Capítulo 7

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O capitulo aborda tema sensível: descrição de uma pessoa sendo queimada viva.

- Você só pode ser retardada mesmo - ouço a voz do espírito. - Não aprendeu com a última vez?

- Apareça - digo. - Para ele também.

- Não fale como se me desse ordens - a porta se fecha.

- Não acha injusto não aparecer e me deixar parecendo uma idiota falando sozinha? - pergunto.

- Ele pode me ouvir - diz do meu lado. - Faz muito tempo que eu não me divirto.

- Johnson - Carlos me chama. - Que merda é essa?

A casa está em chamas novamente.

- Você também está vendo? - pergunto. - O fogo?

- Claro - ele diz. - Vamos sair daqui.

- A porta está trancada - digo.

- Você nem tentou abrir - ele reclama.

- Acha mesmo que ele nos deixaria sair? - pergunto e ele revira os olhos. O fogo já sendo capaz de esquentar e nos deixar sem fôlego.

- Ele ainda está aqui? - olho em volta e o vejo em cima da viga.

- Sim.

- Então faça suas perguntas logo, enquanto eu procuro uma saída.

- YoonGi - chamo.

- Bem lembrado - ele diz aparecendo do meu lado. - Como sabe meu nome, bruxinha? - está cada vez mais quente, mas sei  que é porque ele está brincando com a minha mente.

- Já disse várias vezes, não sou bruxa.

- E como descobriu meu nome?

- Achei umas notícias da época do incêndio. De mil setecentos e não sei quando. Lá dizia seu nome.

Eu sei que não devia tirar a roupa de frio, mas não estou aguentando o calor. Tiro as luvas o gorro e o casaco.

- E por que está aqui? - pergunta irritado.

- E-eu queria saber... por que estava no meio das bruxas quando a prefeitura as queimou?

- Você quer ouvir uma historinha de terror. Você tem certeza? - afirmo com a cabeça e o fogo aumenta.

- JOHNSON - Carlos me grita. - O QUE QUER QUE TENHA FEITO... - sua voz se perde no barulho do fogo corroendo a madeira

- E por que eu deveria contar para você? - YoonGi pergunta.

- E-eu... - ele tem razão. - Talvez você devesse conversar com alguém sobre isso.

- Se eu fosse conversar com alguém não seria com você - fala com desprezo.

- ENTÃO POR QUE ME MOSTROU A MERDA DO INCÊNDIO? - pergunto irritada. - POR QUE NÃO ME MATOU NAQUELE DIA?

- Eu não te mostrei porque quis, e posso te matar agora se você quiser.

- Fique longe dela - ouço Carlos dizer, ele segura um pedaço de madeira que deve ter arrancado de alguma das paredes e sua bastante. Apesar disso aponta para uma direção sem sentido.

- Você ainda não consegue vê-lo, não é? - percebo o óbvio.

- Não - ele diz. - Mas não importa, disse ao seu irmão que iria protegê-la e vou - ele se coloca na minha frente mas sinto YoonGi atrás de mim.

Viro em sua direção, mas ele sumiu. O fogo está ainda mais alto e a fumaça me faz tossir.

- Já que falou no Simon - mudo de assunto drasticamente. - O que a Foxy falou, de ele estar em um lugar melhor, você acredita nisso?

- Você não? - Carlos me pergunta surpreso.

- Não, eu sempre vejo seu espírito no cemitério.

- Os espíritos bons encontram a paz em algum plano diferente deste - diz YoonGi, aparecendo do nosso lado. - Os ruins o tormento, em outro distinto do primeiro - já não está mais lá. - Os que ficam aqui ou tem medo de sair ou estão presos.

- Você... - começo mas ele me interrompe.

- Você queria ouvir uma história de terror, não é mesmo? - sua voz tem um tom sinistro. Baixo e calmo, mas ao mesmo tempo repleto de rancor e ódio. - Pois bem, sente-se - aparece uma cadeira atrás de mim e percebo que Carlos não está mais por perto. Ele aponta novamente para a cadeira e sento, achando que não tem alternativa. - Eu tinha dezoito anos quando vim para essa porcaria de cidade, porque tinha uma das melhores escolas de música na época, tinha me formado a pouco tempo e achei que seria uma boa ideia.

"Mas pelo visto eles não gostavam muito de imigrantes, não fui aceito na escola e não tinha dinheiro para alugar uma casa, mas eu estava bem com isso, independência é tudo" ele debocha. "Até começar o inverno, quando estava tão frio que pensava que até minha circulação congelaria e não duvido que teria acontecido se passasse mais tempo na neve. Eu já tinha vendido tudo com o que cheguei aqui, e tinha certeza que morreria de frio."

"Um grupo de garotos, como esses idiotas do outro dia,  jogavam pedras em mim as vezes, me xingavam... mas eu não me importava, com um bando de m*rdinhas que não tinham mais o que fazer, eu só estava tentando continuar vivo. Foi quando encontrei uma casa, essa mesma casa, que estava tão quente que parecia verão, eu entrei pela janela, roubei um pouco de pão e umas roupas de frio e fiquei perto da lareira. Quando eu ouvi o barulho da porta eu tentei sair por onde entrei, mas eu não consegui. A janela por onde entrei, mesmo aberta, era impossível de atravessar, como se tivesse algo solido impedindo que fizesse. Bom, realmente tinha."

"Pensou mesmo que eu te deixaria ir embora depois de abusar da minha hospitalidade e roubar minha comida e roupas? ela perguntou e eu não respondi, ela não parecia uma bruxa, apenas uma mulher irritada, mas quando vi, meus pulsos estavam presos em correntes grossas, presas ao chão. Você queria ficar nessa casa? Pois bem, nem sua alma vai conseguir sair. Foi o que ela disse. Passei horas tentando me livrar daquilo, mas claro que eu não ia conseguir. Não de um feitiço."

"Dois dias depois descobriram que ela praticava bruxaria, maravilha eu pensei, vão matar essa filha da p*ta. Eu só queria que ela morresse para me livrar daquilo. Apesar de ser melhor do que o frio, não queria morrer acorrentado nesta casa. Mas não foi bem o que aconteceu, não é? A casa toda estava enfeitiçada e a prefeitura descobriu e resolveu queimá-la aqui. Resolveram também que seria melhor aproveitar a oportunidade e matar todas as acusadas. Mais doze bruxas foram jogadas aqui dentro para serem queimadas e quando os guardas me acharam disseram: finalmente esse imbecil vai parar de infernizar as ruas da cidade."

Encaro ele em choque com o peso de suas palavras.

- E a casa pegou fogo, eu assisti as bruxas fazendo um feitiço e logo depois era o único que tinha sobrado. Eu não consegui me soltar das correntes, impedir o fogo ou sobreviver. Já pensou em ser queimada viva? Os gases tóxicos queimando seus pulmões - sinto uma dor absurda no peito e sufoco um grito. - As queimaduras de primeiro, segundo e terceiro grau... - grito com a dor e começo a chorar ao ver meus braços feridos. - Além disso, sentir seu corpo cozinhando de fora para dentro com o calor.

- PARE COM ISSO - grito chorando. - Por favor... pare.

- Mas olha ela implorando - ele debocha. - Isso é para você aprender a não se meter na vida dos outros.

- JOHNSON - Carlos grita.

- CARLOS? - procuro pelo garoto. - O que fez com ele? - pergunto.

- O coloquei para fora. Ele não me interessa.

- E-e eu te interesso? - pergunto assustada.

- Podemos dizer que sim...

The Curses of Schwarzwald Cursed Soul (myg) (CONCLUÍDA) [SENDO REPOSTADA]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora