XXIV

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Toscana, Itália

- Socorro! - Sienna grita desesperada, não sabia se disparava a gargalhar ou chorava. Uma dor imensa atingia seu ventre e ela não conseguia controlar seus gritos ou ficar um pouco mais calma. Ela avista sangue e só consegue imaginar uma coisa: está morrendo. Rir por que sua situação estava caótica ou chorar por que pensava não ter mais volta?

Amélia estava descansando na varanda da mansão de sua família italiana, abrindo levemente suas narinas a cada cinco minutos para apreciar o cheiro de terra, plantações e as uvas recém tiradas nos campos. Um vento suave embala seus cabelos presos em um coque mal elaborado, e ela se sente viva novamente. Viva, até ouvir sua filha gritar socorro. 

- Sienna! - Amélia ouve Helena gritar no caminho, indo de encontro a irmã.  - Onde você está, pelos céus, não consigo te achar! - Por essa última frase, Helena se encontra ainda mais aflita. Eles podiam ouví-la mas sequer sabiam onde encontrá-la. O grito de Sienna foi tão pavoroso que a mãe das três irmãs York imaginava o pior. E se ela não chegasse a tempo?

A tempo de salvar a filha de algum abuso. Amélia não confiava muito nos campos afastados da fazenda da família Longuiani, quando a muitos anos atrás, ela mesma havia sofrido nas mãos de um ladrão que adentrou a propriedade. Memórias asquerosas, que refletiam o pior de um ser humano, e mostravam o quanto as mulheres sofriam na época. Amélia não suportava lembrar da tentativa de abuso que sofreu quando o homem, aflito de que ela gritasse que o viu tentando furtar, empurrou-a para o chão e tentou arrancar seu vestido novo de musselina. Enquanto ela corria e suava frio em busca da filha, Amélia sofre de lapsos de recordações do dia em que ela (infelizmente) nunca vai conseguir esquecer. Por muito, mas muito pouco, ele não a violou por inteiro, mas as marcas de dedos fortes em seus braços e sua garganta ficaram em seu corpo por semanas. 

Alguém chegou, para ajudá-la. Piero Ginotti é seu nome, o primeiro amor da adolescente Amélia. Ele, por sorte, estava caminhando pelos vinhedos (a convite de Bianca Longuiani) enquanto observava a estrutura dos frutos, uma vez que era um enólogo fantástico, e ouviu-a. Sem demora, ele a encontrou e tirou-a das garras do canalha. Amélia sabia que ele era um homem impossível de ser alcançado, pois ainda que fosse um bom profissional, não tinha fortuna. Eles se despediram com o coração contrito e a certeza de que se veriam novamente. Alguns anos depois Amélia conheceu Arthur, em uma viagem que o jovem herdeiro York fez até a Itália. 

Ela se viu extremamente apaixonada por ele e inspirada pelo romance que viveu com Piero, decidiu que nunca mais desistiria do seu coração e seus desejos. Se casou com ele, teve três filhas, casou uma. Foi traída e humilhada e se mudou para a Itália em busca de auto conhecimento e felicidade acima de tudo. Tal felicidade não incluía ver qualquer de suas filhas machucada. Correndo o mas rápido que pode pela propriedade, ela pede que Sienna grite mais alto para que ela possa ouvi-la.  Piero's não caem do céu e dessa vez ela precisava ser a heroína da história. 

Finalmente, ela encontra Sienna caída no chão. Tem sangue no vestido e ela não consegue parar de chorar de dor. 

- Eu vou morrer, mãe. Eu vou morrer com toda a certeza. Estou sentindo um espasmo enorme em meu ventre. Faça isso parar, já não posso suportar. - Sienna diz, dramaticamente estirada no chão. Ela estava tendo sua primeira menstruação, a menarca. 

Apenas Amélia poderia descrever a corrente de alívio que percorreu seu corpo, desde seus pés até a cabeça, quando descobriu do que se tratava. Sienna não corria perigo algum. 

- Estou aqui, irmã, do que precisa? - Helena disse, segurando uma lágrima e com as feições distorcidas. A mais sensível das irmãs também se preocupou ao ouvir os gritos de Sienna. 

Quando Um Conde Se ApaixonaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora