capítulo- 38

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Seus olhos estam arregalados e ela se aproxima devagar, fico parado ainda a observando do espelho, sinto seu toque gelado nas minhas costas:

- Você tem uma tatuagem- fala passando os dedos ao redor do desenho que tenho nas costas- por que pássaros?

- Eles significam liberdade- respondo calmamente.

- São três.

- Eles representam pessoas, pessoas... importantes pra mim, que se foram.

Não ouço respostas, ela encontra as cicatrizes de meu corpo e as percorre com os dedos, fico parado encarando meu reflexo:

- O que aconteceu com você?- pergunta e percebo que sua voz está embargada.

Olho para baixo e vejo seus olhos acinzentados marejados, e uma lágrima escorrendo por sua bochecha:

-Não chore- falo limpando a lágrima de seu rosto- eu gosto de te ver sorrindo.

- Mas... tudo isso, por que?

- Não ficou tão ruim, me deu um charme.

Ela da um sorriso tímido e volta a me encarar:

- Eu comecei jovem- explico- elas são antigas.

- Isso não está certo- fala espalmando a mão- ninguém deveria, ter tantos...

- Machucados?- completo- eu gosto delas, todas me lembram de algo, algo que não vou repetir, é aprender com os erros não é?

Ela ainda não me olha nos olhos:

- Eu não tenho nenhuma.

Levanto seu queixo a fazendo me encarar:

- Não só cicatrizes físicas, também temos psicológicas, essas nunca saram de verdade.

- Você tem algumas?

Não respondo a pergunta, ficamos apenas em silêncio, ponderando sobre como lidar com tudo isso, então ela finalmente parece perceber algo que não tinha notado, e seu rosto fica da cor do meu cabelo:

- Her, hã, eu vou embora.

- Tá certo então- falo inclinando o corpo para o lado.

- E- começa enquanto está saindo pela porta- não se esqueça de vestir uma camisa, não queremos as empregadas desmaiando pelas escadas.

Balanço a cabeça em negação e minha boca se curva num sorriso.

Acordo com o sol entrando pela janela, depois do quê aconteceu, resolvi sair da enfermaria e vim pro meu quarto, encaro o teto abobado, e penso em algumas coisas, sento na cama e vasculho a bolsa, encontro novamente o relógio e encaro seus ponteiros de cobre, ainda é cedo, incrivelmente tive uma noite calma e sem sonhos, de repente me pego pensando que depois que sai do país da água, nunca mais olhei a data, que dia será hoje?, já dormi com as roupas ontem, então apenas coloco o sobretudo por cima da camisa e saio andando pelos corredores, acho um guarda provavelmente novato, já que me lançou um olhar simpático, tem uma aparência jovem, os cabelos loiros dessarumados me lembram alguém, mas seus olhos caramelo me são estranhos, me aproximo retribuindo o gesto:

- Com licença eu sei que é uma pergunta estranha- começo- mas, que dia é hoje?

Ele inclina a cabeça para o lado, e vasculha o bolso do casaco:

- Hoje é dia... 6 de junho, Jason.

-Hã, não- murmuro cobrindo os olhos, e então notando algo- como você sabe meu nome?

Ele abre um sorriso tímido:

- Você não se lembra de mim não é?, eu imaginei que não.

Balanço a cabeça um pouco envergonhado, observo seus cabelos loiros e a pele bronzeada... céus:

- Thiego?

Ele assente com a cabeça:

- Como vai sua mãe?

- Ela está bem, mas um pouco preucupada que mais um dos seus filhos tenha entrado pra guarda real.

Sinto as bochechas coradas arderem, com vergonha e culpa:

- Eu... é...

- Relaxe- responde segurando meu ombro- eu sei de tudo, certo?, você foi uma ótima babá.

Franzo o cenho, me lembrando do garoto travesso que eu ajudava a cuidar:

- Com quantos anos você está?

- Bom- responde passando os cabelos para trás- estou com 15.

- Que ótimo, mas você não acha que deveria ficar em casa?

- Sei que está preucupado foguinho e tem motivos, mas eles foram minha inspiração, quero prosseguir com o legado deles.

Abro um sorriso para o garoto loiro ao ouvir o apelido que ele originou, meio sem jeito o abraço, e bagunço seus cabelos, me afastando:

- Mande lembranças a sua mãe por mim.

Depois que a onda de felicidade me atinge lembro-me quê provavelmente, terei de encarar mais um baile.

A caminho do salão principal ouço conversas do lado oposto de uma porta, e encosto a cabeça para ouvir melhor:

- Então quando vai acontecer?

- não tenho previsão, estou esperando o momento correto.

- os ataques continuam?

- Água não está atacando ninguém, ordens diretas da princesa, mas ar e terra estão se destruindo sozinhos, e no final, vamos acabar com todos de uma vez.

Abro uma fresta da porta com cuidado, e vislumbro um soldado, não consigo indendifica-lo, conversando com uma mulher, de vestido prateado e cabelos longos e brancos, quando ela me olha com seus olhos azuis gelo identicos aos meus e abre um sorrisinho, fecho a porta e aperto o passo pelo corredor, quando percebo estou correndo, a lembrança da dor aguda em meu peito me assombrando.

1- Crônicas Elementares - Água E FogoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora