Capítulo 7

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"Esteja consciente. Olhe nos meus olhos. O cheiro do seu medo embriaga-me, excita-me." (C. C.)

Christian Charles:

Peguei em seu braço direito e a arrastei até as escadas. Busquei um par de cordas e a prendi.

— Vou te amarrar aqui por enquanto. Quando eu voltar, você limpa. — apontei com o queixo para a imundície no chão.

Subi para tomar banho e tirar todo aquele líquido viscoso de minha roupa. Bem que eu podia fazê-la lavá-las também.
Até que seria bom torturá-la por muitos dias colocando-a para limpar, fazer comida, fazer... o que eu quisesse. Não era uma má ideia.

Demorei para tirar aquele cheiro, hm, como posso dizer? Acho que peculiar era a palavra certa. Um aroma... inebriante.  Quando saí, vesti apenas uma bermuda preta. Não existia mais nenhum plano pendente para aquela noite, para que fosse preciso eu sair.

Desci até onde a larguei e a vi olhando bem para cada canto visível da casa. Violeta — as vezes eu me perguntava quem dera a desgraça desse nome a ela. Com certeza foram os seus pais vagabundos que a largaram no orfanato já com essa porcaria de nome. — Mas, bem, voltando, sua atenção voltava-se, principalmente, para a janela. Passei por ela e fechei a persiana, mesmo que não desse para enxergar nada. Suas bochechas brancas ficaram ligeiramente vermelhas e algumas lágrimas escorriam pelo seu rosto. Já não bastava o sangue, agora lágrimas molhando meu piso.

Ela teria que limpar de qualquer jeito mesmo.

Ela se encolheu tanto quando me abaixei para tirar as amarras que achei que sua cabeça deve ter doído. Será que fazendo isso ela achava que estava a salva de mim? Perguntei-me mentalmente.

— Olhe para mim. — mandei. Ela evitou o contato por breves instantes, mas rendeu-se. — Irei deixar algumas coisas bem claras. Talvez assim te dê um pouco de... alívio, creio. Um: Para sua infelicidade, eu não sou estuprador. Dois: se der uma de louca de novo, irei...   

— Já entendi.

— Três: não corte minha fala.

— Tudo bem.

— Sabe o que tem que fazer agora. — por um momento, pensei ter visto um resquício de indignação ali. Ela assentiu, sem me olhar.

— Um saco não vai caber todas. — falou, pegando-o na ponta dos dedos.

— Tem mais dentro desse aí. — ela revirou os olhos e levou a mão a boca. Pensei que fosse vomitar, a careta que ela fez não foi nada boa.

Quando ela estava prestes a começar o serviço, falei:

— Espere. — seus músculos congelaram no mesmo instante. — Antes de fazer isso, pode ir pegar uma bebida pra mim. — falei, acrescentando: — Não é um pedido.

Ela correu os olhos pelo outro cômodo e saiu, cautelosa.

— Tequila? Não era bem isso o que eu queria, mas tá bom. Qualquer uma serve. — tomei um gole e me sentei para vê-la.

Violeta começou, devagar, a enrrolar cada uma. Depois arrastou, um por um, para o lado da parede. Quando se viu livre de vê-las, suspirou, como se o sangue ali não lhe causasse tanto pânico.

De vez em quando ela se encolhia. Eu a intimidava, e muito.

Quando a mesma terminou, demorou tanto que até considerei deixá-la de lado e fazer alguma coisa mais importane, deixou meu piso de mármore mais branco do que já era. Me endireitei, ouvindo sua voz tremer um pouco:

— O que faço... hm... com elas... agora? — suas mãos estavam tremendo, ela as passou na roupa.

— Quer maquiá-las e fazer um funeral? — perguntei, sarcástico.

Ela abriu a boca para rebater, mas a fechou imediatamente.

Joguei a bebida em um canto e me levantei, parando em sua frente.

— Sabe cozinhar, não sabe? — ela engoliu em seco.

— Sei.

— Não faria diferença se não soubesse. Tudo tem uma primeira vez. — arqueei uma sobrancelha. — Não que eu precise que faça isso, quero ver se cozinha bem. — sorri. Seu rosto se avermelhou pela curta distância entre nós, então me afastei.

— Pode começar agora, Violeta.

Ela passou apreensivamente pelo meu lado, indo até a cozinha. Começou a remexer nas coisas, fazendo uma careta para cada coisa que via. Me peguei imaginando se teria deixado alguma coisa que ela não devesse ver por lá.

Liguei a TV, e a seguinte notícia preencheu o ambiente.

"Não se sabe a causa que levou o orfanato Wikley Brás a ser incendiado. De acordo com o corpo de bombeiros e com a polícia, as chances são mínimas de alguém ter sobrevivido. Esse trágico acidente..."

Mal terminara de passar a reportagem e escutei um barulho de pratos se quebrando. Violeta olhava atentamente para a TV, com as bochechas molhadas.

— Desculpe, senhor. Eu não... Quero dizer, eu queria... — ela me chamou de "senhor". Eu só era seis anos mais velho que ela. Me senti um idoso de oitenta anos.

Levantei da poltrona e fui até ela. Seu queixo tremeu, olhando do prato quebrado para mim.

— Preste. Mais. Atenção. — cheguei bem perto dela e falei pausadamente. Olhei no interior de seus olhos, estavam encharcados. Sua respiração também estava ofegante e eu podia jurar que conseguia escutar as batidas altas de seu coração.

Olhei para os cacos de vidro e peguei-me imaginando deslizando um sobre seu pescoço. Em seguida descendo até a região de seu coração e vendo sua pele arrepiar-se. Pedidos de misericórdia, súplicas...

Contudo, percebi que ainda não era a hora certa. Eu tinha um plano, e tinha que esperar chegar o momento certo.

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Violeta (Completo/Revisado)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora