ⒺFINALE Ⓒ Parte 3

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O som da voz de Schuller soava cada vez mais perto para Theodore, que corria desorientado e furioso pelos corredores, caçando o paradeiro dos dois. Sua mente era um completo vazio, como se ele fosse um animal selvagem, irracional, procurando a sua próxima vítima e tentando proteger a sua cria.

O ódio por Schuller só não era maior que o ódio por si mesmo, que permitiu que o que estava passando na vida da sua filha e na de várias outras garotas, acontecesse.

Se ele tivesse desmantelado tudo após a morte do seu pai, talvez Brigitte não tivesse caído nas garras de Alf.

Talvez ele tivesse procurado por Mina e tivesse pedido perdão.

Talvez ele tivesse conseguido se redimir com ela e talvez ela o tivesse aceitado de volta.

Talvez os dois teriam criado a filha de ambos juntos e a oportunidade de serem felizes tivesse batido à porta e eles a teriam deixado entrar.

O que poderia ter sido não o seria mais e não bastava ter destruído a vida da mulher que mais amou, o seu negócio também tinha arruinado a vida do segundo amor da sua vida, mesmo achando que ela estava morta. Sua menina, sua filha.

Após percorrer mais uns quantos túneis, Stoker parou de correr ao ver sua filha encurralada na parede por Alf. Ela segurava uma arma e chorava desalmadamente e Schuller apenas gargalhava maquiavélico. Em algum momento ele conseguiu arrancar a arma das mãos dela e acariciou o rosto da garota, proferindo pérfidas palavras que embrulharam o estômago de Stoker.

— Isso entre nós nunca vai ter fim, Brigitte. Seremos nós dois para sempre, meu amor. — A reação da garota, ainda que chorosa, foi de puro desprezo ao cuspir na cara de Schuller que, furioso, ergueu a mão para estapear o rosto dela.

— Não se atreva a fazê-lo, Alf! — Theodore vociferou, tomando de surpresa o sócio.

— Stoker? O que você está fazendo aqui? — O homem recuou alguns passos para trás, mas agarrou a loira pelo pulso, a mantendo perto de si. Temia que o sócio se interessasse pela menina e a tomasse ele. Sabia como ele gostava de mulheres com olhos claros como Brigitte.

— Se afaste dela agora ou eu não respondo por mim — Stoker repetiu entre dentes, mantendo o olhar preso em Brigitte, que fungava e tentava se soltar do aperto da mão de Alf.

— Calma, parceiro, eu só estava caçando uma Ninfa fujona. Parece que ela foi a causadora da rebelião que estava acontecendo — tentou se explicar, mas Theo não queria ouvir mais nada, pois a cada palavra a vontade de o matar era maior que tudo.

— EU FALEI PARA SAIR DE PERTO DELA — ordenou colérico, erguendo a arma na direção do sócio e a destravando, pronto a disparar caso fosse preciso.

— Qual é, Stoker, vai agora querer defender? Não entendo porque razão veio aqui, você nunca tratou dos problemas com as Ninfas pessoalmente. Eu já cuidei da rebelião e vou punir todas as Ninfas devidamente. Essa, principalmente, vai receber uma reprimenda especial.

Alf não estava entendendo o surto do parceiro e tentava se justificar, mas quanto mais ele falava, mais Stoker se aproximava a passos enraivecidos e mantinha a arma apontada na cabeça dele.

— Você está brincando com o fogo. Eu sempre aturei suas merdas porque construímos um império juntos. Eu te deixei ficar com o título de chefe, de cabecilha, mas sempre fui eu quem teve o comando de tudo e se você pensa que eu vou me deixar ser ameaçado por você sem rebater, você está muito enganado. — Schuller agora apontava a sua arma para a barriga de Stoker e falava alteradamente, irritado com a atitude autoritária e estúpida do seu sócio.

— Acabou o império, Schuller. Elise está presa e ela vai te levar junto. E eu sei que você irá fazer o mesmo que ela e me levar também. Eu realmente não me importo. Não é por isso que eu estou aqui.

— Então pelo que é? — Schuller questionou de cenho franzido, para logo em seguida arquear as sobrancelhas e incendiar os olhos com raiva das palavras do outro.

— Por ela.

— O quê? Ela é minha Stoker, se atreva a tocar nela e eu te mato. — Alf empurrou Bree para trás dele e a manteve presa entre seu corpo e a parede, odiando imaginar Theo e ela juntos.

— Ela era minha muito antes de ser sua — Theodore murmurou, olhando com pesar para a jovem, que o encarava com confusão. Ela nunca o tinha visto antes, como ela podia ser dele?

— Não. Só porque você é o dono de tudo, isso não te faz dono dela! — Alf negou com raiva, empurrando Stoker para longe.

— ELA É FILHA DE MINA! — Stoker gritou, destravando a patilha de segurança da sua arma e apontando novamente a arma na cabeça de Alf.

— O quê? Theodore... eu não sabia. — Alf engoliu em seco ao perceber o que aquilo significava.

— Não há nada que você possa dizer para te salvar. — Percebendo o que aquelas palavras significavam, Alf franziu o cenho e disparou sua arma contra Stoker ao mesmo tempo que Stoker disparou a sua contra o rosto de Alf.

Os dois caíram no chão lentamente. Alf Schuller com morte imediata e Theodore Stoker se esvaindo em sangue.

Bree tapava a boca em choque, tentando absorver aquela conversa e fazer algum sentido dela, mas algo dentro dela parecia saber a resposta às suas perguntas.

Rapidamente ela se aproximou de Theodore e se agachou ao pé dele, tapando sua ferida e segurando em sua cabeça.

— Vá, fuja daqui... sua mãe... está lá fora te esperando — murmurou a custo, lutando para não desmaiar de dor e de fraqueza, mas ela abanou a cabeça em negativa. — Eu não mereço sua pena, Brigitte... tudo o que você... e sua mãe passaram... foi minha culpa.

— Não. — Ela se negou, segurando a mão dele por cima da ferida e querendo dizer mais alguma coisa, mas palavras não saiam. Ela sabia que ele tinha culpa, mas não conseguia fazê-lo. Estava adormecida por dentro, sem saber o que sentir ou pensar.

— POLÍCIA!

Uma figura masculina apareceu de repente com um grupo de outro policiais atrás, carregando uma veste anti-balas com os dizeres Interpol na frente.

Stoker ergueu o olhar e riu ao reconhecer o homem que proferiu tais palavras.

— Danïel.

— Você tem o direito de permanecer calado. Tudo o que você disser ou fizer será usado contra você em tribunal. E não se atreva a morrer, a promoção de Bauer depende disso — Däniel falou carregada ironia, se agachando para fazer pressão na ferida do cafetão.

— Katherina?! Por essa eu não esperava. — Ele murmurou, tornando a rir com vontade, ainda que as fortes dores mal o permitissem.

— Você precisa sair daqui. — Uma outra policial murmurou para Bree, que se mantinha agachada ao lado de Stoker um tanto paralisada.

— Vá. Eu não morro antes de conhecer você melhor. Isso se você quiser. — Ele murmurou para ela e a polícia que tinha falado para ela a acompanhou para fora dos túneis.

Bree caminhou lentamente e quando chegou ao corredor principal viu os seguranças do Ninho sendo presos e uma mulher ruiva sendo segurada por um homem de fato e gravata, que carregava ao peito um distintivo. Ela chorava compulsivamente por algum motivo e lutava para se soltar, mas o homem a mantinha presa a si. Não como se ela fosse uma criminosa, mas como se a quisesse proteger de algo. Mais atrás Brigitte percebeu Aletta agarrada a uma bela mulher de cabelos negros e olhos azuis. Essa mesma mulher encarava Bree com lágrimas nos olhos, como se tivesse visto um fantasma e a garota percebeu que essa poderia ser sua mãe.

Lentamente ela se aproximou e parou de frente para Clara, a encarando em silêncio.

— Mãe? — Sua pergunta fez a mulher se desmanchar em lágrimas e puxá-la para um abraço apertado.

— Minha filha. — Ela murmurou contra os fios loiros.

E ali naquele momento, Bree sentiu uma paz e alívio em seus braços, como se finalmente tivesse encontrado seu lar.

O fim tinha chegado e ele não tinha sido nem um pouco doloroso e definitivo como ela julgara.

Amsterdam [PT-BR] ▬ Versão WattpadOnde as histórias ganham vida. Descobre agora