Capítulo 1

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Amo cavalgar pela manhã, olhar o horizonte e admirar as planícies verdejantes...as altas árvores da parte mais fechada da floresta. Sempre que posso tento ir ao lugar que gosto de chamar de meu paraíso.
O meu pequeno "paraíso " é lindo e fica entre alguns rochedos, tem uma cachoeira de águas límpidas...não me canso de olhar a sua beleza.
Há momentos que vou a este lugar apenas para fugir dos gritos e das ordens que recebo da minha mãe,  ela sempre me manda fazer algo, deve ser por eu ser a filha mais velha. Tem dias que acho que ela simplesmente me odeia por ainda não ter casado, isso que ela nem sabe que nunca nem ...deixa pra lá melhor não comentar. Mas o fato é que por consequência as minhas irmãs também não podem se casar, tudo pelo medo que sentem do nome da família ser jogado na lama, e ser difamada, coisa de pessoas antigas e conservadoras de mais.
A nossa família é bem simples. Meu pai é um tipo de mercador que sempre viaja para oferecer os produtos que cultivamos em nosso rancho e também revende os crochês e bordados que todas da casa fazemos, meu pai é um ser extraordinário e faz minha mãe ficar de cabelos brancos ao me defender dos casamentos forçados que ele sempre tem em mente.
Como pode em plena época que vivemos minha mãe ainda pensar que isso é uma coisa normal. Notei que de um tempo pra cá ele anda abatido e cansado, tem viajado menos, deve ser a idade que está chegando e cobrando os muitos anos de serviço prestados à nossa terra.
Após um café da manhã regado de ordens, acabei não podendo ir ao meu "paraíso ", por conta disso irei depois do almoço...pelo menos poderei dar um mergulho nas águas frias da cachoeira, isso é um dos motivos da minha mãe me criticar tanto e o outro que ela diz querer morrer é que prefiro usar calças jeans justas ao invés de vestidos e saias, ela usa esse fato pra justificar do porque não arranjei um marido, dizendo que homem algum poderá se interessar por mim, onde já se viu.
Estou longe de ser rebelde, digamos que eu evolui com as mudanças do tempo e minha mãe continua presa as tradições que sua família lhe ensinou, e eu não quero um casamento de conveniência ou interesses, não é mais como antigamente, quero alguém que me ame do jeito que sou e que eu possa amar também.
Assim que acabei de fazer minhas tarefas e almoçar em família, fui ao estábulo pegar meu cavalo, Relâmpago,  ele é adorável  e seus pelos são bem tratados e negros, brilham quando os reflexos do sol batem contra ele, dei este nome a ele no dia em que quase me fez fazer xixi nas calças correndo desenfreado pelo campo.
Quando chego perto dele a festa começa...ele ama nossos passeios matinais e devia já estar sentindo minha falta,  equipada para nosso passeio montei nele e saímos a trote pelo campo do pequeno rancho que vivemos, ouvi os gritos histéricos da minha mãe chamando meu nome: - Sofie, volte aqui sua menina mimada.  Fingi que nem ouvi e fiz com que o Relâmpago corresse um pouco mais, o que ele adorou.
Enquanto cavalga pelas planícies verdes do campo eu ouvi sons de outros cavalos, pareciam muitos, fiquei apreensiva já que escutei histórias assustadoras sobre possíveis saqueadores,  espero que não seja o caso. Resolvi puxar meu cavalo pela guia na tentativa de não chamar a atenção de nenhum deles, para a minha sorte o som ficoumais distante.
Amarrei meu cavalo àum galho. Retirei minhas botas e depois a calça e minha camisa de flanela, pulei na água fria apenas com as minhas roupas íntimas...dei alguns mergulhos pra logo me exercitar fazendo um pouco de nado também, quando achei ser o suficiente apenas relaxei boiando com os olhos fechados aproveitando a paz do ambiente.
Mergulhei para ir até a rocha que costumo deitar e me aquecer,  assim que levantei meus olhos me desequilibrei e caí de volta na água, o que não foi ruim já que meus trajes não estão apropriados,  embora a transparência da água não esconda muito.
Praguejei mentalmente por aquele momento, e aquele ser sentado na minha pedra com cara de encanto...vou confessar uma coisa, assim que pude olha-lo melhor notei o quanto ele é bonito, em contra partida eu também o vi em poucos trajes, seu peitoral forte completamente desnudo me fez perder uma batida, porém meu orgulho e boca nervosa como diz minha mãe,  começou:

-o que você faz aqui? em meu pequeno paraíso?

-seu pequeno o que?

Havia um certo deboche e isso me irritou ainda mais.

-isso mesmo que você ouviu senhor.

-preciso lhe perguntar,  faz parte das suas terras?

-é... é...faz sim.

Menti descaradamente.

-sim entendo, e tem certeza do que está afirmando?

-já respondi não foi, inclusive acho que está na hora de você ir embora.

-sinto muito...mas não vou.

Era nítido que ele estava se divertindo com a minha cara, em seu rosto um sorriso me mostrava o quanto ele estava sendo irônico.

-vire-se que eu mesmo sairei.

-faca como quiser, mais não sairei daqui.

- que falta de cavalheirismo a sua.

Falei e já fui saindo em direção às minhas roupas, a boca dele ficou levemente aberta ao me ver sair em poucos trajes da água,  coloquei minha camisa de botões e depois minha calça,  não pude deixar de agradecer a ele:

-obrigada senhor.

-pelo que gatinha?

- por acabar com o meu "paraíso ".

Falar esta frase trouxe uma realidade dolorosa,  senti meus olhos queimarem.

-sempre venho aqui neste horário e sinto informar que este lugar faz parte da minha propriedade.

-o que?

-isso mesmo,  sou o dono da porra toda.

Não poderia ser pior que vergonha, o que ele vai pensar de mim agora já que sabe que menti na cara dele, diga-se de passagem a mais deslavada do mundo, o que antes era uma queimação virou lágrimas escondidas pelas gotas de água que escorrem dos meus longos cabelos.

-devo desculpas à você senhor.

-deve mesmo.

-me perdoe.

-quando quiser pode vir , prometo que não vou te morder.

Minha nossa imagens dele me mordendo povoaram minha mente e senti um calafrio tomar conta do meu corpo todo, olhei para ele uma outra vez e disse: -agradeço.

Montei meu cavalo e saí de lá sem olhar para trás, que saco, sempre gostei deste lugar e agora onde vou arrumar outro tão belo quanto esse, e que não seja tão longe?
Minha mãe quase teve um infarto ao me ver entrar, roupas sujas e cabelos bagunçados.

- Sofie onde você se meteu e o houve?

- eu caí numa poça d'água,  foi isso.

-aposto que foi correndo com o cavalo, uma hora você ainda vai se matar menina, agora suba e se banhe antes que fique doente.

Um acordo de casamento. Where stories live. Discover now