TATAME

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Ben acordou no início daquela manhã ainda muito abalado. Antes de abrir os olhos torceu para que tudo aquilo fosse um pesadelo, mas não era. A primeira coisa que viu a sua frente foi Alex ali deitado no tatame, ainda com uma marca do corte que o babá fez na sua boca. Tudo aquilo tinha sido muito real e decepcionante.

O que mais decepcionava o babá naquele momento era o seu excesso de generosidade com o policial, sabia que a atitude correta a se tomar era ter abandonado a casa ainda durante a madrugada, mas ficou refém de algo ainda maior que a sua vontade, mesmo tendo convicção absoluta de que Alex não tinha mais jeito, decidiu dar mais uma oportunidade ao homem, mais uma em tantas.

Não demorou muito até que Alex começasse a gemer de dor, acordando ali na frente do babá.

- Aí, aí, aí, que dor da porra, parece que um trator passou por cima de mim- Falou iniciando uma conversa com Benício, buscando saber se estava realmente tudo bem.

O babá o observava ignorando as dores que o valentão sentia. Na verdade queria que ele estivesse sentindo muito mais, que estivesse sofrendo o que todas as vítimas de homofobia e outras tantas práticas de discriminação sofrem na pele.

- Você deveria ter ido pra cama.
- E deixar você ir embora no meio da noite, isso nunca.
- O que você está dizendo?
- Eu fiquei acordado até ter certeza que você estava dormindo e que não cometeria uma loucura, por raiva do que eu fiz. Eu fiquei aqui como um cão de guarda, velando o teu sono.
- Saiba que você não teria me impedido de fazer nada.
- Eu sei que não, mas suplicaria até o último instante.
- Isso é tão estranho Alex, você me trata como se eu fosse alguém da família, depois você me trata como se eu você um ser descartável, e agora você me trata como se eu fosse o Rei de Mônaco.
- Pois você merece ser tratado como o rei da porra toda. Você é a melhor pessoa desse mundo, o cara que veio pra me salvar da merda de vida que eu tenho. E mesmo que você não esteja vendo, eu estou mudando cara, aos poucos estou mudando. Eu só não consigo sobreviver a mais um abandono.
- Ninguém te abandona Alex, você é o cara mais amado que conheço. Mesmo que seja por pessoas que não te conhecem de verdade, e que só estão ao seu lado por status.
- Sou abandonado pelas pessoas que eu me importo, ou me importei um dia. O meu pai, o Adriano, a Débora, agora não posso perder você.
- Eu juro que ficaria muito emocionado com essas palavras, se a imagem que eu tivesse de você nesse momento não fosse de um porco insensível. Suas palavras foram imorais, você alimentou o ódio do seu amiguinho, fazendo chacota com o cara que agora você diz que é tão importante. Você não é abandonado meu amigo, você expulsa as pessoas de perto. E quanto a isso eu novamente repito, não tenho o que fazer.
- Você um dia vai perceber que estou sendo sincero em tudo o que digo, não no que eu disse ontem a noite com o Thomaz, mas o que digo aqui pra você agora, quando estamos sozinhos.
- Então quer dizer que quando estiver aqui comigo, vai ser o parceirão da empregadinha. Quando estiver na rua perto dos seus parças vai me ridicularizar ao lado deles.
- Já disse para parar de usar essas palavras, isso dói sabia, ouvir você se chamando disso aí, porque não reflete o que eu penso.
- Mas reflete o que você falou. Doeu muito mais em mim ter escutado isso de você não acha. As suas atitudes não estão refletindo os seus pensamentos e quer saber, eu nem sei se é isso mesmo que está pensando.

Alex se levantou do chão e deixou Benício ali falando sozinho. Demorou cerca de cinco minutos até voltar a sala. Voltou trazendo um embrulho, muito mal feito por sinal, possivelmente feito nesse tempo em que esteve ausente, o policial entregou aquilo ao babá.

- Isso aqui eu ia te entregar na noite de natal, é a maior prova de que estou sendo sincero contigo. Maior prova da sua importância. Abre por favor.
- Não precisa de presente, não vai ser assim que as coisas vão melhorar, quer saber deixa pra abrir no natal, até lá quem sabe o babaca aqui não esteja com melhor humor.
- Abre essa porra Benício, se não eu mesmo vou abrir.

QUERIDO BABÁ (ROMANCE GAY)Onde histórias criam vida. Descubra agora