Elysian

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Larguei meu corpo contra o chão de treino, meu corpo doendo terrivelmente pelas horas constantes de treino, mover qualquer parte minha seria uma tortura nesse momento, e eu simplesmente não tinha energia para contrariar essa dor. Fechei os olhos lutando levemente para respirar, contrariando o pedido silencioso que a dor causava para que eu desistisse e desligasse pelas próximas horas. Foquei a mente nas batidas desesperadas do meu coração, sentindo ele lutar para se manter estável enquanto bombeava violentamente.

Abri os olhos depois de um tempo, quando conseguia respirar normalmente me levantei com mais esforço do que deveria ser preciso, e encarei meus dedos. Havia rompido quase completamente os nós deles, minhas mãos cobertas com uma leve camada de sangue seco, e fechar os dedos era quase torturante, mas movi minhas mãos várias e várias vezes, ignorando a dor latente, até que ela dobrasse totalmente sem problemas.

Puxei minha mochila de onde a largara ao entrar na sala de treino, revirando-a até achar meu relógio, e contive o gemido de raiva e ao ver que ainda faltavam horas para o sol nascer. Encarei meu reflexo no espelho, rosnando para ele antes de dar as costas e encarar a sala vazia, minha respiração pesada ecoando no ambiente, e apenas apoiei as costas contra o material frio e reflexivo nas minhas costas. Apoiei a testa nos joelhos, gemendo pela dor neles, com medo de tirar a calça e ver o quão destruídos estariam.

Sabia que diferente dos outros dias não poderia me afundar em trabalhos de guarda ou nos treinamentos, durante a tarde de hoje chegariam os Nobres pertencentes a realeza e a nobreza e como a tenente coronel que era, minha presença era exigida para a recepção real. Imaginei se August estaria lá para me fazer companhia, ou se teria conseguido fugir e escapar da responsabilidade para cuidar do noivo. Me preocupava terrivelmente com a saúde dele, mas não podia conter o leve egoísmo de desejar que meu primo pudesse estar ao meu lado.

Estiquei as pernas gemendo para a dor que irradiou por elas, e estiquei o corpo por cima delas, agarrando meus pés e me esticando, sentindo meu corpo tensionando levemente enquanto isso. Estava apenas ocupando minha mente do pesadelo que me arrancara dos meus lençóis durante a madrugada, e me obrigara a me arrastar até a sala de treinos destinada aos militares. Não me permiti contar a quantas horas estava ali, apenas me concentrei em malhar repetidamente, até aquele momento em que me manter em pé não era mais fácil.

-Não deveria estar aqui. - Ergui o rosto ao ouvir a voz familiar de August, e o vi se aproximar de mim, se ajoelhando ao meu lado. Ele estendeu a mão colocando uma bolsa de primeiros socorros entre nós, e eu pude ver suas mãos e dedos enfaixados. - Mas eu também deveria estar dormindo então perdi o direito do sermão. Hoje. Qual foi o de hoje Luna?

Sorri ligeiramente para ele voltando a me sentar e estendi a mão até a bolsa marcada por uma cruz vermelha, rindo um pouco ao ver meu nome marcado na lateral dela. Sabia que uma das minhas havia desaparecido, mas não imaginei que seria tão fácil descobrir quem havia pego ela. Com os dedos tremendo por conta da dor abri o ziper puxando para fora os vidros de antissépticos e os arrumando ao meu lado, e puxando um saco novo de esparadrapos, conferindo para ver se estava lacrado ainda.

-O de sempre. - Dei de ombros o vendo suspirar e concordar com a cabeça e me encarar de lado enquanto se arrumava para me ajudar a tratar os machucados nas minhas mãos e cotovelos, ignorando meus xingamentos quando ele jogou o antisséptico de sobressalto. Mordi os lábios contendo a vontade de socar seu rosto ao sentir a ardência esperada que o gluconato de clorexidina causaria. - Não queria te incomodar. Você passou o dia com o Luke na enfermaria, deveria estar apagado na cama.

-Também não tive sorte no mundo dos sonhos hoje. - Ele riu sem humor algum e cuidou de fazer os curativos com a habilidade que eu esperaria dele, mas que ele gostava de fingir que não existiam. Quando ele acabou, movi meus dedos testando o movimento, aliviada ao sentir que a dor ainda estava ali, mas menor que antes. - E sabe que pode falar o nome dele real, não o que esse bando de idiotas escolheu. Repita comigo, Juan Ángel De La Vega.

The Red Line of DestinyOnde histórias criam vida. Descubra agora