Capítulo 4 (Parte 1): Razões

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Kasumi

Eu não esperava nada disso. E não me refiro ao beijo que Renan me dera somente, mas a toda a situação. Eu queria me manter calma, mas as coisas foram saindo do controle e só de ter falado a respeito daquilo me deixou abalada. Isso porque eu não contei tudo a ele, tem algo em particular que fez com que eu me separasse sem chance de volta.

Naquele momento, minhas emoções estavam fora de controle, mas quando Renan me beijou, o que creio não ter sido intencional, era como se tudo tivesse parado. As minhas preocupações com as ações de Felipe, a canalhice e mentiras do Glauco, os rumores que eram espalhados a meu respeito, as ofensas que sempre ouço a respeito de meus cosplays... Nada existia.

Posso dizer também que a sensação era diferente, comparado com minhas relações passadas, tanto com o Felipe, quanto com meus namoricos de adolescente. Por isso, e talvez por isso, eu não tenha impedido o Renan de fazer o que fez... Ou talvez eu não quisesse impedi-lo. Mas isso seria absurdo, eu o conheço tem duas semanas, eu não estaria... Ou estaria?

O fato é que ainda que o beijo não tenha durado muito, ele foi intenso... E proveitoso. Quando nos separamos, é como se um band-aid tivesse sido arrancado de mim a força. E a expressão de Renan é um pouco amedrontada, e considerando o que eu disse antes dele me beijar, eu até entendo. Na verdade parece que ele espera que eu lhe dê um tapa na cara.

–O-olha... – Ele gagueja, absolutamente vermelho. – M-me desculpe por isso... M-mas foi m-mais f-forte do que eu...

Eu não sabia mais o que queria, se queria continuar conversando como se nada tivesse acontecido, se queria ir embora ou se queria beijá-lo novamente.

–K-Kasumi? – Renan pergunta, com minha falta de resposta. – Professora Kasumi?

–Já falei pra não me chamar de professora fora da escola? – Reclamo, apesar de um pouco agradecida. Aquilo ali me tirou do estado catatônico em que me encontrava. – Agora, falando sério... Por quê fez isso?

Renan

Posso dizer que eu estou agradecido por Kasumi não ter me dado um tapa, me socado, ou me jogado do alto do Pão de Açúcar.

E por fim, ela perguntara o por quê de eu ter feito isso. Acho que depois de muito ponderar, eu deveria dizer a ela o que sinto.

–Eu não sei... – Respondo, pensativo, me apoiando no guarda corpo, enquanto observo tudo ao longe. Talvez se eu não a olhasse nos olhos, fosse mais fácil de falar. – Mas desde que eu a conheci, mesmo fazendo duas semanas, eu não consigo parar de pensar em você... E não é só porque você é muito linda, como aquele grupo fala, mas a sua inocência, a sua personalidade, sua gentileza, a maneira como você não desistiu de me tornar um cara sociável...

"Eu posso não conhecer muita coisa sua, não sei como foi a sua infância, nem que namorados teve... E ainda assim, a cada momento que estamos juntos, meu coração bate enlouquecidamente... Eu preciso me controlar pra não falar besteira na sua frente, e estou querendo me tornar alguém melhor. Então... É repentino, eu sei... Mas estou apaixonado por você, Kasumi."

A minha vontade, é de correr, me jogar, fugir daqui. Eu não quero ver a reação dela, tenho medo dela me rejeitar, apesar de ser esperado.

–Renan... Olha pra mim. – Kasumi pede, e eu me viro pra ela. – Eu queria dizer que você está confundindo os sentimentos, mas a verdade é que nem eu sei... Então... Se não for pedir muito da sua parte... Você pode me dar um tempo? – Minha expressão começa a ficar triste. – Não me refiro a nossa amizade. É só que... Isso tudo é repentino pra mim também. E não quero que isso que a gente criou seja abalado por algo ainda não definido. Só me dê um tempo, tá?

–... – Respiro fundo, sorrindo feito um maníaco por dentro. Isso significava que eu tinha chances, eu seria capaz de sair daqui agora cantando e dançando "Singing in the Rain", ou queimar a ponte de Londres cantando "London Bridge is Falling Down". – Tudo bem... Agora, poderíamos voltar a nossa programação normal?

–Se assim você quiser... – Ela sorri, e voltamos a curtir a tarde, como se não tivesse acontecido nada. Ok, talvez o tom de voz da gente fosse um pouco mais polido que antes, mas fora isso, nada de diferente.

Duas horas depois, voltamos pra casa, eu estava tremendamente satisfeito. Dera meu primeiro beijo e sei que pode ser só interpretação minha, mas acho que tenho chances reais.

Em casa, quando chego, animado, meu pai está assistindo televisão. Apesar disso, ele reparou no meu bom humor.

–Você parece que está de bom humor... Onde esteve, Renan? – Ele me pergunta. Meu pai era um cara bem rígido. Não por acaso eu trocara bastante de colégio.

–Fui visitar o Pão de Açúcar. – Respondo, casualmente. – Estava visitando ele com uma amiga.

–Amiga? – Ele coça a cabeça. – Você não é de ter amigos... Ou mesmo amigas.

–Tem sempre uma hora pra começar, não?

–Bem, se essa amiga conseguiu te deixar de bom humor, deve ser uma boa pessoa. Ela é como nós?

Não respondo, enquanto vou pro meu quarto. Bem, meu pai tentara durante anos me apresentar filhas dos sócios dele, mas todas elas tinham uma característica em comum, além do fato de não terem nada em comum comigo: Todas eram da mesma cor de pele que eu. Não que eu tivesse problema com a cor de pele, mas o meu pai por muitas vezes se mostrou um sujeito bem intolerante. Só imagino o chilique que ele daria, se soubesse que estou apaixonado por uma asiática.

(CONTINUA)

Paixão Destinada (Versão Revisada e estendida)Onde histórias criam vida. Descubra agora