Oh! Minha Deusa...

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Quantas e quantas vezes eu me ajoelhei e pedi desculpas por um dia de reclamações?

Reclamei de minha dores, de minha falta de motivação para fazer algo. Nada me empolgava, nada novo, logo, nada fazia. Não sentia prazer no que normalmente faria com todo foco.

As lágrimas caíam de vergonha, o rosto queimando.

Oh! Minha Deusa...

Se alguém me pedia ajuda, eu fingia não ver, e voltava a me doer com meus problemas.

Se alguém pedia para ser ouvido, eu não podia ouvir e me retirava.

E lá estava, ajoelhada, pedindo desculpa, chorosa... Escuta-me!

Quantas noites eu larguei tudo e me cansei? Simplesmente não queria saber de nada que envolvesse me fazer pensar demais. Simplesmente...fugindo de responsabilidades.

Nada imposto, nada que alguém tenha me obrigado, ainda assim... responsabilidades.

Sei que não estamos nesta vida apenas para um longo passeio. Estamos aqui para aprender. Destravar bloqueios, entender problemas do passado, superar.

Oh! Minha Deusa...

Quantas vezes ouviu meus choramingos e nada disse?

Quantas vezes, desesperada, eu chorei pedindo um sinal, e nem um dedo moveu?

Quantas vezes eu a larguei e disse que para mim "bastava"?

Quantas vezes não levei à sério o que me enviava para estudar, ouvir, observar?

Em noites perturbadoras, ouviu meus gritos silenciosos, enquanto caminhava pela grama ou amaldiçoava as estrelas. Era teu nome que eu chamava em seguida.

De joelhos...

Aos prantos.

Em minha limitação mortal, pequei tantas vezes contra eu mesma...

Quantas vezes me obriguei tanto, à tantas coisas, deixando este corpo pesado, cansado? Certamente que meu corpo iria se recusar a dar um passo. Certamente que o corpo se recusaria a fazer o cérebro se alinhar com meu espírito, e assim ter inspiração para criar algo.

Quantas vezes me fechei, achando que o mal e o esgotamento vinha de fora, quando fui eu quem deixei as brechas e me esgotei com meus pensamentos rebeldes?

Quantas vezes neguei algo, por ódio, medo, preguiça ou sabe-se lá mais o que...

Oh! Minha Deusa...

E a Senhora, do Alto do seu Trono Celestial... A Senhora viu tudo. Chorou comigo, tentou me falar, e sei que me daria colo se isto me fizesse melhorar. A Senhora conhece a natureza humana, e sabe que mimar, infelizmente, não ajuda. Carregar no colo não faz aprender a ter força.

A Senhora, do Alto de sua Sabedoria, mesmo em dor, soube se calar, e me deixar pensar. Aprendi muito com meus erros. Hoje, tantas vezes, antes de começar uma reclamação, já me vem a resposta. Mas, só entendo por ter passado por tanto no passado. E por minha própria teimosia.

Eu sou tão grata por tudo.

Grata pelas broncas, pelas recompensas.

Agradeço por entender meu coração, ainda mais que eu mesma. Agradeço por estar ao meu lado e saber que eu jamais a abandonaria. Fico feliz em ouvir teu riso, quando se sente orgulhosa de mim.

Agradeço por saber que meus momentos de dor... são apenas momentos, e que passam, e eu sigo fiel às suas palavras.

Oh! Minha Deusa!

Eu fico tão feliz quando recebo uma missão em seu nome!

Eu só peço, minha Mãe, que saiba que às vezes o meu corpo tem algumas limitações... e meu espírito se frustra... fico desalinhada! A mente quer fazer e criar, o corpo quer apenas dormir, e espírito... O espírito quer sair desta gaiola de carne e sangue e ossos. Quer voar, encontrar a Ti, viajar pelos tantos planos existentes em tantas dimensões.

Eu respiro fundo e peço que, da sua Grande Sabedoria, me guie.

Guia-me nos momentos mais obscuros. Ainda que eu viva neste corpo, às vezes é tão difícil de entendê-lo. É difícil de entender quando ele só quer descansar, e se recusa a fazer tantas coisas maravilhosas que se há para fazer. Quando adoece, e preciso de pausa... mesmo quando tanto me chamam aqui e ali.

É difícil de entender que, mesmo que eu termine todo meu trabalho hoje, amanhã terá mais e mais... num ciclo infinito, onde nunca estarei com "tudo certo". Sempre haverá uma pendência, sempre terão imprevistos. A vida é assim, eu sei, mas é difícil de aceitar. Ah... mas é claro que a Senhora já sabe. E lá vou eu, refletindo, aprendendo, e a Senhora apenas observando, confirmando.

Oh, Minha Deusa!

Hoje eu me ajoelho e peço desculpas por não entender a lição do dia. Descanso também é necessário. Saber que, se eu morrer, tudo ficará aí, e os outros precisarão se virar também. Ninguém está totalmente desamparado... Basta que parem, e ouçam, como eu te ouvi! E que cada um tem um tempo.

Sim, mãe... Eu entendi.

Já é tarde, meus olhos ardem.

Há corujas nos galhos, me encarando, esperando.

É hora de mortais dormirem, sonharem.

Receberem sinais dos deuses.

E que assim seja, Mãe. Te espero em meus sonhos, com tuas palavras como Fogo, que removem todos os nevoeiros de minha mente.

E que assim seja.

GrimórioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora