Capítulo 01

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Três anos depois


Sentada na poltrona de frente a janela, olhava a paisagem linda da cidade, vista pela cobertura do prédio onde morava.

A princesa em sua torre.

Se fosse uma piada, poderia dizer que era a Anastácia e que ela estava esperando o Senhor Grey. Mas seu príncipe não tem nada parecido com ele e está se aproximando de um monstro, da pior espécie.

Tem se sentido tão perdida.

Não quer reclamar. Aliás, não tem o que reclamar. Mora em um apartamento de luxo, com uma vista digna de uma pintura de Monet — que por sinal, tem uma numa das paredes da sala —, possui roupas de marcas exclusivas, além de um closet de dar inveja para qualquer mulher maníaca por moda, além de um mostruário de joias, digna de rainha.

Mesmo assim, nunca se sentiu tão infeliz em toda sua vida.

Sentia falta de seus pais. Queria que sua mãe, Claudia, estivesse aqui para orientá-la sobre o que fazer. E seu pai, para lhe dar suas pernas para que ela pudesse deitar a cabeça e ele lhe fazer carinho.

Fazia quatro anos que eles haviam falecido em um acidente de carro, mas ainda não havia superado a perda deles.

Ainda não conseguia acreditar que um dia tão perfeito, pudesse terminar numa tragédia.

Era aniversário de casamento deles. Seu pai passou o dia enviando flores para Cláudia. A cada hora ela recebia um ramalhete de flores diversas, mas sempre da cor que ela mais amava: vermelhas.

O anel de brilhantes que ela receberia no jantar foi minunciosamente escolhido por ela e por seu pai, que estudou cada detalhe do anel para que fosse perfeito. E ele era.

Sua mãe receberia o anel logo depois da sobremesa. Seria o presente perfeito para encerrar a noite. O dia perfeito.

O que ninguém esperava era que seus pais sequer chegariam ao jantar. Durante o caminho do restaurante, o carro em que estavam, perdeu o freio, chocando fortemente com um caminhão que cruzava a estrada. Não houve nenhuma possibilidade para eles.

Não houve nada pior em toda sua vida, do que receber o anel de brilhante entre os pertences de seus pais. O anel que sua mãe nunca teve a oportunidade de usar.

Mia se encolheu ainda mais na poltrona, puxando suas pernas para perto e se aconchegando, enquanto tentava afastar a tristeza da lembrança daquele dia.

Quando conheceu Eduardo, foi tudo tão bonito e tão perfeito, que esperava que teria no mínimo um pouco do amor que seus pais tinham. Mas ela nunca esteve tão errada.

O início do namoro foi perfeito. Tão perfeito que cedia a todos os desejos e caprichos de Eduardo sem ao menos pestanejar. Tanto é que hoje ela está morando neste apartamento, que é dele.

Na época viu que poderia ser vantajoso. Colocou a casa de seus pais, que agora era sua, para alugar e junto com outros rendimentos, acabou fazendo uma boa reserva de dinheiro. Além disso, sentia que ele queria cuidar dela, estar perto dela. O problema foi que ela não enxergou o que aquilo significava na verdade.

E não demorou para ele mudar de atitude completamente, ou pelo menos ela perceber essa mudança. Mas aí já era tarde demais. Ela já havia deixado ele tomar conta de quase toda sua vida.

Não demorou um mês depois de sua mudança para que ele começasse a fazer suas viagens de negócios. Viagens que duravam semanas por serem longas e em outros países. Raramente ela recebia um convite para acompanha-lo e sempre quando ele voltava, havia alguma festa ou evento que eles deveriam participar.

O tipo certo de amor (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora