, batendo os punhos contra a madeira, se encontrando novamente na escuridão.

— ME SOLTA. ME DEIXA SAIR DAQUI! ME DEIXA IR EMBORA. SOCORRO, ME TIRA DAQUI. — Hale gritava a plenos pulmões, mas de novo foi embalada pelo silêncio.

Apenas o som da sua voz ecoava pelo quarto, o som da sua respiração descontrolada e o do seu choro preso na garganta se faziam ouvir. Depois disso, nada. Porque além dela era só mesmo isso que ouvia. O silêncio.

Stockholm [PT/BR]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora