Capítulo 4 (Parte 2): Razões

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Kasumi

"Eu posso não conhecer muita coisa sua, não sei como foi a sua infância, nem que namorados teve... E ainda assim, a cada momento que estamos juntos, meu coração bate enlouquecidamente... Eu preciso me controlar pra não falar besteira na sua frente, e estou querendo me tornar alguém melhor. Então... É repentino, eu sei... Mas estou apaixonado por você, Kasumi."

Essas palavras ditas pelo Renan me deixaram mais abalada do que deixei transparecer. Eu pensava numa coisa, enquanto tomava banho horas depois. Onde foi parar a força daquela menina que terminou a relação com o namorado por causa da escrotidão dele, e que tempos depois deixou finalmente a casa dos pais pra trabalhar em outro estado?

Aquele beijo que ele me deu... Por quê eu não evitei? Por quê não parei? O Renan não tinha absolutamente nada de especial, ele era um jovem regular como todos os outros... Ok, um jovem regular sem amigos, mas no geral como outro garoto qualquer.

Mas, quando penso no quão gentil ele foi comigo, o quanto ele considerou meus sentimentos, na hora de se desculpar pelo beijo, e comparo com o que o Felipe fizera... Aquele dia não saia da minha cabeça.

Outubro de 2016, São Paulo

Eu havia terminado com o Felipe faziam dois meses, ele insistia para que voltássemos, falando que iria mudar, que seria diferente, que ele me amava de verdade. Eu não acreditei em nada, pois era a mesma ladainha que ele usava quando brigávamos em nossa relação.

Na última semana, ele mudou o discurso, ao invés da baboseira de mudar, paz e amor, ele disse que eu me arrependeria profundamente se não voltasse com ele. Claro, eu não acreditei. Foi um erro, que descobri tarde demais, naquele sábado.

Eu voltava do Shopping, onde tinha ido comprar alguns livros relativos a disciplina que iria começar a lecionar no ano seguinte, além das coisas para a festa de Dia das Crianças que a família Oyokawa organiza aqui na cidade, para ajudar as crianças carentes, e o que encontrei em casa... Bem, eu definitivamente me arrependi, não por ele... Mas por causa do que aquele canalha fizera.

Tempo Presente

A diferença entre os dois era gritante. E, não sei se isso poderia contar como uma vantagem, mas Renan era um garoto bastante ingênuo, ao menos se considerar que ele tem dezoito anos. Se bem que ingenuidade não é a palavra exata. Inexperiente combina mais, apesar de não importar muito.

O que ao mesmo tempo me incomoda e me deixa um pouco contente, é o fato de eu dedicar muito tempo a esse pensamento, então é melhor eu deixar isso de lado por enquanto e focar na porcaria do meu trabalho. Tem muito material pra preparar em relação as próximas semanas, testes e trabalhos a se criar e aplicar. Considerando os dois turnos e as três séries, isso vai levar um longo tempo.

A semana seguinte passa rapidamente, os poucos momentos que tenho pra conversar com o Renan, acontecem quando nos encontramos no ponto de ônibus indo pra escola, onde conversamos algumas coisas banais e nos momentos que o observo na escola, ele está se esforçando mais, tanto nas aulas, quanto pra socializar com os colegas.

Isso me deixa feliz, considerando o quão entediado ele parecia, mostra que aos poucos ele está querendo se tornar uma pessoa melhor e só esse fato já me deixa um pouco contente.

Você pode achar isso meio ingênuo, ou idiota... Eu mesma acharia, mas bem... A verdade é que vez ou outra acabo pensando no beijo que tivemos e uma sensação quente invade meu coração. Será que eu estaria realmente gostando dele com pouco tempo de amizade?

Renan

A semana após aquele beijo no Pão de Açúcar passou de maneira extremamente lenta, embora as conversas triviais que tive com Kasumi no ônibus tivessem sido rápidas demais. E por outro lado, eu realmente tinha jeito pra esse negócio de socializar, já estava conversando com os outros alunos e participando de algumas atividades.

Pra ser sincero, o negócio não era tão ruim quanto eu pensava. E graças ao Juan, eu pude voltar ao grupo de "admiradores", no qual o professor Glauco, liberou o suposto vídeo da Kasumi. E eu o assisti.

Claro, eu já sabia que não era ela, mas eu queria ver qual era a lorota que ele colocaria no grupo. E estranhamente o vídeo era familiar, porque bem... Eu era familiarizado com o material de certos sites adultos... Sem contar que a voz da mulher não era nem um pouco parecida com a dela.

No sábado seguinte, estou em frente ao computador montando um certo dossiê pra publicar na internet, em específico desmentindo as montagens difamatórias de Glauco, concluindo com o vídeo. Sim, eu não tinha mais o que fazer, e queria fazer isso pela Kasumi, ela não merece que esse babaca ficasse difamando ela. Claro, eu não assinaria com meu nome, pra evitar represálias, tem gente que não gosta de ser desmentida.

E quando termino tudo, continuo sentindo um vazio, não tenho mais o que fazer pelo resto do fim de semana. Então, faço a única coisa lógica. Pego meu telefone e ligo pra Kasumi.

Um toque. Dois toques. Um clique.

–Alô, Renan? – Ela reconhecera meu número. E sinceramente, eu poderia desligar naquele momento, porque só de ouvir a voz dela, eu já estava satisfeito. – Renan?

–Oi, Kasumi... Tudo bem? – Agora que ela atendera, eu percebi que realmente estava sem assunto.

–Estou sim... Por quê me ligou? – Kasumi pergunta, o tom de voz confuso.

–A verdade é que eu não sei... – Falo com honestidade. – Acho... Acho que eu só queria ouvir a sua voz.

–... – Silêncio no outro lado da linha. – Eu não sei se acho isso encantador, ou esquisito, Renan.

–Mas é verdade... E por favor, fique com o encantador. – Digo, apressado. – Não quero ficar com fama de perseguidor. Já deu trabalho conseguir colegas, não sei se eles vão falar comigo se descobrirem que sou um stalker...

–Já que você pediu com jeitinho... – Kasumi ri, inocentemente. Eu adoro essa risada dela. – O que você está fazendo?

–Aproveitei o fim de semana pra comprar algumas visual novels. – Conto, o que era verdade. Como eu estava pensando nela sem parar, decidi conhecer um pouco mais desse hobby dela. – Minha lista de downloads do Steam está enorme.

–É melhor sempre dar um tempo entre uma visual novel e outra. – Ela aconselha. – Ou você vai acabar enjoando do gênero com pouco tempo.

–Bem, você podia me dar umas dicas do que comprar pra preencher esses espaços. – Eu falo, pra continuar a conversa.

–Se é assim... – Kasumi fala, e tenho certeza de que se tivéssemos presencialmente, ela teria dado de ombros.

E a conversa continua por um bom tempo, com Kasumi me dando dicas de jogos que eu poderia comprar, entre indies e jogos grandes. Alguns não faziam a minha praia e outros eu já tinha, mas ainda assim é uma conversa que rende bastante. Tanto é que quando percebo, minha mãe está batendo na porta do quarto, e ao olhar o relógio, vejo que já é quase hora do almoço.

–Caramba! – Digo, assustado. – Já é meio dia. Olha, eu vou indo. A gente se vê na segunda!

–Até segunda, beijo, Renan! – Kasumi desliga e meu coração para com a frase "Beijo, Renan".

(CONTINUA)

Paixão Destinada (Versão Revisada e estendida)Onde histórias criam vida. Descubra agora