queime a garota infernal

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DOIS MESES DEPOIS DE ELIZE PRESCOTT NÃO MORRER

Ela o perdeu de vista assim que avançou pelo corredor, encontrando apenas o cigarro ainda aceso que Scott havia deixado cair no chão. Seu sangue ferveu, mas ela não se preocupou. Tinha muito tempo para cuidar dele, e usaria todos os segundos possíveis para garantir que ele pagasse por cada osso que Elize teve triturado naquela máquina dos infernos.

Uma das coisas sobre voltar dos mortos era que de algum jeito o abismo sempre estaria próximo, e no caso de Elize a inferno tinha cheiro de sangue de porco e o som de ossos sendo esmagados como música ambiente do elevador principal.

— Como foram as férias, querida?

Elize respirou fundo, esmagando o cigarro aceso no chão com os saltos vermelhos. Sabia muito bem quem estava parada atrás dela, esperando respostas, e não gostava nada daquilo.

Mas não, ela não iria conversar com a maluca dos batons que gostava de ser simpática ao extremo com todo mundo. Elize não tinha tempo para jogar conversa fora ou para fingir que se importava, a morte mostrou aquilo a ela. Só depois de visitar o inferno que percebeu o quanto desperdiçou tempo dando atenção a colegiais por tantos anos. Eram inúteis.

Elize passou pela menina sem lhe responder a pergunta, batendo os saltos vermelhos no chão enquanto sentia todos os olhares virando em sua direção.

Claro, depois de meses era de se esperar que as pessoas ficassem confusas com a sua volta. As notícias sobre o desaparecimento de Elize devem ter causado algum alvoroço. Até presumiram que ela estava morta. Agora, porém, Prescott estava ali, com seus cabelos ruivos e seus saltos de agulha, agindo como se nada tivesse acontecido.

Ela não podia fazer nada. Não daria qualquer explicação. Deixaria que falassem como falaram quando ela estava espalhada em pedaços naquele triturador.

Havia só uma pessoa que sabia a verdade, e ela era o foco do momento.

Elize foi até o único lugar onde Scott J. Adams poderia estar, abrindo a porta do banheiro masculino com certa prepotência, gritando quando percebeu que havia, de fato, alguém lá dentro:

— Eu voltei do inferno e você acha que uma placa com um homem desenhado vai me fazer parar? Não, querido. Eu nunca tive medo de vocês.

Mas ela estava falando com o espinhento do primeiro ano e seu companheiro pequeno demais em frente ao mictório.

Onde estava Scott?

Olhou para o nerd mijando e sorriu. Ele havia ficado excitado só de vê-la. Elize pensou: seria um efeito colateral de se voltar do inferno? Como se ao sobreviver às chamas algum poder sobrenatural de sedução houvesse lhe acompanhado... Ou ele só era o nerd virgem e carente que aparentava ser?

— Virgem, com certeza — concluiu, tranquilizando o coitado.

É claro que ele não entendeu nada, mas também não importava. Elize estava fora do banheiro antes que ele pudesse pensar sobre o que ela tinha dito.

Scott J. Adams não fugiria dela para sempre, isso Elize poderia garantir. Na verdade, pensou até mesmo que quanto mais ele corresse, mais divertido seria. Uma brincadeira clássica de gato e rato para entreter a garota morta mais sexy da cidade! Elize adorou.

Mesmo que, no fundo, ela estivesse queimando de raiva.

...

Ele estava dentro da cabine do banheiro, procurando no Google maneiras de matar a ex-namorada que deveria estar morta quando Elize entrou.

Queime Tudo (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora