O Oráculo

137 15 6
                                    

Eu nunca fui muito de acreditar em tudo que me dizem. Não por rebeldia, apenas por não sentir veracidade, por não fazer sentido. Qualquer coisa muito fora da normalidade já era coisa de filmes ou um feito de alguém muito espetacular.

Algo como... Uma pessoa meditando por horas? Ah, qual é! Somente os monges budistas do Tibete fazem isso, afinal, eles moram lá nas montanhas e não tem muito o que fazer.

Precisava fazer sentido, ter contexto. Ninguém, nessa vida corrida e moderna que temos, tem condições de fazer qualquer coisa desse tipo.

E eram pensamentos como estes que me vinham quando a amiga da minha irmã foi em casa, com aquelas cartas, falando que ia ver pra gente o nosso futuro.

Mamãe se animou toda. Ela tinha visto em uma novela sobre uma cartomante. Só ficou um pouco desapontada por não ver a tal bola de cristal e pela garota ter vindo nos visitar com roupas comuns. Sim, ela queria aquela patifaria de véus e roupas excêntricas.

Minhas irmã, bem... ela gosta dessas coisas. Foi ela quem convidou a garota. Disse que ela me diria porque eu não tinha um namorado. É, é claro que ela ia...

Dei meu melhor sorriso. A moça não precisava ser maltratada só porque eu não entendia o alvoroço da minha irmã e da minha mãe. Só porque, pra mim, aquilo era só ma brincadeira. Um jogo, como ela mesma dizia, um jogo de cartas.

Helen, era o nome dela. Abriu o baralho sobre a mesa, tarot - se não me engano, e começou a dizer sobre mamãe. No mínimo tinha ouvido minha irmã falar da nossa vida, memorizou, ou olhou no Facebook, e agora estava ali, falando e falando. U-a-u... Quem acredita nisso? São apenas cartas de papel!

Falou que minha mãe não precisava se preocupar com meu falecido pai, pois ele estava num lugar melhor agora, Ah vá, jura? Falou que o emprego dela era estável, então era só viver feliz.

Choro, agradecimentos, blá blá blá. E pensar que a pessoa ganha a vida com isso.

Aí foi a vez de jogar para minha irmã.

Falou sobre o trabalho também, mas a notícia não foi boa. Supostamente a empresa estava indo mal das pernas e logo menos iria falir, e para não falir, mandaria muita gente embora, possivelmente minha irmã também. Aham... Falou de um rapaz, um amigo que ela não notava, que gostava muito dela. Que se ela desse uma chance pra ele, seriam bons namorados, possivelmente casariam.

Essa moça é porreta, não é mesmo?

Então chegou minha vez. Eu não queria, mas minha querida irmã já havia pagado a "consulta" por mim. Segundo minha irmã, eu precisava ouvir alguém de fora.

Que no mínimo ela já havia contado toda minha vida. Claro.

Dei de ombros. Já estava pago mesmo, não é?

Helen abriu as cartas e começou a falar...Disse que meu trabalho estava bem, que quanto a isso poderia ficar tranquila. Falou que eu estava desenvolvendo um sério problema no útero, e que seria bom ver um médico. Aham.... E por fim, falou que eu não tinha um namorado porque eu não queria. Simplesmente eu dava um fora em todo mundo, afastava as pessoas, e depois reclamava que não tinha ninguém.

Ah, mas eu quis enfiar a mão na cara da vagabunda!

Como que eu não quero um namorado? Como que eu afasto as pessoas? Até essa maldita eu tratei bem! Não dei um comentário irônico! Aí eu tive que falar:

- Olha, Helen, essa parte eu não concordo nem um pouco.

Ela apenas sorriu. O que ela estava pensando?

- Eu quero sim um namorado. E eu não afasto as pessoas, trato todas elas muito bem.

Sorrindo, ela continuava...sorrindo. E assentindo!

GrimórioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora