capítulo-34

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Ele não precisa dizer, eu já sei, eu sempre soube, assinto com a cabeça e seu olhar se dirigi para as garotas que dormem perto dele:

- Elas já sabem?- pergunta apreensivo.

-Não.

-Jason- diz ele calmamente me segurando pelos ombros- elas vão descobrir uma hora ou outra, é melhor que seja por você.

- Eu...- um nó se forma em minha garganta impedindo as palavras- tenho medo.

- Todos nós temos- diz me soltando- mas é reconfortante vence-los.

- Poe, ela está envolvida também, você sabe quê, foi ela...

Não termino a frase, vejo a dor da perda em seus olhos negros, mas o peso que carrego nos ombros é maior...é culpa.

Enquanto caminho de volta a meu quarto, penso nos acontecimentos recentes, os ataques aos reinos, o sequestro do rei, nossa chegada aqui, de como fui trouxa ao não notar que tudo estava ligado.

Deito esperando que não consiga dormir, mas é só fechar os olhos que adormeço imediatamente:

Estou de volta no Palácio da água, uma sensação de paz preenche todo o local, o amplo jardim que se estende dos muros suntuosos até o outro lado, capturo cada detalhe da paisagem em meu caderno calmamente, até me recordar que tenho um compromisso importante, e vou me atrasar, de novo, coloco o caderno embaixo do braço e corro para dentro do Palácio, esbarrando em um guarda que guardava a entrada, ele arregala os olhos ao perceber que sou eu:

- Des...culpe-me se...nhor- gagueja.

Balanço a cabeça indicando que não me importo e continuo correndo, subindo as escadarias que parecem intermináveis, esbarro em mais alguém, que dessa vez vai ao chão com a força do impacto e ouço um murmúrio de dor, tento me concentrar e vejo uma garota de cabelos castanhos com mechas azuis, usando um vestido amarelo, no chão, a reconheço e imediatamente estendo a mão para ajuda-la, quando ela ergue os olhos acinzentados pra mim, coro sem perceber e desvio o olhar:

- Desculpe princesa estou com pressa- digo a ajudando a se levantar- você está bem?

- Estou sim não se preucupe- fala limpando a poeira do vestido.

- Hã... certo.

Ando disfarçadamente calmo, até chegar na esquina, então desato a correr novamente esperando não esbarrar em mais ninguém no caminho.
Finalmente chego a o escritório, a porta branca está entreaberta e escuto vozes... um pouco exaltadas, me encosto na parede para escutar melhor:

- Tobias vamos ser francos com você- ouço uma voz desconhecida falar- não pode estar realmente pensando em nomear aquele... monstro um membro do conselho.

Ouço um baque que parece um punho batendo com força na mesa:

- Ele não é um monstro!- retruca o rei- ele já salvou muitas vidas, merece ser recompensado.

- Ele é culpado pela morte de Tibério e Caio!

- Aquilo não foi culpa dele.

Sinto uma dor forte no peito e os olhos ardentes, levo a mão ao coração que parece ter se comprimido com a culpa:

- Vou torna-lo um membro honorário- diz a voz decisiva- e ponto final, depósito nele minha total confiança.

Sinto os olhos marejados e os enchugo com a manga do sobretudo, me recomponho e espero algum tempo para entrar na sala:

- Bom dia senhores- comprimento formalmente escondendo a raiva.

Eles me observam e encaram o rei então sem me dirigir uma palavra saem do escritório batendo a porta, não consigo esconder um sorrisinho de satisfação:

- Eu sei que você ouviu o que aconteceu- diz a voz dele me tirando do momento de alegria.

Viro-me sentindo as bochechas quentes:

- Desculpe- murmuro encarando o chão.

Ele se senta em sua cadeira e aponta para outra em sua frente, onde me sento também:

- Não precisa se desculpar- fala com os olhos se enrrugando com o sorriso.

- Mas eles estão certos- digo ainda sem olha-lo nos olhos.

- Não, você é uma ótima pessoa, que gosta de ajudar os outros e eu o respeito por isso, então você aceita um cargo no conselho?, preciso de alguém útil nesse lugar.

Sorriu assentindo repetidamente com a cabeça, sentido-me feliz:

- Outra coisa Jason- comenta- se acontecer algo comigo, me prometa uma coisa.

Me endireito no assento, surpreso com a mudança de assunto repentina:

- O que pode acontecer com o senhor?

- Nada filho- diz tentando me acalmar- mas preciso de uma garantia, me prometa que vai proteger minha menina.

Sinto meu rosto queimar novamente e abaixo a cabeça para que ele não perceba:

- Eu prometo, ela vai estar segura comigo.

Ele sorri, mas sua felicidade não alcança seus olhos:

- Há outra coisa que quero lhe dar- diz ele retirando um relógio do bolso, ele parece ser de bronze- esse relógio pode mostrar meu estado, se acontecer algo comigo, isso vai mostrar como estou, se ele quebrar, significa que...

- Eu sei- o interrompo- mas porque está fazendo isso?

- Não quero que você se atrasse para os compromissos.

Ele se ergue para frente segurando meus ombros com força:

- Precisamos estar preparados para tudo meu jovem, tudo, feliz aniversário Jason.

Acordo suando frio, passo as mãos no cabelo tentando me acalmar, levanto da cama incapaz de ficar parado, vasculho na bolsa até encontrar, o relógio de bolso, o abro e verifico as horas é madrugada e ele ainda está funcionando, ainda temos tempo.

1- Crônicas Elementares - Água E FogoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora