Capítulo 08 - Camilo - E eu achava que inferno não existia...

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Chego à empresa logo cedo, bem antes do meu horário, mas definitivamente quero conversar com Marina. Entro no elevador e quando as portas já estão quase se fechando escuto uma voz feminina gritar:

- Segura, por favor!

Imediatamente ativo o sensor e impeço que as portas se fechem. Quando ela para diante da porta, vislumbro aquela miragem, tive a certeza de que a sorte voltou para o meu lado.

            - Bom dia, Minha Doçura.– Digo a ela quando entra no elevador.

            - Olá. Bom dia, Senhor Camilo. – depois que as portas se fecham me aproximo para beijá-la, mas ela me vira o rosto.

- Não, aqui não.

- Mas estamos no elevador

- Já ouviu falar em câmeras? – me responde seca.

- Desculpa. Por que você tem me evitado? Fiquei triste por ter me deixado sozinho na cama em pleno domingo, podíamos ter aproveitado o dia. Pra completar não consigo falar com você na segunda e quando te encontro, finalmente, você estava com aquele Bundão! – digo, chateado.

- Primeiro lugar, eu tenho minha ocupações e não prometi passar o domingo com você. Segundo, o Heitor é funcionário desta empresa, alguém com quem posso contar tanto aqui quanto como amigo, então não o xingue. – a minha ardilosa voltou.

- Tá, tá. Desculpa. Não está mais aqui quem falou do Bundão – repito só para provocar – Estou com saudades, não consigo parar de pensar em você. Vamos jantar hoje à noite?

Ela para, fica me olhando e eu tenho a impressão de que as engrenagens na cabeça dela não param. Meio assustado, seguro a sua mão e a acaricio. Ela corresponde brevemente o carinho e solta a minha mão dizendo:

- Camilo, essa semana será bem complicado nos encontrarmos. A mamãe está muito pessimista e combinei com meus irmãos de jantarmos com ela todas as noites dessa semana. Mas, assim que puder irei te avisar e podemos nos encontrar.

Confesso a vocês, não consigo acreditar muito nessa desculpa, acho que a Marina está confusa, deve estar me evitando por estarmos no trabalho. Mas também acho que ela nunca me daria uma resposta que envolvesse a sua família. Se tem algo que aprendi sobre ela foi isso, ela é apaixonada pela família e faria qualquer coisa por eles. Percebo que estamos no andar dela e as portas do elevador já estão se abrindo, achando que ainda tenho tempo digo:

- Qual o número do seu celular?

- Pede a Carla – diz, saindo correndo do elevador e me dando um sorrisinho, que eu considerei bem enigmático, mas acho que foi um sorriso de “quero mais”.

Essa mulher está acabando comigo, acho que estou vendo coisas onde não existe, pior é não enxergar o que existe.

Vou para o meu setor e mal sento na minha mesa e recebo demandas de alguns colegas e coisas a resolver sobre a edição de hoje. Preciso priorizar o trabalho antes de qualquer coisa, afundo-me no serviço, mas volta e meia recordo-me que preciso ligar para a Carla e pedir o telefone da Marina.

Estou meio sem paciência e fui até grosseiro com o estagiário que imprimiu a pauta do jornal completamente fora de ordem, que porra está acontecendo hoje?

Quando dou por mim, já está quase na hora do almoço. Pego meu telefone e ligo para a Carla:

- Bom dia, Carla. É o Camilo, tudo bem?

- Bom dia, Camilo. Posso te ajudar em algo? – nossa, ela continua grosseira.

- A Marina pediu que ligasse para você, para que me passe o número do celular dela. – digo, desconsiderando a forma como ela me trata.

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