queime o amaldiçoado

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NA NOITE EM QUE ELIZE PRESCOTT NÃO MORREU

Diana atendeu à ligação de Scott J. Adams no segundo toque, acordando em um sobressalto já com as mãos no celular e os olhos procurando a exata hora daquela madrugada.

Três e trinta e nove, pontualmente.

— Diana, você precisa me ajudar.

O tom desesperado foi o suficiente para que a garota saísse da cama sem fazer mais perguntas, procurando uma jaqueta e uma touca que lhe esquentassem o suficiente para que ela enfrentasse o frio do lado de fora.

— O que aconteceu?

— Eu matei Elize.

Não era aquilo que ela esperava. Na verdade, Diana pensou que aquela ligação fosse sobre mais um dos problemas de Scott com o padrasto. Os dois costumava brigar feio quando ele sentia necessidade de interferir nas discussões entre sua mãe e o homem rude que ela havia colocado dentro da residência Adams. Quando aquilo acontecia, Scott era expulso de casa no meio da madrugada e sempre acabava indo parar na mansão de Diana em busca de abrigo.

Mas também não ficou surpresa quando descobriu que se tratava de Elize. Apesar de assassinato não ter passado pela sua cabeça, os dois brigavam tanto que poderia facilmente ser uma ligação de socorro para o impedimento do caos.

Tarde demais, ela pensou.

— Onde você está?

— Descendo a avenida Manning. Me encontra na casa da árvore com algumas roupas em dez minutos, por favor.

A última frase a deixou confusa, mas Diana obedeceu e foi até o armário da parede sul do seu quarto e procurou algumas roupas. Ela tinha uma calça de Scott de quando ele havia se jogado na piscina da mansão e precisado trocar de roupa, mas não encontrou nenhuma camiseta. Acabou pegando uma das suas, a com o modelo mais largo possível, e então desceu as escadas até sair de casa e estar no jardim.

A casa da árvore não era usada para brincadeiras por Diana e Scott desde que eles tinham catorze anos, e por isso ela acabou se transformando em uma espécie de depósito de bebidas para quando festas surgissem. As paredes de madeira tinham sido escondidas por caixotes de tequila e cigarros, e por isso, talvez, Scott não parecesse muito sóbrio quando Diana subiu a escada precária e deu de cara com ele.

— Por que você tá quase pelado?

Fazia tanto frio que fumaça seca escapava pelos lábios de Diana, mas Scott não parecia sentir nada mesmo estando apenas de cueca. O estado catatônico no qual ele se encontrava e o sangue que sujava as suas mãos acabaram fazendo Diana desistir de perguntar qualquer coisa, porém. Ela apenas entregou as roupas para ele.

— Ela está mesmo morta?

Scott fez que sim com a cabeça, ainda sem se mexer. As roupas pousadas em seu colo foram insignificantes, porque ele não as tocou ou as olhou.

— Sim. No triturador de ossos da Frigorifica Prescott, mais precisamente. Queimei as minhas roupas e as dela para que nada me ligasse ao crime, mas me sinto a droga de um psicopata agora.

— Você provavelmente é.

O olhar que Scott lhe lançou em seguida foi estranho, como se ele estivesse concordando com ela.

Então Adams finalmente colocou a camiseta justa e a calça jeans trazidas por Diana, finalmente incomodado pelo frio que não era muito típico de noites Californianas, e pegou uma garrafa de tequila de dentro dos caixotes.

Diana finalmente relaxou. Se ele estava bebendo, então ainda era o Scott. Mesmo que aquele fosse um Scott totalmente ferrado.

— Você vai me contar o que aconteceu? — ela perguntou.

Queime Tudo (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora