TRINTA E SEIS

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Dentre todas as coisas que poderiam acontecer, a volta da minha prima, com certeza absoluta, não era uma delas. Era como se ela fosse um cometa meio raro e eu, uma cidade que, de certa forma, se amedronta com a possibilidade de ser devastada por ele. Ou ela, no meu caso.

Ainda meio desconfiada da ida repentina da Jess para algum canto, eu jantei e voltei para a minha nova "casa". Que, na verdade, é a cobertura luxuosa do Guilherme. Falando nele... Será que deu comida ao Nick? Ou jantou?

De qualquer forma, estou levando algumas quentinhas do restaurante. Só por desencargo de consciência.

Argh!

Eu sabia que isso iria acontecer. Quanto mais apegada fico, a preocupação se iguala na mesma intensidade. Isso já está tomando uma proporção grande demais. E, tenho medo de acabar me fodendo bonitinho no fim. Como transar, morar e conviver com um homem como o Fragoso e não se apaixonar? Alguém tem uma receita para me passar? Estou aceitando até conselhos...

— Joyce? Você aqui e tão cedo? Não ia jantar com a sua prima? — pulou do sofá onde descansava com o Nick ressonando perto das suas pernas. Tinha uma cara de sono e não demorou muito para me ajudar com as sacolas. — Por que voltou tão cedo?

— Também estou feliz em te ver, Fragoso — revirei os olhos. — E eu fui jantar com a Jess, ela só teve que sair antes mesmo de comermos, pois teve um imprevisto — falei e, repetindo as palavras, tudo fica ainda mais estranho. Se ela chegou agora na cidade, quem poderia querer vê-la além de mim? — Mas... — suspirei, fitando toda a cozinha meticulosamente arrumada — Você comeu?

Ele olhou durante alguns segundos a enorme travessa e afirmou.

— Comi, mas vou comer novamente... É, a...

Assenti, antes mesmo dele acabar de falar.

— À parmegiana.

Guilherme gemeu, sentando no balcão enquanto abria a mini-travesinha e os outros potinhos com acompanhamento.

— Oh, meu doce... — pegou um pedaço da carne com a mão mesmo, mastigando enquanto fechava os olhos — Você leu a minha mente, queria tanto comer algo diferente. — suspirou. Porém, minha mente estava bem longe.

Para ser mais exata, estava no propósito da vinda da minha queridíssima Jessyca para cá. Eu não sou a primeira pessoa na sua lista de contatos. Nós éramos e ainda somos como dois lados da mesma moeda. Sendo que ela é bem mais louca e impulsiva.

O Guilherme provavelmente a amaria.

Mais um motivo para eles não se conhecerem.

Ok.

Esse é o meu ciúme falando por mim.

— Você não está legal... — resmungou, de boca cheia, brincando de enlouquecer o coitado do meu cachorro que estava rodopiando com a ideia de comer um pedacinho de carne. Suspirei, sem responder. Não queria ter que explicar as minhas paranoias sem sentidos para o Guilherme. — O que realmente houve? Teve briga na gelatina? — porque esse tom de voz animado é familiar?

Bufei.

— Pelo amor de Deus, Fragoso. O que você anda assistindo para colocar essa mão em trabalho? — foda-se o pudor, o cara já me viu nua e me "estreou", não tem para quê ter vergonha dele...

— Sua prima falou algo?

— Para quê quer saber?

— Só por interesse...

O fitei com tédio.

— Ela parecia bem afetada quando saiu do restaurante....

Guilherme fez um som de "uuuuh" com a boca cheia.

O Sabor Dos Seus Lábios - As Whiter'sWhere stories live. Discover now