PNF - Capítulo 31

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[Rodrigo]

Abri a geladeira e só tinha ar, luz e decepção.

—Mas cadê toda a comida daqui?

O Yuri certamente havia passado por ali e pego tudo que viu pela frente – e mais um pouco – pra fazer aquela montanha de comida ou até mesmo aqueles sanduíches monstruosos que consistia em 'tudo que eu conseguir comer', resultando na minha geladeira vazia. Eu odeio jovens e toda essa fase de crescimento onde comem tudo que veem pela frente. Eu odeio jovens! Odeio. Tomem anticoncepcional.

—Yuri!! Eu vou te matar, mas depois vou te ressuscitar porque você é meu filho e eu não vivo sem você. Te amo, desgraçamento da minha adolescência, mas para de comer a minha comida.

Gritei alto o suficiente para que ele ouvisse de onde quer que estivesse e levasse a sério – ninguém me levava a sério, mas eu ainda tentava – e voltei a fechar a geladeira, reconhecendo que teria que ir ao mercado fazer compras.

Mas, apesar do meu breve aborrecimento, nada conseguiria me manter bravo por muito tempo, não hoje, não desde quatro dias atrás. Eu sou muito trouxa, Jesus!

O fato era que eu ainda não conseguia parar de pensar no último encontro com o Miguel – impossível esquecer, convenhamos –, e quando isso acontecia, até um mini sorriso teimava em aparecer diante da situação. Nós finalmente conseguimos conversar como dois civilizados, sem patadas ou desavenças, e até rolou uma aproximação, impulsiva, mas rolou. Eu realmente sentia que nossa relação – de amizade, claro, já que eu não tinha fé em nada mais que isso – estava melhorando. Naquele mesmo dia, nós ainda conversamos mais um pouco, ciente das pessoas que passavam por nós caminhando pelo parque, e curtimos um pouco mais do lugar. Claro que quando começou a ficar estranho, eu tratei de largar a minha mão da sua, sorrindo como se dissesse que não tive a intenção, mas seu sorriso de volta mostrou que estava tudo bem e eu relaxei. Agora eu não parava de pensar nisso e em como as coisas pelo menos poderiam ficar normais entre a gente.

Não falei... completamente trouxa.

Resolvi ir ao mercado o quanto antes, aproveitando que as pessoas normais estavam em seus empregos normais, e fugindo assim do tumulto de fim de tarde. Não sou nem louco de ter que me arriscar a disputar carrinho, ou um espacinho no hortifrúti pra pegar meu chuchu e abobrinha e depois ficar horas na fila esperando o povo que não se decide se vai ser no dinheiro ou no cartão, que inclusive, nunca passa de primeira, é inacreditável.

Voltei para casa algum tempo depois, com as minhas sacolas sustentáveis, porque eu sou muito ecológico, cheias do que eu precisava e tornei a reabastecer a geladeira. Eu só esperava que desta vez demorasse um pouco mais pra ficar vazia, se não, eu teria que partir pra algo mais agressivo, do tipo deixa-lo sem comida, acorrentando a geladeira.

A tarde, eu resolvi tirar um tempinho pra pensar em soluções efetivas para resolver o problema orçamentário e habitacional da Guatemala e em como... Quem eu quero enganar? Eu fui sim testar uma nova receita de sobremesa que eu vi e que, caso ficasse realmente boa, iria incrementar e entrar em definitivo no cardápio do restaurante, como eu gostava de fazer. Essa em definitivo iria pra na parte de alimentação destinada ao povo que opta ou até mesmo que não pode comer açúcar, como eu vinha sendo cobrado há dias, já que todas as outras sobremesas eram bastante doces e calóricas.

Optei por um sorbet de fruta, usando morangos e banana como bases e uma farofa de nozes pra complementar o prato. Enquanto cortava as frutas para depois levá-las até o freezer, o celular em cima da bancada começou a vibrar e eu o peguei, atendendo logo em seguida sem nem ver quem era.

—Alô.

Esse Sorbet tem cara que deve ficar bom, não era algo que eu compraria, pois eu gosto mesmo é de açúcar, cobertura, doce de leite, mas serviria para o pessoal matar a vontade de sobremesa.

Por Nossos FilhosOnde histórias criam vida. Descubra agora