Prólogo

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Santorini, Grécia

Dez anos atrás

Morreu? — perguntou Scott Scafidi sentando-se no sofá na casa de seus tios.

— Lennon, não se dá uma notícia assim para uma criança de nove anos. — disse a tia do menino, Martina Scafidi, colocando a mão no ombro do rapaz.

Lennon suspirou e olhou para a esposa:

— Eu não poderia enrolar em um assunto como esse, Tina... além do mais, eu já tinha visto muito mais do que ele nos meus nove anos.

Scott não conseguia assimilar a notícia que tinha acabado de receber. Seus pais haviam dito a ele que Scott passaria apenas as férias, nada mais que elas e que quando elas acabassem, viriam buscá-lo para voltarem juntos para casa.

Mentira, mentira... ele gritou consigo mesmo.

Não demorou para as lágrimas começassem a cortar as bochechas pálidas do garoto. Ele cerrou os punhos e encarou o tio, enchendo a boca para gritar:

— Mentira! — se levantou do sofá. — Para de me assustar! Meus pais não vão me deixar aqui!

— Querido, eu sei que é difícil. — a tia o segurava pelos ombros, tentando acalmar o menino, um sorriso doce na face enquanto continuava dizendo: — Mas o tio Lennon e a tia aqui vão cuidar muito bem de você, ok?

— Eu quero meus pais! — Scott voltou a chorar

A mulher olhou para o marido, buscando algum apoio, até que o choro da criança diminuiu por alguns segundos.

— C-como eles morreram? — Scott se afastou do toque da tia e se jogou no sofá, levando os joelhos até o peito, uma maneira de se sentir seguro naquele momento.

— Hã... — Martina tentava encontrar uma maneira de dizer sobre o que tinha acontecido com Tantalo e Natalie, nada tão forte para chocar o sobrinho. Balançou a cabeça e sorriu: — Acho melhor você saber uma outra hora...

— Não enrole, Martina. — Lennon interrompeu a esposa e soltou: — Seus pais morrem em um acidente de helicóptero, eles vinham de Atenas te buscar, mas houve uma falha e... e o helicóptero caiu.

Scott pisca algumas vezes, absorvendo o que acabou de ouvir. Não era uma mentira como queria acreditar... sua mãe nunca tinha mentido para ele sobre quando as pessoas morriam, nunca tinha dito que elas dormiam para sempre (como tinha ouvido o pai de Jerry dizer no colégio em Detroit), Scott Scafidi sabia que quando alguém morria... não tinha volta, não tinha como trazê-los de volta.

Então o garoto voltou a chorar — chorar porque sabia que nunca mais veria os pais, nunca mais os abraçaria ou ganharia um abraço de urso no aniversário...

— Scott. — a voz grave do tio chamou a atenção do garoto, Lennon se curvou em direção ao corpo do garoto no sofá. — Eu sei que é difícil acreditar no que aconteceu, mas... — Lennon suspirou. — Coloque na sua cabeça, nem tudo é o que parece. Pode parecer ser a pior notícia de sua vida hoje, mas pense também que ela serve para te deixar mais forte. Pense em pessoas que não tem o mesmo privilégio que você, que não nascem em uma boa casa com comida na mesa, energia ou uma simples merreca de água para tomar banho. Por isso Scott, escute o meu conselho, você não pode se deixar cair perante ninguém. Você é um Scafidi, lembre-se disso o tempo todo, porque quando você começar a demonstrar suas fraquezas é nesse momento que o inimigo se revela e acaba te dando a maior das rasteiras.

Scott piscou para tio, não tinha prestado atenção em tudo o que Lennon havia dito, mas conforme os anos se passaram ele acabou percebendo que tinha entendido mais do que se lembrava, no fim, Scott Scafidi acabou se fortalecendo sozinho. Não ia brincar com os primos nas tardes ensolaradas, não corria com eles em direção a praia da ilha, não atravessava os corredores da mansão para as noites de festa do pijama, em vez disso, sempre ficava em seu quarto, trancado, estudando, pondo as matérias em dia ou volte e meia com um livro aberto no colo sobre motores e a aerodinâmica dos helicópteros.

Sabia que enquanto os outros perdiam tempo em bobagens, ele adquiria conhecimento... queria entender tudo que tinha rolado, enquanto crescia, a ideia não saia de sua cabeça. Seu pai era um excelente piloto, saberia agir em crise... não é?

É por isso que ele perdia sua adolescência, perdia a oportunidade de criar as mesmas memórias que seus novos colegas de classe criavam, mas ele não estava triste. Demoraria o tempo que fosse, mas ele descobriria alguma coisa.

Qualquer coisa.

* * *

Santorini, Grécia

Duas semanas antes

Scott parou o beijo e olhou nos olhos de Augusto Martinollo no escuro da sala de visita vazia. Sua respiração estava ofegante enquanto seus dedos seguravam o rosto do homem a sua frente. Ele engoliu em seco.

— O que foi? — perguntou Augusto alisando o pescoço de Scott com o dedo.

Os gritos dos primos e convidados vinham através das janelas, Scott sempre gostou de anos novos, da transição entre eles, das festividades...

Ele sorriu e passou um dedo pelos lábios de Augusto.

— Podemos ser pegos. — confessou.

— Essa sensação de podermos ou não ser pegos que faz o tesão aumentar... — Scott sentiu Augusto remexer o quadril, sentiu o volume na calça jeans do rapaz... ele sorriu com a sensação.

— Eu sei que isso é bom. — Scott rebola, fazendo Augusto abrir a boca, então para... sabe que assim vai deixá-lo louco. — Mas nem você e nem eu queremos que as outras pessoas saibam ainda do nosso... hã... dos nossos encontros.

Augusto balança a cabeça devagar enquanto Scott desce de seu colo para a poltrona ao lado, ainda tomando fôlego.

— Acho melhor eu voltar primeiro. — diz Scott olhando em direção as janelas de vidro e as luzes do quintal lá fora. — Finjo que estava no meu quarto, você não pode se atrasar tanto também... a queima de fogos deve ser a qualquer momento.

Augusto volta a balançar a cabeça concordando e antes que Scott o deixe, ele pega o Scafidi pelo braço e gruda os lábios deles por mais poucos segundos. Scott sorri enquanto se afasta, deixando Augusto sentado na poltrona no meio da sala de visitas.

Caminha pela mansão até as portas do fundo, onde respira fundo e ajeita a camisa branca de botões, fechando os que Augusto cismou em abrir. Passa a mão pela boca e sai para o quintal... já pegando a champanhe da bandeja de um garçom que passa ao lado.

Andreas o vê e estreita o olhar em direção ao primo:

— Demorou hein, Scott... tava se pegando com alguém no escurinho né?

— Não fode, Andreas. — ele revirou os olhos e se afastou do primo, indo se sentar numa mesa do outro lado da piscina onde não precisaria conversar com a maior parte das pessoas ali.

Dois goles de champanhe e ele viu Augusto Martinollo saindo da mansão, com um sorriso de orelha a orelha e já agarrando a tia dele pela cintura para uma dança. Se Scott pudesse se enfiaria na terra naquele momento em que via Augusto e Martina Scafidi dançando.

Mas os dois tinham gingado junto, ele não podia mentir. E Scott começou a pensar nesse momento... seus primos tinham aceitado a entrada de Leon Garcia muito bem na família, não fariam escândalo se quisesse apresentar Augusto para eles.

Tudo que vem acontecendo nos últimos meses, suas saídas escondidas, seus amassos casuais no carro, no balcão, na mesa de sinuca... em qualquer lugar em que os dois estejam, ele se sente como no começo de um sonho, enquanto ainda estamos na melhor parte, em que estamos imersos numa realidade que não queremos sair, que não queremos que acabe... pena que estamos falando de um, e quando estamos em um sonho bom sempre acordamos rápido demais — ou se não, quando ele se transforma em um pesadelo.

Seria possível Scott Scafidi saber que seu sonho já estava com os dias contados?

SCOTT #1.5 [DESGUSTAÇÃO] - completo na AMAZONOnde as histórias ganham vida. Descobre agora