1 - O que eu posso fazer é...

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Pego a bicicleta e vou em direção ao endereço, disseram que por eu ser o mais novo faria a entrega e depois podia ir para casa. E eu não ia discutir. Afinal, não posso ter mais problemas.

Checo três vezes para ver se estou no endereço certo, depois de errar uma vez a gente aprende. Toco a companhia.

- ESTÁ ABERTA, ENTRA - Uma voz feminina grita.

Giro a maçaneta e a porta se abre, quem deixa a porta de casa destrancada? Tão fácil de roubar...

Encosto a porta.

- Senhora? - chamo.

- À sua esquerda - ela diz. - Mas não sou senhora.

Viro na direção dita e estou numa sala larga, há somente uma poltrona e várias estantes, algumas com livros, outras não.

Procuro pela dona da voz:

- Senhora?

Ela se levanta de trás de uma pilha de caixas, uma garota mais ou menos da minha idade:

- Olá, já disse que não é senhora - ela finge irritação. - Pode deixar ai se quiser. Eu já pego o dinheiro. Deixa só eu... - ela tenta colocar o livro que está na mão na quinta prateleira, ela fica na ponta dos pés mas não a alcança, então ela pisa na prateleira de baixo.

Consigo imaginá-la caindo e faço uma escolha da qual acho que vou me arrepender:

- Quer ajuda? - pergunto um pouco baixo, na esperança de que ela não ouça, apenas para limpar a consciência.

Ela me olha e sorri:

- Claro que sim - ela pula para o chão.

Coloco a pizza em cima de uma das caixas e vou até ela, não tenho dificuldade para alcançar a prateleira e colocar o livro.

- Tem mais algum? - me arrependo na hora em que pergunto e vejo seu olhos brilharem.

- Tenho sete caixas - ela ri - Mas se me ajudar com uma vou ficar muito feliz.

Eu podia ter dito não e ido embora, mas depois ela sobe numa estante, cai e se machuca... eu ia me sentir culpado.

Porcaria de consciência.

- Uma só? - ela assente. - Ok... - digo suspirando e ela me abraça.

Ela nem percebe que eu não retribui, até porque isso é estranho.

Ela vai tentar arrastar uma das imensas caixas para perto da estante, porém é pesado de mais para ela e quem acaba pegando sou eu.

Tiro um dos livros e vou colocar na estante, mas ela grita:

- NÃO - e com o susto quase deixo o livro cair no meu rosto.

- O que foi? - pergunto irritado quase gritando e ela se encolhe um pouco. - Desculpa - falo baixo.

- Deixe eu limpar primeiro - ela diz um pouco mais baixo do que antes.

Ela pega o livro da minha mão e o folheia umas duas vezes antes de passar um pano. Vejo seus olhos piscarem rápido por causa da poeira que sai.

- Pronto - diz. - Agora não vai amarelar.

Começo a ajudá-la não só a colocar os livros, mas a limpá-los também, porque parece que ela tem alergia a poeira e começou a espirrar feito uma doida.

- Por que não contrata alguém para fazer isso por você? - pergunto quando o clima já está melhor.

- Porque meu dinheiro eu gasto em pizzas - ela sorri.

Forever - KTHOnde as histórias ganham vida. Descobre agora