Capítulo 15 (Parte 1): Ano novo, Omikuji novo

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Renan

Depois do Natal, decidimos que após a virada de ano, faríamos uma viagem a Kyoto, antiga capital do Japão e passaríamos alguns dias lá visitando diversos pontos turísticos. Então pra não perdermos tempo aqui em Tóquio, o período entre Natal e Ano Novo pra gente foi extremamente corrido, já que visitamos vários locais daqui.

Desde a colorida Harajuku (um popular distrito de Shibuya, que era o centro da moda jovem no Japão, onde várias pessoas se vestiam de maneira extravagante, e tenho certeza de que se o meu pai viesse, ele teria alguma ideia pra próxima linha de roupas), até a Tokyo SkyTree (a maior torre de radiodifusão do mundo, que visitamos durante a noite, quando a iluminação deixa tudo mais lindo, a vista de Tóquio noturna era um colírio.), passando pelo Kaminarimon (templo construído em homenagem a Kannon, a deusa da misericórdia) e tantos outros lugares, que se eu descrevesse um a um, você ficaria cansado. A verdade é que foi um alívio quando o dia 31 chegou, pois do dia 26 ao dia 30 saíamos de casa de manhã e só chegávamos lá por volta de onze da noite pra repetir o processo.

Haviam inúmeras tradições japonesas de ano novo que poderíamos seguir, mas estávamos cansados demais pra maioria delas, logo, passamos parte do dia arrumando a casa (no caso, eu e Eliza), enquanto Aya e Kasumi preparavam o tradicional toshikoshisoba (um macarrão um pouco mais grosso que o soba comum, consumido geralmente na véspera de ano novo, simbolizando o corte dos problemas do ano, além do desejo de boa sorte e de uma longa vida), com macarrão, molho de soja e dashi (um caldo tradicionalmente usado para o preparo de macarrões na culinária japonesa). Tenho certeza de que se tivéssemos mais tempo disponível, as duas fariam outros pratos tradicionais da virada de ano.

Quando chegou por volta de sete e pouca da noite, fomos todos pra sala, assistir ao Kouhaku Uta Gassen (literalmente, a Batalha Musical entre o Branco e o Vermelho), programa tradicional da emissora estatal NHK, na qual grupos de artistas divididos em duas cores (branco e vermelho) duelam musicalmente. O programa vai ao ar há mais de cinquenta anos, e para os artistas presentes, estar lá é uma honra. Mas a razão para estarmos assistindo ao Kouhaku, era basicamente o descanso. Poderíamos simplesmente relaxar usando o programa como som de fundo.

–Esse foi um ano atribulado... – Kasumi comenta, esparramando-se no sofá.

–Nem diga... – Me espreguiço, as memórias de vários momentos passando pela minha cabeça. – Mas Aya... O que você fez desde que aquele filho da puta quase acabou com a sua carreira. Porque eu sei que você já chegou a pensar no pior, mas a Kasumi comentou pouco a respeito do depois.

–Se não fosse pela Eliza, eu certamente teria me matado. – Aya confessa, sem hesitação alguma. – Ela nunca saiu do meu lado, sempre acreditou em mim, mesmo quando nossos pais não acreditaram. E bem, ela sugeriu que eu fizesse algo fora do meu espectro normal. Então, decidi me arriscar e treinar MMA. Eu já tinha a experiência dos treinos de artes marciais, mas eu me decidi usar isso pra manter a minha cabeça ocupada. Cheguei até a trabalhar com a Eliza, como segurança.

–Veja o lado positivo de ter treinado MMA... – Eliza comenta, rindo. – Agora você consegue socar melhor.

–Mas não consigo socar tão bem quanto você. – Aya ri, a tensão do momento anterior se desfazendo.

–Eu sei que a Kasumi chuta bem, e pelo que ela me disse, a Aya chuta tão bem quanto. – Falo, num tom bem humorado. – Então não quero nem imaginar o que é levar um direto da Eliza.

–Imagina aquele soco que você levou do Felipe... – Eliza ri. – Agora imagina ele sendo bem mais forte.

–Tá doendo só de imaginar... – Passo a mão do queixo, lembrando da surra que levara do ex-namorado de Kasumi. – Mas, valeu a pena ter apanhado. Afinal, eu consegui provocá-lo de modo a confessar as merdas que tinha feito.

–É engraçado ver o quanto você acabou me ajudando esse ano, Renan... – Kasumi comenta, provavelmente lembrando de muitas das coisas que acabamos fazendo juntos. – Eu, como mais velha é que devia estar ajudando a você.

–Você fez algo inestimável por mim, e não só no campo sentimental... Você salvou a vida do meu pai, Kasumi. – Aliso o rosto dela, com carinho. – Mesmo meu pai tendo sido intolerante, preconceituoso e até mesmo chegando a te agredir, você salvou a vida dele.

–E no fim das contas, isso valeu a pena... – Kasumi sorri. – Porque não só ajudou o seu pai a se tornar alguém melhor, a carreira de Aya e até mesmo na prisão do Felipe.

Relembramos como tudo começou, desde o encontrão onde esbarrei acidentalmente nos seios de Kasumi (o que gerou risadas da parte de Aya e Eliza), nosso encontro acidental próximo ao supermercado, a vez em que fomos no Pão de Açúcar pela primeira vez, e como descobrimos que havíamos nos encontrado treze anos antes.

Depois de termos nos juntado, houveram coisas, desde os problemas com Glauco, meu pai e Felipe, mas coisas boas aconteceram, como a nossa viagem a São Paulo (inclusive foi meu primeiro Anime Friends), e também ajudamos a resolver a questão do time de futebol feminino da escola, que estava indo muito bem no torneio dessa temporada.

–Então, eu sei que vocês já foram pra cama, isso é óbvio... – Eliza puxa um assunto um tanto quanto 'delicado' – E a curiosidade bate... Qual foi o lugar mais inusitado que vocês fizeram?

Ao invés de ficarmos chocados, eu e Kasumi nos encaramos e começamos a rir. E nessa troca de olhar, era como se nos perguntássemos: "Conta você ou conto eu?", e após alguns segundos, faço com a cabeça um sinal de positivo, pedindo que ela continue.

–É difícil da gente definir... – Kasumi começa. – Porque temos aí a Roda Gigante que esteve por um tempo na Praia Vermelha, a sala do diretor Osvaldo, lá no Alvorada e a última vez que fizemos, lá no banheiro do Heathrow.

–COMO É QUE É? – Aya quase grita, espantada. – Mas... Como... O aeroporto...

–Um dos banheiros estava vazio, então dei um jeito de arrastar o Renan pra lá. – Ela continua. – Não foi difícil convencer ele de fazermos algo lá.

–Você tem argumentos muito bons... – Dou uma risada lembrando nossos momentos mais 'perigosos'. – E vocês duas? Porque não adianta só a gente ficar contando das coisas que fez. Onde foi o local mais inusitado de vocês?

–Lamento decepcionar... – Eliza balança a cabeça negativamente. – Acho que nada que contemos vai superar o Aeroporto Heathrow... O mais inusitado foi num posto de gasolina. Nós duas tínhamos saído de um show, voltávamos de carro pra casa. O posto tava abandonado e a noite tava boa demais pra acabar. Por sorte ninguém passou naquela rua.

–É, vocês são meio sem graças mesmo. – Kasumi ri.

–Não é culpa nossa que vocês tem fogo no rabo. – Aya retruca. E arregala aos olhos ao ver que o programa já estava quase no fim. – A hora voou!

(CONTINUA)

Paixão Destinada (Versão Revisada e estendida)Onde histórias criam vida. Descubra agora